Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira (18), em mais uma de suas transmissões via redes sociais, o seguinte: “Pretendo beneficiar um filho meu, sim”. “Se eu puder dar um filé mignon para o meu filho, eu dou, sim”, acrescentou ao justificar a indicação de Eduardo Bolsonaro para ocupar o posto de embaixador do Brasil em Washington.
Por Luciano Rezende*

Pela milésima vez faço a seguinte pergunta: e se fossem Lula ou Dilma que tivessem indicado um parente qualquer, por mais distante que fosse, a um cargo de quinta categoria da administração pública direta ou indireta quando foram presidentes da República?

Certamente os que hoje defendem o “mito” estariam todos babando pelos cantos da boca, vociferando todo o ódio de classe acumulado ao longo da vida, tomados pela cegueira e pela seletividade na análise típicas dos fanáticos, acusando-os de nepotismo.

Mas como se trata de Bolsonaro, representante mais truculento da classe média reacionária, porta-voz do histórico “cidadão de bem” moralista brasileiro que gosta mesmo é do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, tudo está permitido. Vale tudo no festival de horrores daqueles que ainda acham engraçado a forma tosca como ele trata este e outros assuntos.

Chama atenção ao fato que um dos pilares no discurso dessa gente foi sempre o de acusar os governos petistas de “patrimonialista”. Era muito comum ouvir a expressão chula de que iam “acabar com a mamata”. Iam por fim as “tetas do Estado”. E o que assistimos agora, com o mais “ensurdecedor” silêncio dos bolsonetes? Uma vergonhosa cumplicidade.

De acordo com o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), patrimonialismo constitui uma forma de dominação política na qual não existe diferença entre a esfera pública e a esfera privada. Ou seja, tira-se o filé mignon do público, para encher a barriga do filhinho do papai.

Nada de errado em os pais darem as mordomias que acharem necessárias ao filho. Mas desde que seja com recursos próprios. Usar da influência e o poder de Chefe de Estado, às custas do erário público, é a prática mais repugnante do patrimonialismo que criticavam.

Para Weber, um Estado patrimonial surge quando o governante organiza seu poder político exatamente como exerce seu poder patriarcal – característica compartilhada por vários impérios até a Idade Moderna.

Bolsonaro é assim. Um representante desta sociedade patriarcal doentia. Incapaz de pensar como um Estadista. Daí todo o ódio desta gente à Lula que sempre pecou pelo excesso republicano em que governou um país com fortes vestígios feudais.Resta saber até quando os grandes meios de comunicação serão coniventes com estas aberrações, com o risco de assistirem a desintegração de nossa nação em vários feudos e o patrimonialismo ser superado pela barbárie completa.