Plano de combate à Covid de Arden incluiu testagem, rastreamento e isolamento de infectados | Foto: Stringer/Reuters

A premiê da Nova Zelândia, Jacinda Arden, foi reconduzida à direção do país no sábado (17). Com a vitória, a trabalhista foi reeleita premiê com 49% dos votos enquanto que sua opositora, Judith Collins, do partido Nacional ficou com 27%. Nas eleições parlamentares, a expectativa, no domingo, era de que o partido de Ardern estabeleça maioria com 64 das 120 cadeiras do parlamento neozelandês.

A ex-primeira-ministra trabalhista, Helen Clark, saudou a vitória destacando o trabalho “extraordinário” de Ardern.

O principal feito, que foi definidor para a vitória de Ardern, foi a capacidade de unir o povo em torno das recomendações dos cientistas locais e, com isso, conseguir fazer da Nova Zelândia um dos mais vitoriosos países na luta contra a pandemia do Covid-19.

Quando, em 8 de junho, a Nova Zelândia foi denominada livre da pandemia, tinham ocorrido 1.154 casos e 22 mortes desde o primeiro infectado e, com isso, se pôde retomar as atividades econômicas no país de 5 milhões de habitantes.

As medidas tomadas para eliminar a doença foram acompanhadas de perto pelo Ministério da Saúde local. Nenhuma decisão foi tomada ao acaso, mas sempre com base nos especialistas do governo.

A Nova Zelândia tinha 102 casos confirmados e nenhuma morte quando o governo decretou, em 23 de março, a quarentena no país. Empresas de segmentos não essenciais foram fechadas, as aglomerações e viagens domésticas, proibidas. Somente os filhos de trabalhadores de serviços essenciais tiveram mantido o acesso às escolas. No dia 25 de março a orientação foi reforçar o distanciamento social proibindo até os serviços de delivery de comida.

Em 20 de março as fronteiras do país foram fechadas, exceção feita aos residentes e cidadãos de volta. Todos eles eram encaminhados a instalações supervisionadas pelo governo para uma quarentena de 14 dias.

Procedeu-se, ato contínuo, a uma testagem em massa. Foram 300 mil testes aplicados neste período (para efeito de comparação, isso significou, até a data em que a doença foi considerada contida no país, 6% da população foi testada. Na mesma data, o Brasil havia realizado testes em 0,5% de sua população).

Além do constante fluxo de informações sobre o andamento da pandemia à população, foi também montado uma ampla operação de rastreamento de contatos. O que se passou a fazer foi mapear, isolar e, sempre que possível, testar, todas as pessoas que tiveram contato com um paciente ou alguém com suspeita de ter contraído o vírus.

Criou-se até um aplicativo, no qual os cidadãos registram os lugares que visitaram por meio de QR Codes instalados em edifícios públicos e privados. Mesmo com uma pequena recidiva posterior ao período sem casos, o número de mortos no país ficou em 25. A Suécia, com o dobro da população neozelandesa e que adotou nenhuma medida, chamando isso de “estratégia de imunidade de rebanho”, expondo principalmente os mais velhos à doença no interior dos asilos, registrou, no mesmo período, em que a Nova Zelândia se declarava livre da doença, 44.730 mil casos e 4.659 mortes.

Emocionada, Ardern agradeceu aos eleitores, destacando que as eleições não devem ser “fator de divisão. As pessoas não devem se separar” e conclamou à unidade nacional para superar as dificuldades geradas pela pandemia.

Naquilo que foi considerado uma referência crítica ao estilo Trump de governar destacou: “Estamos vivendo em um mundo polarizado, onde mais gente tem perdido a habilidade de enxergar o ponto de vista dos demais. Isso não é o que nós somos.”

“Em um tempo de crise, a Nova Zelândia demonstrou que, com a unidade buscamos o antídoto contra a incerteza e a ansiedade”, acrescentou.

Ela iniciou seu pronunciamento em maori, a língua dos indígenas locais. “Eu não consigo imaginar um povo que pudesse me dar mais orgulho e vontade de trabalhar para este país”, enfatizou.

Entre as prioridades estabelecidas em sua campanha, o fomento de moradia accessível e o fim da pobreza infantil. Já no primeiro mandato, ela elevou o salário mínimo, estabeleceu dispensa de trabalho para os pais quando tivessem filhos e outras medidas para beneficiar os mais pobres.

Sua opositora, Collins – baseou sua campanha em tentar empanar o sucesso de Ardern, criticando suas medidas contra o coronavírus e para buscar a recuperação econômica, ao invés de apresentar suas propostas de governo.