A Pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira (28) aponta mais uma vez o fenômeno essencial do cenário pré-eleitoral, que alguns analistas ainda teimam em considerar como descartável: a consistente liderança do presidente Lula.

Por José Reinaldo Carvalho*

Com esta, outras verdades emergem cristalinamente.

O vazio aberto pela ausência de Lula da eleição, por força de uma arbitrariedade, o prolongamento de sua prisão e a eventual interdição de sua candidatura pela Justiça Eleitoral, como parte do golpe continuado, não é preenchido por nenhum outro candidato que possa apresentar-se em nome da esquerda e centro esquerda. Destarte, a tendência à dispersão se agrava e se acentua a hipótese de as eleições serem realizadas em clima de frustração e desinteresse de numerosa fatia do eleitorado.

A leitura política é insofismável. Sem Lula, a eleição será não apenas uma rematada fraude, mas também uma comédia de erros, uma dessas óperas bufas que conferirá a mesma legitimidade de Temer ao próximo presidente “eleito”.

O cenário revelado pela pesquisa cristaliza o impasse político a que a cúpula do regime golpista está conduzindo a nação.

Não há nem haverá saída política que resgate a democracia se o círculo de ferro imposto pelos golpistas não for rompido. Os que comandam as instituições de poder, o Executivo, o Congresso, o Supremo, tudo, para usar a expressão de um dos farsantes no exercício de posto de comando do regime golpista, serão responsabilizados – e em algum momento terão que render contas – pela liquidação da democracia no país e a obstrução do processo eleitoral.

Não será escamoteando esta realidade, como querem alguns ao transferir para a esquerda o ônus de “interditar” o debate e os entendimentos sobre as saídas políticas, que se chegará a alguma solução para o impasse atual.

Nem terá serventia qualquer alquimia preparada entre o Palácio do Jaburu, a presidência da Câmara, os emplumados tucanos e titulares de governos estaduais que se pretendem porta-vozes da esquerda e centro-esquerda, visando a soerguer uma frente ampla “fake”, envolvendo setores da centro-esquerda e da direita. Isto não só não resolveria a crise política e institucional do país, como resultaria em um resultado eleitoral também falseado.

A frente ampla, indispensável à luta contra os inimigos da democracia, da soberania nacional e do progresso social, portadora de um programa de convergência em torno de bandeiras viáveis, só terá autenticidade e exequibilidade partindo de um núcleo de esquerda e da liderança do presidente Lula, sendo ou não candidato.

A propósito, nunca é demais reiterar, é irrenunciável o dever de lutar inconciliavelmente, contra o prolongamento da prisão de Lula, sua interdição como candidato e todas as demais medidas arbitrárias e antidemocráticas do golpe continuado, que segue seu curso.

*José Reinaldo Carvalho é jornalista, pós-graduado em Política e Relações Internacionais, e secretário de Política e Relações Internacionais do PCdoB