“O golpe atinge Roda Viva”, por Carlin Moura
O golpe já faz estrago na TV pública e no mais conceituado programa de entrevistas do País. Infelizmente segunda-feira (25/6) o que era para ser uma oportunidade para se apresentar as propostas da pré-candidata do PCdoB Manuela d’Ávila à Presidência da República se transformou em um bizarro episódio no programa Roda Viva.
Por Carlin Moura*
Os entrevistadores destilaram ódio a esquerda, se mostraram desonestos intelectualmente, não quiseram debater as propostas da Manuela, simplesmente a agrediram com questões sobre eventos do século passado em que nada competem com o tema da entrevista e descolados da nossa realidade atual.
O show de horrores e machismo interrompeu a fala da entrevistada cerca de 60 vezes, 8 vezes mais do que quando um pré-candidato homem esteve sentado na mesma cadeira.
A organização do programa teve a coragem de colocar na bancada um coordenador de campanha do Bolsonaro, que afirmou que o fascismo italiano e o nazismo alemão foram regimes de esquerda, agredindo a inteligência de qualquer um minimamente familiarizado com a história.
A jornalista do Estadão Vera Magalhães ao questionar sobre Lula (claro, o ex-presidente, preso político há 80 dias, continua sendo o maior medo da direita e da imprensa que os apoiam), afirmou que o pré-candidato Petista havia sido condenado em todas instâncias, Informação falsa já que a defesa de Lula ainda não esgotou seus recursos no STJ e no STF.
A pseudo entrevista de ontem nos mostrou como é necessária uma candidatura jovem de esquerda e feminista, como incomoda uma mulher inteligente, progressista que não tem medo de defender suas ideias e suas posições mesmo diante de uma situação tão adversa e constrangedora.
Manuela saiu sem dúvidas maior do que entrou quando sentou diante de seus algozes. Todas as lideranças políticas progressistas prestaram solidariedade a pré-candidata do PCdoB pelo episódio vergonhoso ao qual foi submetida. Quem perdeu foi o jornalismo da TV Cultura que já protagonizou grandes debates e agora foi seduzido pela mosca do fascismo e tem se tornado um braço de comunicação dos neoliberais de São Paulo.
A esquerda devia aprender com isto, ver quão importantes são suas pré-candidaturas e construir uma frente ampla que abrigue todas essas ideias e possa derrotar o avanço do fascismo juntamente com o neoliberalismo.
Manuela, o pouco que conseguiu falar, enfatizou que a prioridade da estratégia política do PCdoB é conseguir vencer as eleições, retomar um projeto nacional de desenvolvimento que possa fazer o país crescer, fortalecer suas industrias, e redistribuir renda com fortalecimento dos programas de proteção social.
Tributar mais herança e grandes fortunas, reformar o sistema tributário em busca de uma tributação justa e progressiva, que penalize menos os pobres e onere mais os ricos que podem arcar com um maior financiamento do Estado.
Revogar o pacote de maldades do governo Temer como a reforma trabalhista, a PEC 95 dos gastos públicos. Defender a soberania da Petrobras, e uma estatal pública a serviço do povo e de seu desenvolvimento.
Mas para tudo isso é preciso uma aliança, uma frente ampla de centro esquerda que passe por PT/PDT/PCdoB/PSB/PSOL. O caminho é a confluência dos interesses que unem essas forças no mesmo campo político.
É urgente pensarmos tudo isso, Manuela fez de novo reacender o debate, reacender as ideias, mostrar a sociedade doente que estão querendo nos impor tentando calar a sua voz, nossa voz. Não vamos deixar que isso aconteça.
*Jornalista, advogado, ex-prefeito de Contagem (MG) e pré-candidato a deputado federal pelo PCdoB.