Presidente do México, López Obrador, na Cúpula de chanceleres da América Latina e Caribe

O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador conclamou pela substituição da Organização dos Estados Americanos (OEA) por um “órgão autônomo, que não seja lacaio de ninguém”, durante a cúpula de chanceleres da América Latina e Caribe, realizada no 238º aniversário do nascimento de Simón Bolívar, na capital do México, no sábado (24).

‘Vamos manter vivo o sonho de integração de Bolívar’, ele acrescentou, instando a uma nova integração política e econômica “apegada à nossa história e identidades”. Um organismo que – destacou – seja “mediador” nos conflitos das nações em matéria de direitos humanos e democracia, mas “a pedido e sob aceitação das partes”.

E que trabalhe pelo fortalecimento do mercado regional, por uma política de investimento e de proteção do meio ambiente.

“Vamos aplicar os princípios da não intervenção, da autodeterminação dos povos e da solução pacífica dos litígios”, enfatizou o presidente mexicano.

“É inaceitável a política dos últimos dois séculos caracterizada por invasões para colocar e destituir governantes por capricho da superpotência. Vamos dizer adeus às imposições, interferências, sanções, exclusões, bloqueios”.

Na cerimônia em homenagem a Bolívar, a cantora Lila Downs emocionou a todos, cantando ‘América Latina’, descrita como “um povo sem pernas que caminha”. No refrão, sob aplausos, ela entoou: “você não pode comprar o vento, você não pode comprar o sol, você não pode comprar a minha alegria”.

López Obrador fez questão de homenagear Cuba, que tem vivido dias difíceis e que, como ressaltou, “há mais de meio século afirma sua independência, confrontando politicamente seu vizinho do norte”.

“Pode-se concordar ou discordar da Revolução Cubana e de seu governo, mas resistir 62 anos sem submissão é uma façanha”, acrescentou.

Ele assinalou que “por sua luta em defesa da soberania de seu país, o povo cubano merece o prêmio de dignidade”. Sob aplausos, apontou que a Ilha, por sua resistência, “deve ser declarada patrimônio mundial”.

Bolívar

O presidente mexicano chamou os países da América Latina e do Caribe a manterem vivo o espírito de Bolívar e sua epopeia pela unidade do continente. Ele lembrou como o Libertador perdeu batalhas, enfrentou traições e divisões internas, que, salientou, “podem ser até mais danosas [à causa da libertação] que as lutas contra os verdadeiros adversários”.

López Obrador insistiu em que, quanto ao relacionamento com os Estados Unidos, deveria se realizar sob a premissa de George Washington, segundo a qual, ‘as nações não devem se aproveitar do infortúnio de outros povos’ e a dos povos latino-americanos e do Caribe de que “não somos um protetorado, uma colônia ou seu quintal”.

Ele lembrou como o México perdeu metade do seu território em 1848 e “desde então, os Estados Unidos não cessaram de realizar operações abertas ou encobertas contra os países independentes localizados ao sul do rio Bravo”, acrescentou.

López Obrador defendeu ainda que “é hora de uma nova convivência porque o modelo imposto há mais de dois séculos pelos Estados Unidos está esgotado e não beneficia ninguém”.

Segundo ele, a recente revisão do acordo de livre-comércio com os EUA e Canadá foi melhor do que o que estava em vigor desde 1994.

Sobre a guerra econômica entre os Estados Unidos e a China, López Obrador se manifestou favorável a um equilíbrio ao invés da insistência na hegemonia, para que a paz e o desenvolvimento sejam preservados. Ele também apelou à eficiência, ao fortalecimento do mercado regional, às políticas de investimento e à proteção do meio ambiente para alcançar o bem-estar da América Latina.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, se referiu à pandemia de Covid-19, que atingiu drasticamente a região. “A grande lição é que se não agirmos juntos, como uma só voz, ninguém vai cuidar de nós, ninguém vai se perguntar: já terá a América Latina as vacinas?”

No início da reunião, um minuto de silêncio foi feito em memória do ex-presidente do Haiti, Jovenel Moise, assassinado em 7 de julho por milicianos colombianos, vários deles treinados por Washington ou com vínculos com FBI e DEA.

Os 32 países da CELAC assinaram acordo formalizando a constituição da Agência Espacial latino-americana. Em setembro, na cúpula de chefes de Estado da CELAC, que ocorrerá na capital mexicana, a presidência da organização passará do México para a Argentina.