O governador sem votos
O golpe que levou Temer ao governo central acabou criando uma nova categoria no mundo da política: os governantes sem votos.
Por Eron Bezerra*
Esse fenômeno, por outros meios, acaba de se repetir no Amazonas, com a eleição de Amazonino Mendes que se elegeu com apenas 33% dos votos do estado. A eleição suplementar desse domingo decorreu da cassação, por compra de votos, do então governador José Melo (PROS).
Amazonino, quando foi governador, se notabilizou por ter sido o governador do Norte que coordenou a compra de votos de parlamentares para votar na reeleição de FHC e por ter aplicado um conjunto de medidas privativas e de desmonte do serviço público.
Dentre estas medidas estão a privatização do Banco do Estado (BEA), da companhia de agua (Cosama) e do porto de Manaus, além de ter extinto a Secretaria de Produção Rural e a polícia civil do estado.
Como prefeito de Manaus (2009-2012) foi tão mal avaliado que não pôde concorrer a sua própria reeleição. Nesse período se notabilizou por mandar, aos berros, uma senhora humilde morrer, diante da teimosia da popular em permanecer numa ocupação precária.
Como esses fatos são relativamente recentes, é plausível admitir que as pessoas lembram perfeitamente, o que não lhes impediu de votarem nele para ser governador pela 4ª vez. Mas, por outro lado, explicam porque ele teve apenas 33% do eleitorado a seu favor.
De um eleitorado de 2.338.886 pessoas, Amazonino obteve 782.933 votos (33,47%) e Eduardo Braga ficou com 539.318 votos (23,06%). O grande vitorioso foi a somatória de abstenção, branco e nulo, que totalizou 1.016.635 votos (43,47%).
Mas a estatística tem dessas coisas. Permite que uma derrota seja apresentada como vitória ou uma vitória como derrota, a depender da forma como se manuseei esses dados.
O que o TRE divulga é o percentual obtido pelos candidatos apenas dos votos válidos e, nesse caso, os percentuais ficam obviamente inflados.
Sua vitória, portanto, talvez decorra do fato de que a população não conseguiu enxergar uma alternativa plausível na disputa que acaba de se encerrar.
Tudo indica que a criminalização da política cobrou e vai cobrar ainda mais seu preço. O primeiro preço é o reforço a política de Temer, cujos apoiadores estavam, no geral, dando sustentação a Amazonino. Não por acaso o primeiro compromisso do governador eleito é uma audiência com Temer.
* Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.