Depois do “cadê o Queiroz?”, a pergunta agora é “cadê a esposa do Queiroz?”. Márcia de Aguiar ainda segue foragida e a polícia parece ter dificuldades para encontrá-la. Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, a ex-funcionária de Flávio Bolsonaro mantém um papel central nas mutretas do ex-operador do “capetão”.

Por Altamiro Borges*

Nesta terça-feira (23), a polícia deflagrou uma operação em Minas Gerais para prendê-la, mas novamente falhou. A PM cumpriu quatro mandados de busca em endereços de parentes de Queiroz em Belo Horizonte, mas sem sucesso. O mandado de prisão contra Márcia de Aguiar foi determinado em 16 de junho.

Fuga e obstrução das investigações

Segundo a Folha, a “Promotoria e Justiça do RJ consideram Márcia uma ameaça para a investigação que apura suposto esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Tanto Queiroz como Márcia foram assessores do filho do presidente Bolsonaro na Alerj”.

No despacho que ordenou a prisão do casal, o juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do RJ, afirmou que Márcia de Aguiar “teve papel fundamental para obstruir as investigações e que, em liberdade, ela poderia continuar a agir sob as ordens do marido”.

Fabrício Queiroz, o faz-tudo de Jair Bolsonaro, foi preso na quinta-feira (18) em um sítio em Atibaia (SP) de propriedade de Frederick Wassef, advogado do clã presidencial. Já a sua esposa escapou misteriosamente. Há quem afirme que a sua prisão pode desestabilizar o miliciano Queiroz, forçando uma delação premiada.

Nesta segunda-feira (22), meio no desespero, a defesa de Márcia de Aguiar ingressou com pedido de habeas corpus para revogar a prisão preventiva. A peça foi distribuída para a 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O procedimento jurídico é mantido em segredo de justiça.

Rachadinha e funcionárias fantasmas

Só para relembrar, a ordem de prisão do casal faz parte da investigação que apura o esquema de devolução de salários no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Segundo o Ministério Público, 11 assessores do então deputado repassaram R$ 2 milhões a Fabrício Queiroz, sendo a maioria em espécie, entre 2007 e 2018.

A Folha registra: “Márcia Aguiar esteve nomeada no gabinete de Flávio de 2007 a 2017 com salário líquido de R$ 9.207. Ela repassou cerca de R$ 450 mil ao marido. Quando deixou o gabinete, ela foi substituída pela filha, Evelyn Mayara Aguiar, que ganhava salário líquido de R$ 6.370”.

“Outros dois membros da família, duas filhas de Queiroz, também foram assessoras de Flávio. A suspeita é de que os familiares do PM aposentado eram funcionárias fantasmas”. Mensagens em celulares apreendidos em dezembro do ano passado reforçaram as suspeitas e resultaram agora no pedido de prisão do casal.

“Márcia, segundo a Promotoria, teve papel central ao auxiliar as manobras do marido. Mensagens de agosto de 2019 obtidas pelo MP-RJ mostram que, enquanto Queiroz se mantinha escondido, sua mulher recebia dinheiro de terceiros para sustentar a família”, prossegue reportagem da Folha.

Ligações com o miliciano Adriano da Nóbrega

Ainda de acordo com a Promotoria, anotações em uma caderneta apreendida na casa de Márcia de Aguiar e recibos do Hospital Albert Einstein também comprovam que a mulher de Fabrício Queiroz recebeu pelo menos R$ 174 mil em espécie e que pagou as despesas do atendimento com dinheiro vivo.

“Márcia também teve papel importante na comunicação entre Queiroz e o ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega. Morto em operação policial na Bahia, Adriano era apontado como líder do grupo miliciano Escritório do Crime. Amigo de Queiroz, conseguiu empregar mãe e mulher no gabinete de Flávio Bolsonaro”.

Durante o período em que permaneceram no gabinete, Danielle Mendonça e Raimunda Veras Magalhães obtiveram remuneração de R$ 1 milhão. Desse valor, R$ 400 mil retornaram para Queiroz. “Mensagens obtidas pelo MP revelam que Márcia manteve contato com a família de Adriano” nos últimos meses.

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