Soldados ucranianos se rendem diante da siderúrgica Azovstal, a imagem da libertação de Mariupol

Está ruindo a unidade entre os países europeus e os Estados Unidos sobre a guerra na Ucrânia e sobre os objetivos que visam atingir instrumentalizando o Exército de Zelensky, apontou o New York Times.

Enquanto alguns, mais descolados da realidade, querem um maior “esforço de guerra” para expulsar os russos de dentro da Ucrânia e ensiná-los a nunca mais afrontar a Otan, outros já admitem que a Ucrânia não mais controlará o Donbass.

O jornal estadunidense e pró-Otan, New York Times, afirmou que depois de três meses de guerra e “um fluxo de armas letais para mãos ucranianas e uma ampla gama de sanções financeiras”, “as fissuras emergentes sobre o que fazer a seguir são notáveis”.

Durante o Fórum Econômico de Davos, o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, também admitiu que a Ucrânia deve abrir mão de parte dos territórios que estão em guerra civil desde 2014. “Seguir a guerra além desse ponto não seria sobre a liberdade da Ucrânia, mas uma nova guerra contra a própria Rússia”, obviedade até aqui escondida com o maior zelo desde personalidades até a mídia norte-americana.

O governo dos Estados Unidos, segundo o jornal, via “uma chance de punir a agressão russa, enfraquecer Putin, fortalecer a Otan e a aliança transatlântica e enviar uma mensagem à China também”, mas utilizando o soldados ucranianos como bucha de canhão.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky se lamentou de ouvir Henry Kissinger admitir o óbvio e cada vez mais visível, mas “em vários momentos, expressou opiniões contraditórias sobre o que seria necessário para acabar com a guerra, chegando até a se oferecer para comprometer seu país com a ‘neutralidade’ em vez de aspirar a se juntar à Otan”.

As declarações Zelensky, ao mesmo tempo em que diz querer tratar da paz “direto com Putin” mostram o ex-comediante com controle cada vez menor da situação, particularmente diante do avanço das tropas russas e das Repúblicas de Lugansk e Donetsk no Donbass, conquistando posições estratégicas.

A Estônia e a Polônia acusam Vladimir Putin de ser um criminoso de guerra e pedem mais sanções contra a Rússia e mais armas para a Ucrânia. Por outro lado, a Alemanha, França e Itália se preocupam com os efeitos da guerra e das sanções em suas próprias economias.

A Itália propôs um cessar-fogo e Emmanuel Macron, presidente da França, já fala que a Ucrânia terá que abrir mão dos territórios de Lugansk e Donetsk, quase todo controlados, hoje, por grupos autonomistas.

Quanto às sanções, a União Europeia conseguiu consenso para aprovar os cinco primeiros pacotes de sanções, mas a Hungria recusou e vetou o mais recente, que bloquearia o petróleo russo, fundamental para a sobrevivência econômica húngara. Ao mesmo tempo, diversos países europeus pararam de fingir que vão cortar as importações de gás natural russo, do qual são dependentes e suas empresas já se submetem à determinação da Rússia e compram o gás russo em rublos através do banco também russo: o Gazprobank.

O NYT afirmou que “no momento em que os EUA se referem à Rússia como um Estado pária que precisa ser isolado da economia mundial, outros, principalmente na Europa, estão alertando para os perigos de isolar e humilhar Putin”.

Em meio a esse fogo cruzado, a embaixadora dos EUA na Otan e ex-assessora de segurança nacional de Biden, Julianne Smith, seguiu dizendo que seu país quer “ver uma derrota estratégica da Rússia”, anseio hegemonista norte-americano que parece cada vez mais inexequível.