Biden impôs sanções à Rússia que desestabilizam a economia dos EUA

O portal norte-americano The Hill – voltado para o Congresso norte-americano -, afirmou que as sanções antirrussas impostas pelos EUA e aliados fizeram com que Washington e satélites caíssem “em sua própria armadilha”.

Isso porque essas sanções e o conflito na Ucrânia resultaram na alta dos preços de commodities e energia, enquanto a Rússia aumentou suas receitas de petróleo e gás, mesmo com a redução das exportações.

Registrou, ainda, que foram em vão os esforços para excluir a Rússia dos fluxos financeiros globais, uma vez que o rublo se recuperou rapidamente.

No mesmo sentido – as sanções atingindo, como bumerangue, quem as decretou – o jornal alemão Handelblatt advertiu que o embargo ao petróleo russo, em preparação na União Europeia, seria um “experimento com resultados desconhecidos” para a economia europeia.

De acordo com o colunista Klaus Stratmann, “é difícil ameaçar com um boicote quando é evidente que as alternativas não são suficientes”, especialmente no caso da Alemanha.

“Fontes alternativas não estarão disponíveis rápido o suficiente, nos volumes necessários e não terão as características necessárias”, ressaltou.

Para ele, o aumento dos preços mundiais do petróleo será inevitável, e a Rússia poderá até aumentar suas receitas se encontrar rapidamente outros compradores. “É ingênua a esperança de que outros países se abstenham de comprar petróleo russo barato por solidariedade. O embargo do petróleo seria um experimento com resultados desconhecidos”, resumiu Stratmann.

Recentemente, foi exatamente isso que declarou a Secretária do Tesouro norte-americano, Janet Yellen, sobre um embargo total ao petróleo e gás russos. Por sua vez, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, advertiu que as sanções se tornaram em praticamente o “único” instrumento de política externa do ocidente em relação à Rússia.

Em coluna assinada no The Hill, o escritor e geoestrategista Brahma Chellaney assinalou que as sanções ocidentais “sem precedentes” lideradas pelos EUA contra a Rússia, pensadas como “armas econômicas de destruição em massa que acabariam por destruir a economia russa” são como “uma faca de dois gumes – infligem dor à Rússia mas também impõem custos a quem as dita”.

“Ocidente, de fato, está preso em uma armadilha: as sanções e o aprofundamento do conflito, ao ajudar a aumentar os preços globais de commodities e energia, se traduzem em maiores receitas para Moscou, apesar de uma queda significativa em suas exportações. E os preços internacionais mais altos, ao alimentar a inflação, significam problemas políticos internos para aqueles por trás das sanções”, destacou Chellaney.

Ele também apontou o paradoxo entre a “dramática recuperação do rublo” depois da Rússia “ter sido cortada das artérias financeiras do mundo” e a situação do iene japonês, após Tóquio seguir Washington nas sanções, que “caiu para o menor valor em 20 anos em relação ao dólar americano” – “o pior desempenho das 41 moedas rastreadas”

Bumerangue

Chellaney também elencou os “problemas internos” decorrentes das sanções pretendidas incapacitantes para a Rússia, não para quem as aplica: “a inflação descontrolada e as interrupções na cadeia de suprimentos estão ameaçando os lucros das empresas ocidentais” enquanto os “aumentos das taxas de juros para conter a inflação pioram a situação ruim” para os consumidores.

“Abril se tornou o pior mês para Wall Street desde a queda de março de 2020 desencadeada pela pandemia. O S&P 500 caiu 8,8 por cento em abril”, acrescentou.

Ironicamente – aponta The Hill -, nos primeiros dois meses da guerra na Ucrânia, aqueles que impuseram as sanções “ajudaram a Rússia a quase dobrar suas receitas para cerca de € 62 bilhões com a venda de combustíveis fósseis para eles”, de acordo com um relatório de um think tank registrado na Finlândia, o Centro pela Pesquisa em Energia e Ar Limpo.

Com a União Européia (UE) respondendo sozinha “por 71%” das compras de combustíveis russos neste período, as importações da UE de gás, petróleo e carvão da Rússia totalizaram cerca de € 44 bilhões neste período de dois meses, em comparação com cerca de € 140 bilhões em todo o ano de 2021.

Há ainda o fato de que a Rússia é o país mais rico do mundo em recursos naturais, estando entre os maiores exportadores mundiais de gás natural, urânio, níquel, petróleo, carvão, alumínio, cobre, trigo, fertilizantes e metais preciosos como paládio.

“Choque e pavor”

Chellaney enfatizou que o Ocidente procurou desencadear “choque e pavor” na Rússia. Mas, assim como o conflito armado, como ilustra a invasão da Ucrânia pela Rússia, as sanções são imprevisíveis para moldar os resultados e muitas vezes levam “a consequências não intencionais ou indesejáveis” .

Espremer uma grande potência, especialmente uma que tem o maior arsenal de armas nucleares do mundo, com uma série de duras sanções “é perigoso”, especialmente quando armas ocidentais cada vez mais sofisticadas e pesadas chegam à Ucrânia, ele acrescenta.

Para ele, o conflito não é só sobre a Ucrânia, mas “uma Guerra Fria 2.0, tendo a Europa como palco”. A estratégia do presidente Biden de Contenção 2.0 contra Moscou foi projetada para “enredar a Rússia em um atoleiro militar na Ucrânia, desencadear o colapso da economia russa e provocar a derrubada do presidente Vladimir Putin”.

As sanções “funcionam melhor contra Estados pequenos e vulneráveis do que contra Estados grandes ou poderosos”, ponderou o autor, acrescentando que “raramente” produziram mudanças oportunas. “As atuais sanções ocidentais podem levar anos para prejudicar seriamente a economia russa”.

Mas as sanções – acrescentou -, ao sinalizarem “o advento de uma nova era sem o unilateralismo liderado pelos EUA, provavelmente enfraquecerão e, em última análise, até mesmo minarão a arquitetura financeira global controlada pelo Ocidente que elas deveriam defender”.

À medida que o conflito se arrasta e os efeitos bumerangue das sanções aprofundam a crise do custo de vida, as divisões no campo ocidental aumentarão e a “fadiga da Ucrânia” se instalará, sublinhou Chellaney.

“O Ocidente terá pouca escolha a não ser negociar com Putin para encerrar o conflito, como previsto por Javier Solana, ex-chefe da Otan que também atuou como ministro das Relações Exteriores da Espanha. Essas negociações serão vitais para deter a destruição da Ucrânia e evitar que a Europa pague o preço principal”, concluiu.