O legado de esperança de Mayada Abassi, guardiã da chama palestina
“As mulheres são as guardiãs da chama palestina”, afirmou a ex-vice-presidente da Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM), Mayada Abassi, em entrevista concedida ao jornal L’Humanité, em abril de 1994, referindo-se ao papel das mulheres palestinas desde os embates por libertação da condição de protetorado inglês, nos anos 1920, na luta contra a ocupação e expulsão de centenas de milhares de palestinos de sua terra natal em 1948, até os dias de hoje, passando pela Intifada, a revolução palestina contra a ocupação, como relatou naquela entrevista e em todas as ocasiões em que se posicionou pela causa de seu povo.
Mayada, que nasceu na cidade palestina de Jafa, cidade portuária e capital dos laranjais palestinos, a qual teve que deixar durante a implantação do Estado de Israel em 1948, para passar pelo Egito e Jordânia até encontrar refúgio no Libano, faleceu nesta terça-feira (15). Ela, que afirmava levar sempre consigo uma porção de terra da cidade onde nasceu foi, das guardiãs, uma das mais destacadas.
“Mayada foi uma guerreira, dedicou sua vida, toda sua emoção, seu compromisso à luta pela libertação da Palestina”, afirmou Márcia Campos, que presidiu a FDIM tendo como vice-presidente a líder palestina.
“Mayada foi vice-presidente da FDIM por vinte anos, foi embaixadora da Palestina no Brasil e em outros cinco países e atuou ao lado de Yasser Arafat como deputada no Conselho Legislativo Palestino, principal órgão parlamentar, vinculado à Organização de Libertação da Palestina (OLP)”, relata Márcia.
“Mayada nos deixou um legado de esperança, de confiança, determinação e certeza de que lutar por aquilo que é justo – em especial para nossa libertação do imperialismo e do fascismo onde quer que tentem se impor aos povos – expressa o melhor de cada um e cada uma de nós”, prosseguiu Márcia.
“Vai nos fazer muita falta, mas fica a lembrança e a alegria de ter podido conviver com ela, com sua força, de lutar a seu lado, de acreditar, com ela, na força dos povos”, acrescentou a presidente da FDIM. “Foi uma destacada representante da força e da alegria das mulheres em todas as partes do mundo. Levaremos conosco desfraldada a bandeira que você hasteou”, concluiu.
Ela repousa no Senegal ao lado de seus entes queridos, o falecido esposo, Said Abassi, embaixador da Palestina em 33 países, e de sua filha Silwan, que atuou no escritório palestino na Unesco, falecida cinco meses antes da mãe.
A ex-presidente da FDIM, Jan Silvie, que antecedeu Márcia Campos e também teve Mayada como vice, destacou o sorriso de Mayada e sua firmeza e tranquilidade nos debates, mesmo quando expressava pontos de vista discordantes de outras companheiras, mas sem perder de vista a unidade na luta.
Na homenagem da Federação Árabe Palestina do Brasil, Fepal, a vice-presidenta, Fatima Ali, citou a poeta Cora Coralina:
Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores.