Nova Iorque elege prefeito o ex-policial antirracista Eric Adams
A cidade de Nova Iorque elegeu Eric Adams, do Partido Democrata, como seu novo prefeito. Adams, de 61 anos, será a segunda pessoa negra no comando da cidade (o primeiro foi David Norman Dinkins, no começo dos anos 1990).
A prefeitura da antiga cidade de Boston, capital do estado de Massachusetts, foi conquistada pela primeira vez em sua história por uma mulher – e uma mulher asiática – graças a uma coalizão de progressistas, socialistas e imigrantes.
Assim como nestas duas cidades, em uma série de eleições norte-americanas para escolher governadores, prefeitos e legisladores realizadas na terça-feira (2) – as primeiras ocorridas desde a chegada de Joe Biden à Casa Branca -, os resultados apontaram uma importante vitória de setores progressistas em cargos eletivos, a vulnerabilidade da liderança democrata de centro e a persistência da extrema direita do Partido Republicano.
Por outro lado, a batalha eleitoral pelo governo da Virgínia levou à vitória dos republicanos e à derrota da liderança democrata em um Estado onde o presidente Biden venceu por mais de 10 pontos na eleição presidencial do ano passado. Em Nova Jersey pode acontecer resultado semelhante.
Vitória em Bostom e Buffalo
Em Boston, pela primeira vez em seus 200 anos, uma mulher, Michelle Wu, ocupará a prefeitura. Ela também é a primeira pessoa de ascendência asiática a ocupar o cargo. Foi apoiada por uma coalizão progressista que inclui os Socialistas Democráticos da América (DSA) e o Partido das Famílias Trabalhistas (PMA), bem como por asiático-americanos, afro-americanos, latinos e jovens, ao propor transformar a cidade no que chama de “laboratório” para políticas sociais progressistas, que vão desde a reforma da força policial, criar empregos, limitar o custo da habitação e do transporte público até a promoção de uma agenda verde urbana inovadora.
Em Buffalo, a segunda maior cidade do Estado de Nova York, India Walton, uma ativista comunitária negra de 39 anos, mãe solteira de quatro filhos, que se formou enfermeira e teve um envolvimento local proeminente no movimento Black Lives Matter, pode se tornar a primeira prefeita dessa grande cidade americana em 60 anos.
Walton é candidata democrata pelas forças progressistas – incluindo DSA e PMA – que abalou a liderança Democrata ao vencer as primárias contra o prefeito de quatro mandatos há alguns meses. Seu oponente recusou-se a deixar a disputa ao se tornar um candidato independente para competir contra a rebelde de seu próprio partido com o apoio de forças centristas e até republicanas. A apuração ainda está em curso e a contagem pode ser prorrogada por mais alguns dias.
Esta eleição é talvez a de maior disputa entre as correntes centristas e progressistas dentro do Partido Democrata, assinalou David Brooks, correspondente do jornal La Jornada do México. O senador Bernie Sanders, que foi prefeito socialista democrata de uma pequena cidade, Burlington, Vermont, de 1981 a 1989, apoiou Walton por “sua visão ousada que investe nas necessidades das pessoas e não nos interesses dos ricos”.
O triunfo em Boston e a possível vitória em Buffalo, combinados com outros avanços em outras eleições locais, são chaves para o crescente movimento progressista dentro do Partido Democrata.
Derrota na Virgínia
Mas não foram só vitórias dos setores progressistas. Dando o quadro completo da situação política nos Estados Unidos, no Estado da Virginia, o milionário republicano Glenn Youngkin foi eleito governador nesta quarta-feira (3). O candidato democrata, Terry McAuliffe, que dirigiu o Estado até janeiro de 2018, começou a disputa como favorito, mas nos últimos dias perdeu terreno.
Os analistas apontaram que este é o resultado da incapacidade dos democratas de cumprir suas promessas assumidas em nível nacional e da queda da taxa de aprovação de Biden para apenas uma média de 43 por cento nas pesquisas nacionais, o índice mais baixo a estas alturas do mandato de qualquer presidente.
Enquanto isso, em Nova Jersey – outro reduto democrata – até o final da desta edição não teve ainda o resultado final para determinar se o governador Phil Murphy havia conseguido sua reeleição em uma disputa que também foi marcada pela força inesperada do desafiante republicano Jack Ciattarelli. Se Murphy for bem-sucedido, ele será o primeiro democrata a vencer a reeleição em mais de quatro décadas naquele Estado.
Mas, se ele for derrotado, junto com o candidato da Virgínia, será um importante problema com maus presságios para o futuro imediato do Partido Democrata.
Na cidade de Nova York, o democrata Eric Adams, um centrista como ele se auto-define, venceu com forte apoio tanto dos eleitores da classe média, da comunidade negra e do movimento operário, como também contando com empresários, aos quais integrou na sua campanha com o objetivo “de que tenham um papel importante na recuperação econômica da cidade”.
Adams se apresenta como um líder determinado, defensor das classes médias e populares, e símbolo da luta contra a discriminação racial no interior da corporação policial nova-iorquina.
No maior município norte-americano o novo prefeito vai encontrar dificuldades as quais mencionou no momento mesmo em que celebrava sua vitória. “Estamos em plena luta contra a Covid e ainda contra o crime e uma economia devastada”.
Seu triunfo em uma das cidades consideradas entre as mais liberais do país foi o resultado da derrota de candidatos democratas mais ao centro.
Ele cresceu nos bairros populares de Queens e Brooklin e declarou ter sido vítima da brutalidade policial na adolescência. Na polícia ocupou o posto de capitão que pressionou por mudanças de dentro do sistema. Muitos o identificam por seu compromisso na luta contra o racismo, mas também contra o crime. Adams prometeu trazer de volta a tranquilidade dentro dos vagões e estações do metrô da cidade.
Da prefeitura, Adams chefiará a maior força policial dos Estados Unidos, a NYPD, com 36.000 funcionários, cuja reforma prometeu aprofundar. Ele vai administrar um orçamento de 98,7 bilhões de dólares para o exercício 2021-2022, o maior de um município nos Estados Unidos.
O amplo debate sobre a segurança e a educação pública figurou entre as principais questões nacionais nas disputas eleitorais locais em várias partes do país. Em Minneapolis – onde George Floyd foi assassinado pela polícia, incidente que gerou protestos nacionais sem precedentes – a proposta, votada em um referendo, de substituir o Departamento de Polícia por outra entidade foi derrotada. Dos 142 mil votos, 56,1% foram contrários ao projeto, enquanto os favoráveis somaram 43,8%.