O Nordeste e o 15º Congresso do PCdoB
Por João Augusto de Lima Rocha*
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Ano que vem, são 100 anos
Que o Partido vai fazer,
E também tem eleições
Que precisamos vencer,
Pra derrotar os nazistas
Que aqui tomaram o poder
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“Comunista do Brasil”
Tá no nome do Partido,
desde que ele foi criado,
E sempre esteve mantido,
Mas PCB foi a sigla,
Até ser reconstruído.
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Hoje a principal tarefa
É encarar o desafio
De por Bolsonaro fora,
Unindo todo o Brasil,
Pois foi a sua inépcia
Que matou 600 mil.
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Lembro que nossa estratégia
Exige a revolução,
Rumo ao socialismo,
Que é a única solução,
Pra por fim às injustiças
E acabar com a exploração.
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No 15º Congresso
Que o Partido agora faz,
Neste difícil momento
Que o mundo luta por paz,
Nossa Região Nordeste
Aqui fala pras demais.
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Do que há em nosso Nordeste
Agora vamos falar,
Exaltando suas lutas
E a cultura popular,
Que faz o sangue vermelho
Forte no corpo pulsar.
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Muitos foram os movimentos
Ao longo de nossa história,
Ocorridos no Nordeste,
Que perseguiram a vitória,
Contra a colonização
E a escravidão inglória:
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A Revolução dos Búzios,
Depois a Pernambucana,
Confederação do Equador,
E a grande luta baiana,
Pra selar a independência,
Que o Dois de Julho proclama.
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No Maranhão, os Balaios,
Longa revolta fizeram
Na qual até as guerrilhas
Para a luta eles trouxeram,
Já os Malês, na Bahia,
A escravidão expuseram.
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Revolta que, no Nordeste,
Tem caráter singular,
É a Guerra de Canudos,
Na República, a começar,
Quando o Exército perdeu
Três vezes, até ganhar.
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Foi Antonio Conselheiro,
Quem camponeses juntou,
Pra rezar e produzir,
Sem ter patrão ou senhor,
E só com o Exército todo,
O governo o derrotou.
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Foram muitos que tombaram,
Em nome da liberdade,
E na luta ensinaram
A grandiosa verdade:
Que o Nordeste continue
A preservar a unidade.
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A cultura nordestina,
De imensa diversidade,
Faz com que o povo se apegue
À terra, com bem vontade,
De modo que quem sai dela,
Fica com forte saudade!
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Amo os versos de cordel
E louvo a xilogravura
Que aparece nos folhetos
Da bela literatura;
Também louvo os repentistas,
Que cantam a poesia pura.
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Um autor que aqui destaco,
É o cordelista maior,
Leandro Gomes de Barros,
Que apanhou de fazer dó
Da polícia, em Pernambuco,
E logo após, morreu só.
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Nascido na Paraíba,
Morreu aos 52;
Drummond o admirava,
E o nomeou, bem depois,
Nosso verdadeiro príncipe
dos poetas, que compôs:
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“Nós temos cinco governos
O primeiro, o Federal,
O segundo o do Estado,
O terceiro, o municipal,
O quarto é a palmatória
E o quinto, o velho punhal”.
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Na música, Luiz Gonzaga,
Com sua voz dignifica
Toda a arte nordestina,
De modo que o freguês fica
De cara logo animado,
Se sua sanfona pinica.
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Dorival Caymmi é outro,
E também lembro Elomar,
Que encarnaram em si
A música de seu lugar,
E João Gilberto, o completo,
Que brilha em todo lugar.
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É recheado de arte
Todo o fazer nordestino,
Desde o aboio do gado
À arte de Vitalino
Cujos bonecos de barro
Cada vez mais tão saíno.
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Lembro o tambor de crioula,
Maracatu, frevo, reis,
Maculelê, capoeira,
E depois digo mais seis:
Torém, forró e ciranda,
Marujada, e faltam três:
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Cavalo piancó e coco,
Por fim o samba de roda,
Que com o bumba meu boi,
Em todo o Brasil são moda,
Pois grande é a variedade
Que seu fazer acomoda.
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Na culinária, o Nordeste,
Faz a junção genial,
Da indígena e a africana
Com a tradição local,
E inda junta a influência
Que vem lá de Portugal.
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Na indumentária, também,
O Nordeste é original,
Em que Lampião, no couro,
Deixou marca sem igual,
Conferindo à Região
Identidade visual.
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Junto a Maria Bonita,
Lampião desafiou
O poder constituído,
Que muita tortura usou
Contra quem lhe dava apoio,
No tempo em que ele aprontou.
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Devido à seca inclemente,
O nordestino emigrava,
Buscando trabalho e renda,
Para ajudar quem ficava,
Mas Lula muda a política,
E o Nordeste destrava.
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Lula foi um retirante
Que saiu num pau de arara,
Indo morar em São Paulo,
Com a coragem e a cara,
E quando na Presidência,
O Brasil foi jóia rara.
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No cinema brasileiro
O Nordeste faz figura,
Com o baiano Glauber Rocha
Dominando essa cultura;
Ceará e Pernambuco,
Nisso tem hoje estrutura.
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O Ceará se desponta
Acelerado, no humor,
Com nomes nacionais
Que o Brasil consagrou,
Sendo o grande Chico Anísio
Aquele que mais brilhou.
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Na música, Caetano e Gil
Despontaram na Bahia,
Torquato, no Piauí:
A Tropicália os unia;
Djavan, nas Alagoas,
Belas canções produzia.
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Suassuna, em Pernambuco,
Criou o Armorial,
Movimento nordestino
De caráter bem geral,
Que muito valorizou
O criar regional.
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Vindo desse movimento,
E honrando a tradição,
Musical de Pernambuco
Que nos dá grande emoção,
Temos Antonio da Nóbrega,
Com bela e múltipla expressão.
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Entre a poesia e a música,
Vindo lá do Assaré,
Há o imenso Patativa
Que no Nordeste tem fé;
E ainda, do Ceará
O grande Belchior é.
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Começou na Paraíba
A nossa xilogravura,
Lá na Serra dos Teixeira,
Terra da poesia pura,
Que foi berço do cordel
Desde a capa à estrutura.
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Pernambuco projetou
Grandes nomes nessa arte,
O maior, que está vivo
E expõe por toda parte,
É o universal Jota Borges,
Que o Nordeste comparte.
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Agora eu vou lembrar
Nomes de revolucionários
Que o Nordeste projetou
Para um maior cenário,
Na cultura e na política
Do pelejar proletário.
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Começo com o Rei Zumbi,
Do Quilombo dos Palmares,
No Estado de Alagoas,
Que aos escravos deu lares,
Mediante renhida luta,
Com princípios militares.
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Lembro e reverencio
Dandara, a companheira
de Zumbi, com quem forjou
A estrada verdadeira
Pra extinguir a escravidão
E sua herança trapaceira.
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Uma luta valorosa
Que agora vou resssaltar,
Foi a da escola pública
Em que um baiano exemplar,
De nome Anísio Teixeira
No Brasil veio liderar.
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Tio de Haroldo Lima,
Que todos sabem quem é,
Anísio foi quem lhe deu,
Na casa de Caetité,
Os primeiros rudimentos
Do que a política requer.
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Formado em Engenharia,
Haroldo participou
Da criação da Coelba
Que a Bahia energizou,
Depois, no PcdoB,
Grande legado deixou.
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Em Pernambuco, dois Freires
Um com y outro com i,
Projetaram o Nordeste
Para bem longe daqui;
Um, Gilberto, o outro Paulo,
Com cada qual de per si.
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No ano 46,
Dos anos 1900,
Os comunistas marcaram
Alguns muito belos tentos,
Elegendo deputados
Pra o nosso parlamento.
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Era o tempo do Pós-Guerra
E, derrotado o nazismo,
O Estado Novo cai,
Legal fica o comunismo,
Que vai pra Constituinte,
Com grande força e otimismo.
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Quatorze foram os eleitos,
E mais o senador Prestes;
Fazendo grande figura,
Nossa Região Nordeste
Conseguiu eleger quatro,
Mediante esforço inconteste.
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Um deles foi Jorge Amado,
Outro, Carlos Marighella,
Com mais Gregório Bezerra,
E o quarto que se revela:
Maurício Grabois, o herói
Que o Araguaia desvela.
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No Araguaia, o Partido
A guerrilha organizou,
Militar e politicamente,
A ditadura enfrentou,
Cumprindo a dura missão
Que honra a quem nela entrou.
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Muitos heróis lá lutaram
Visando a organizar
O povo, politicamente,
Para poder derrotar
A ditadura fascista
Que derrubou João Goulart.
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Alguns dos que lá morreram,
Pelas mãos da ditadura
Eram aqui do Nordeste,
Com formação e estrutura
Para essa missão política
De enorme envergadura.
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Em favor dos proletários,
Que sofrem vãs privações,
O PCdoB é o canal
Para promover ações
Que não só conquiste ganhos,
Mas impeça reversões.
Salvador, 13 de outubro de 2021
*João Augusto Lima Rocha é professor, cordelista e estudioso da vida e da obra de Anísio Teixeira.