Com ocupação de UTI acima dos 100%. Mato Grosso do Sul transfere pacientes para Rondônia e São Paulo

Após um início de ano tenebroso da pandemia de Covid-19 no país, vivemos a ameaça concreta de uma terceira onda que já parece dar os ares pelo Brasil. Isso porque enquanto nos mantemos num patamar elevado dos óbitos na casa de 1,8 mil ao dia, desde o me de abril, os Estados brasileiros enfrentam, novamente, escassez de leitos UTI e filas crescentes por essas vagas em hospitais.

A taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid passa dos 90% em mais oito estados além do Distrito Federal.

Ao menos onze unidades da Federação encontram-se com taxas de ocupação iguais ou superiores a 90%: Tocantins (91%), Ceará (92%), Rio Grande do Norte (99%), Pernambuco (98%), Alagoas (92%), Sergipe (96%), Paraná (95%), Santa Catarina (92%), Mato Grosso (95%), Distrito Federal (95%) e Mato Grosso do Sul (106%).

No caso do Mato Grosso do Sul, onde o colapso do sistema de saúde já é evidente, pacientes passaram a ser transferidos para Rondônia e São Paulo.

O governo sul-mato-grossense encaminhou para hospitais de São Paulo cinco pacientes com Covid que estão em estado grave de saúde. A remoção ocorre por causa das filas por leitos clínicos e de terapia intensiva nos hospitais do estado. No último domingo, o número de pessoas à espera de vagas chegou a 251.

No início do domingo, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) havia informado que seriam enviados apenas três pacientes a São Paulo, porém, horas antes do embarque, definiram que cinco pessoas seriam levadas de Campo Grande para a capital paulista.

Só no mês de junho o estado já registrou 10.834 casos positivos de Covid. As transferências de sul-mato-grossenses para outros estados começaram na quarta-feira (2). Uma paciente de Bonito foi encaminhada para Porto Velho, em Rondônia. O estado havia oferecido 10 leitos de UTI ao governo de Mato Grosso do Sul.

Na sexta-feira (4), mais 7 pacientes de Dourados seguiram para Rondônia, e, no sábado (5), mais um caso grave, desta vez do município de Itaquiraí, foi enviado para o estado, totalizando nove transferências. Os pacientes foram encaminhados para o Hospital Geral Vila Penteado e o Hospital Estadual Metropolitano Santa Cecília.

O secretário estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul, Geraldo Resende, agradeceu o gesto humanitário dos governos de São Paulo e Rondônia. “Seremos eternamente gratos com São Paulo, assim como Rondônia, por essa ajuda tão importante neste momento crítico que Mato Grosso do Sul está enfrentando”, destacou.

Situação do Paraná é crítica

A taxa de ocupação das UTIs Covid no Paraná é de 95% e a fila por uma vaga nesse tipo de leito quadruplicou durante o mês de maio e não dá sinais de queda agora no início de junho.

No começo de maio já havia fila de UTI no sistema de saúde paranaense, mas no início do mês passado, essa fila era de 140 pessoas, hoje são 639. Ou seja, o Paraná está próximo de chegar ao pior momento da pandemia até agora.

O Estado possui uma robusta rede de saúde com 6.113 leitos destinados ao tratamento de pacientes Covid, ainda assim, a fila à espera de um leito no Estado é de 1.167 pessoas (em 07/06/2021). Para se ter uma ideia do avanço da pandemia, em janeiro de 2021, o número de leitos Covid no Paraná era de 2.602 e em julho de 2020, 1.557, segundo o sistema de regulação de leitos da Secretaria Estadual de Saúde.

Na capital, em Curitiba, o número de pessoas que morreram à espera de um leito UTI neste ano já é maior do que os 2019 e 2020 inteiros. Foram 684 que perderam a vida na espera por uma UTI até o fim de março de 2021. Em 2020 foram 640 e 347 em 2019, segundo dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. Só em março, no último auge da pandemia no Paraná, 536 pessoas morreram enquanto aguardavam leito UTI na capital paranaense.

No Rio Grande do Sul, a situação também é grave. A fila praticamente triplicou em maio. Enquanto no dia 4 de maio havia 23 pessoas aguardando um leito de UTI, no dia 31 já eram 58. No Rio Grande do Norte, a lista tinha 93 pessoas, a maioria formada por não idosos. No Rio de Janeiro, o número passou de 49 pacientes em 13 de maio para 93 no dia 31.

Outro problema, é que conseguir a vaga na UTI não garante que o paciente irá sobreviver à Covid-19. Cerca de 80% dos pacientes intubados de fevereiro a dezembro de 2020 acabaram morrendo. A título de comparação, a média mundial é de cerca de 50% de mortalidade.

Especialistas apontam durante a pandemia que as principais causas que levam a este péssimo resultado são a não existência de uma coordenação nacional da pandemia que unifique as técnicas utilizadas, as medidas para a população evitar a infecção pelo novo coronavírus e a baixa vacinação.

A retomada de atividades de maneira precoce, sem o avanço acelerado da vacinação, é uma das causas centrais para o novo aumento de casos de Covid-19 no Brasil, segundo mais recente boletim InfoGripe divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz. “Tal situação manterá o número de hospitalizações e óbitos em patamares altos, com tendência de agravamento nas próximas semanas”, disse no informativo o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes. Das 27 capitais brasileiras, 11 apresentam sinal de crescimento, de acordo com os pesquisadores.

Vacinação deficiente

O país está com apenas 10,6% de sua população vacinada com as duas doses e já estamos com mais de 477 mil mortos. Somos o segundo país do mundo em número de mortos por Covid-19, atrás apenas dos EUA.

A pandemia só começará a ceder quando ao menos 75% da população estiver completamente vacinada.

Quando se avalia a quantidade total de doses, o Brasil aparece tendo aplicado 68,2 milhões de doses, vindo atrás da China, com 681,9 milhões, dos EUA, com 296,4 milhões e da Índia, com 213 milhões de doses aplicadas.

Só que apenas o número absoluto de vacinados não tem significado na luta contra a expansão do vírus. O resultado depende do tamanho do país e da população. Depende do percentual da população que é vacinada. Países com populações pequenas, com menos doses aplicadas em número absoluto, estão muito mais adiantados do que o Brasil na cobertura vacinal de sua gente. É pura demagogia e enganação dizer que o Brasil é o quarto país que mais vacinou no planeta, como fez Bolsonaro.

Este cenário aliado ao fim da maioria das medidas de restrição de circulação ― que Bolsonaro fez questão de atacar o isolamento social no pronunciamento ― mostram que a vacinação em junho deve ser acompanhada por uma severa terceira onda de contágios da doença.