Incomodado com sinais de fragilidade política, o prefeito do Rio Marcelo Crivella buscou um velho aliado no início deste ano: o ex-deputado federal Rodrigo Bethlem, seu estrategista político nas eleições de 2016. Com Bethlem, ganhou corpo a tática de navegar sobre os problemas locais com auxílio de uma onda conservadora mais ampla, vista como motor das vitórias do governador Wilson Witzel e do presidente Jair Bolsonaro. Seis meses depois, a estratégia dá sinais de esgotamento.

Rejeitado por 72% dos cariocas, segundo a pesquisa Datafolha divulgada no domingo (15), o prefeito do Rio não conseguiu apoio explícito de Bolsonaro. E Bethlem, o capitão da bolsonarização, dá sinais de que pode até pular do barco antes da disputa de 2020, segundo interlocutores do prefeito ouvidos pela revista Época.

Embora tivesse em comum com Crivella a antipatia pelo ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, de quem foi secretário de Ordem Pública – e por quem foi renegado após denúncias de recolhimento de propina de ONGs na prefeitura –, Bethlem acabou afastado após a vitória em 2016. Aterrissou como marqueteiro da frustrada campanha do senador Romário (Podemos-RJ) ao governo do Rio em 2018, quando a ascensão meteórica de Witzel a reboque do bolsonarismo tirou o ex-jogador do segundo turno.

Ao se reaproximar de Crivella neste ano – ambos moram no mesmo condomínio, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio –, Bethlem passou a estimular o prefeito a unificar o campo conservador. Parte da estratégia envolvia atrair a simpatia de Witzel e Bolsonaro para garantir, se não o apoio, ao menos a neutralidade de ambos na disputa do Rio. Em um movimento surpreendente de aproximação com Witzel, com quem Crivella trocava farpas desde o início do mandato, Bethlem se encarregou pessoalmente de negociar os termos da cessão do Sambódromo ao estado.

O acordo, que seria oficializado no início de novembro, foi cancelado pelo próprio Crivella de última hora – dias depois da reportagem do Jornal Nacional sobre a citação à casa de Bolsonaro nas investigações do caso Marielle, o que acelerou o rompimento do presidente com Witzel.

“O prefeito alegou que não queria ser vaiado pelas escolas de samba, que estariam presentes na solenidade. Depois, veio com a notícia de que conseguiu apoio do Ministério do Turismo para fazer a reforma do Sambódromo”, lembrou o secretário estadual da Casa Civil André Moura.

Mesmo sem fazer parte da interlocução direta com Bolsonaro, tarefa que cabe ao secretário de Ordem Pública Gutemberg de Paula Fonseca, Bethlem foi um dos entusiastas da nacionalização da campanha, incluindo a tentativa de fazer o presidente indicar um vice à chapa de Crivella em 2020. O nome do deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), braço-direito de Bolsonaro, foi o mais trazido à roda.

Apostar todas as fichas em Bolsonaro ainda não trouxe, porém, um saldo eleitoral palpável para Crivella. No domingo, o presidente evitou se comprometer com o prefeito. De acordo com o Datafolha, Crivella é mais votado (18%) entre eleitores que aprovam o governo Witzel do que entre os fiéis ao presidente (16%).

A dificuldade em fazer o marketing político encobrir deficiências na administração municipal, como a crise na Saúde, também já produziu desgaste entre marqueteiro e prefeito. Segundo o relato de um interlocutor ao jornal O Globo, não há garantias nos dois lados de que a parceria continuará até a eleição.

Tanto aliados quanto opositores de Crivella enxergam as digitais do marqueteiro nas decisões mais polêmicas do prefeito. O embate com a concessionária da Linha Amarela, por exemplo, foi defendido abertamente pelo estrategista, que pouco costuma sair dos bastidores. A ação dividiu os cariocas, segundo o Datafolha: 71% aprovaram a suspensão do pedágio, mas 55% reprovaram a destruição da praça do pedágio.

Já o recolhimento de gibis na Bienal sob a alegação de que teriam “conteúdo sexual impróprio” para menores, embora sem o mesmo endosso público de Bethlem, é considerado um dos acenos mais explícitos de Crivella ao eleitorado mais conservador. Segundo a pesquisa Datafolha, apesar de ficar em terceiro no ranking geral de pré-candidatos no Rio, Crivella disputa voto a voto com o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) a liderança entre os eleitores evangélicos. Neste grupo, quase 70% dos entrevistados concordaram com a ação na Bienal, de acordo com a pesquisa.

Com informações da Época

Edição: André Cintra