Desde terça-feira (7) a cidade de Nova Iorque sozinha já superou, com 3.602 óbitos – dados oficiais da Prefeitura -, o total de mortos da pandemia na China inteira, que foi de 3326. Na quarta-feira, o total de mortos pela Covid-19 em Nova Iorque já chegava a 4.620.

Nova Iorque tem oito milhões de habitantes e a China, 1,3 bilhão. A mídia norte-americana preferiu enfatizar que o total já é maior do que no ataque de 11 de Setembro, quando as vítimas fatais foram de 2.753.

Já considerando os Estados Unidos inteiros, o total de casos de Covid-19, que no sábado tinham chegado a 300 mil, já ultrapassaram os 400 mil na quarta-feira, numa expressão da profundidade da pandemia nos EUA sob Trump.

O porta-voz do Departamento de Saúde, o cirurgião-geral Jerome Adams, havia alertado que esta semana seria uma espécie de “Pearl Habour” ou segundo “11 de Setembro”, em razão da alta esperada no total de mortes. Trump chegou a falar em “dias muito duros”.

Em total de mortes, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, os EUA, com 14,6 mil mortos só ficam atrás da martirizada Itália, com 17 mil mortos.

O estado de Nova Iorque, que tem 150 mil dos 400 mil casos de contágio e é o epicentro da pandemia nos EUA, registrou entre segunda-feira e terça-feira 731 mortes, suplantadas 24 horas depois por 779 mortes – isso depois de dois dias em que a contagem de corpos permaneceu abaixo de 600.

O governador Andrew Cuomo classificou esse recorde de 779 mortes como “terrível”, mas expressou uma ponta de esperança ao assinalar que a curva de casos começou a cair.

 “Não há dúvida de que estamos descendo a curva”, ele afirmou em entrevista coletiva.  “O número de pacientes hospitalizados está caindo”, acrescentou.

Apesar de pavoroso, o número pode na verdade ser ainda pior, já que só estão computando quem morre em hospitais e teve o diagnóstico de Covid-19 corfimado em laboratório. As autoridades novaiorquinas estimam que “mais de 200 pessoas estão morrendo diariamente em casa na cidade” durante a pandemia. O próprio Cuomo admitiu como uma possibilidade “muito real” essa defasagem entre os números reais e os oficiais.

Nesse quadro, qualquer indício de melhora é motivo de comemoração. Craig Smith, cirurgião-chefe do Centro Médico da Universidade Columbia do Hospital Presbyterian, em Manhattan, anunciou números encorajadores que sugeriam uma maré virada na edição de quarta-feira de seu boletim diário. Por dois dias seguidos, houve mais altas do que internações. “Hosana!”, acrescentou.

Mas muitos Médicos e enfermeiros veteranos de Nova Iorque, segundo a Associated Press, se dizem “em choque” com a velocidade com que pacientes entram em declínio e morrem. Eles também advertem que não são apenas idosos ou pacientes com problemas de saúde que parecem estar bem em um minuto e na porta da morte no outro. Pode acontecer também para os jovens e saudáveis.

Os pacientes “parecem bem, se sentem bem, então você se vira e não respondem”, disse Diana Torres, enfermeira do Hospital Mount Sinai, em Nova York. “Estou paranóica, com medo de sair do quarto deles.”

O pessoal na linha de frente da guerra contra a Covid-19 também denuncia a escassez de máscaras de proteção e de testes, com profissionais da saúde relatando à Reuters que trataram pacientes enquanto experimentavam sintomas de covid-19, mas não puderam fazer o teste.

Em Michigan, um dos poucos sistemas hospitalares que realizam testes generalizados das equipes, o Henry Ford Health, comprovou que mais de um quarto dos funcionários testados – 700 em 2.500– estavam infectados.

O professor de bioética da Faculdade de Medicina Grossman da Universidade de Nova York, Art Caplan, chamou de “escandalosa” a falta contínua de testes, até mesmo para os trabalhadores em maior risco.

A Califórnia, como Nova York, teve um dos maiores números de mortos em um dia, com 68 pessoas morrendo do coronavírus nas últimas 24 horas, afirmou o governador Gavin Newsom. Segundo ele, o Estado não poderá ver o achatamento da curva de casos até o final de maio e é imprescindível manter medidas de distanciamento social nas próximas semanas.

Também a principal autoridade científica dos EUA sobre a Covid-19, o infectologista Anthony Fauci, reiterou em entrevista à Fox News que os norte-americanos deveriam “intensificar” seus esforços de distanciamento social, e não aliviar, conforme a pandemia continua a se espraiar pelo país e novos focos estão emergindo, como a Pensilvânia e o Colorado e assim “estamos vulneráveis de ter uma explosão e uma escalada”.