O youtuber que chamou Beatles de comunistas volta à Funarte

A secretária especial de Cultura, Regina Duarte, foi desautorizada por Jair Bolsonaro, que
reconduziu o maestro-youtuber Dante Mantovani à presidência da Funarte (Fundação
Nacional de Arte) nesta terça-feira (05).
Mantovani foi exonerado do cargo em março, no mesmo dia que a atriz assumia a Secretaria
especial. Apesar de ter formação de maestro e doutorado em filosofia, a principal atividade de
Mantovani até sua primeira nomeação à Funarte, em dezembro do ano passado, era entreter
um pequeno público em seu canal no Youtube com afirmações lunáticas, conspiratórias e
terraplanistas. Em um dos vídeos, ele associava os Beatles e Elvis Presley ao comunismo e o
rock às drogas, ao aborto e ao satanismo.
“O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto”, diz ele, que se intitula
discípulo de Olavo de Carvalho. “A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito
mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse abertamente, mais de uma vez,
que ele fez um pacto com o diabo, com o satanás para ter fama, sucesso”, continua.
Em outro vídeo, ele diz que a banda inglesa The Beatles “precisava destruir as famílias
americanas porque elas eram a sustentação do capitalismo”, pois estavam a serviço da
implantação do comunismo.
De volta à Funarte, Mantovani disse hoje que suas afirmações foram “descontextualizadas” e
que procurou sua chefe, Regina Duarte, diversas vezes para explicar o episódio. “Eu fui tratado
como louco, retardado, ideológico. Sou um técnico. A arte é técnica”. “E tentei, tentei, tentei.
Durante mais de um mês, procurei ela [Regina], pedi um encontro para explicar que minhas
falas foram descontextualizadas. E nada. Fui impedido de entrar no Palácio do Planalto na
posse dela e exonerado no mesmo dia”, reclamou o youtuber. “Espero que agora ela me
receba. Vamos rezar para que ela me receba”.
Regina Duarte: “não entendi”
A recondução de Mantovani não passou pelo crivo da secretária, que afirmou não ter
entendido a nomeação, embora a Funarte seja órgão vinculado à Cultura. Em uma conversa
com sua assessora divulgada pela revista “Cruzoé”, Regina teria afirmado sobre a nomeação de
Mantovani por Bolsonaro: “Que loucura isso, que loucura. Eu acho que ele [Bolsonaro] está me
dispensando”.
A secretária, que tem sido alvo da chamada “ala ideológica” do governo e constantemente
criticada, inclusive por Bolsonaro, por não estar em Brasília durante a pandemia, chegou hoje à
capital federal na esperança de se reunir com o presidente – mas não será recebida até
amanhã. Bolsonaro negou que existam movimentos para a saída de Duarte, mas episódios
como esse demonstram, no mínimo, uma desconsideração de sua autoridade.