Os resultados do primeiro turno das eleições municipais, divulgados neste domingo (15), apontam um deslocamento do eleitorado em direção à política mais tradicional, analisa o sociólogo Clemente Ganz Lúcio. Para Clemente, houve “descontinuidade” da onda bolsonarista registrada nas eleições presidenciais de 2018.

“Havia um grande temor de que aquele movimento [bolsonarista] tivesse uma grande expressão [nas eleições municipais] e a própria sociedade não recepcionou esse tipo de conduta, mas recepcionou um deslocamento para a política mais tradicional”, avalia.

Ele já vê o campo do centro como o mais beneficiado pelos resultados que saíram das urnas, apesar de muitos municípios ainda terem o segundo turno pela frente.

“Mas o conjunto da esquerda, PCdoB, PT, PSOL conseguem certo protagonismo eleitoral, manter prefeituras, fazer uma vereança importante. De alguma maneira, o campo democrático respira”, comenta.

Segundo o sociólogo, o DEM, que levou três capitais em primeiro turno, recebeu votos que tradicionalmente seriam do PSDB e MDB. “O DEM está se colocando como esse partido de centro-direita, papel que o MDB cumpriu”, acredita. Para Ganz Lúcio, houve perda de espaço tanto do PSDB quanto do PT, que não mantiveram a dinâmica de polarização dos últimos 20 anos.

Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que o DEM, que ganhou 458 prefeituras, 190 a mais do que em 2016, crescimento de 70,9%. O PP foi o segundo partido que mais cresceu, somando agora 672 prefeituras, 177 ou 35,8% a mais do que há quatro anos. Por fim, o PSD passou de 539 prefeituras em 2016 para 640 em 2020, crescimento de 18,7%.

O PSDB encolheu 37,7% de 799 para 497 prefeituras, e o MDB, 26,6%, de 1.044 para 766 prefeituras. O PT passou de 254 prefeituras, em 2016, para 189 em 2020, 25,5% a menos.

Mensagens

Com relação às mensagens que os resultados trazem para 2022, Ganz Lúcio afirma que houve a sinalização de que há uma parcela relevante da sociedade receptiva às pautas de esquerda, com destaque para as pautas identitárias, com a eleição de pessoas trans para as câmaras municipais.

Outra lição, ele afirma, é a necessidade de unidade, o que, em sua avaliação, poderia ter garantido a presença do campo progressista no segundo turno do Rio de Janeiro, que será disputado por Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos), apoiado por Bolsonaro.

“Para enfrentar uma adversidade como é a do governo Bolsonaro, é preciso um tipo de unidade que tem que ser construída. É provável que, se a gente tivesse unidade no Rio de Janeiro, não seria o Crivella no segundo turno. Agora, é dificílima de ser construída, dada a nossa institucionalidade. A gente não é como os Estados Unidos, onde, após a disputa das primárias, tem um candidato único. Mas, se quisermos ter condições de enfrentamento [ao bolsonarismo], é necessário”, avalia.