Francisco Galicia disse que as condições eram tão ruins que ele quase aceitou a deportação ao México, origem de seus pais. (Foto: Kin Man Hui via AP)

Francisco Erwin Galicia, um cidadão norte-americano nascido em Dallas, de 18 anos, passou 23 dias encarcerado pela guarda de fronteira de Trump no sul do Texas, sob condições tão degradantes que, como relatou ao jornal The Dallas Morning News, quase aceitou assinar a deportação para se livrar do infortúnio.

24 horas após o jornal ter mostrado seu caso, a gestapo do presidente bilionário o liberou, após se recusar por três semanas a aceitar a validade da certidão de nascimento dele.

“Foi desumano como nos trataram. Chegou ao ponto em que eu estava pronto para assinar um documento de deportação só para não ficar mais sofrendo lá. Eu só precisava sair dali”, disse Galicia ao The News. Ele perdeu 12 quilos no cárcere de imigrantes, porque não recebia comida suficiente. Também ficou esse tempo todo sem permissão para tomar banho.

Ficou amontoado com mais 60 homens, em uma área tão apinhada, que alguns tinham que dormir dentro do banheiro.

Todos os detidos dormiam no chão, com aquelas notórias mantinhas de alumínio, que se tornaram símbolo da esculhambação e desrespeito vigentes nos EUA.

Muitos ficaram doentes e era frequente carrapatos picarem os detidos. Como denunciou o rapaz, os doentes temiam pedir para ir ao médico, porque a guarda dizia que isso iria zerar a contagem de tempo de ‘estadia’.

Relato que coincide com inúmeros outros, e que levaram à denúncia de que os centros de detenção de imigrantes na fronteira dos EUA com o México não passam de campos de concentração nojentos. “Uma coisa é ver essas condições na TV e nas notícias. Outra é passar por elas”, assinalou Galicia, que relatou ter convivido com hondurenhos, salvadorenhos, nicaraguenses e colombianos.

Seu irmão mais novo, Marlon, foi sumariamente deportado para o México, e ainda se encontra lá.

Prestes a terminarem o curso médio, os dois tinham deixado a casa da família em Edinburg e iam em busca de uma bolsa de estudo na faculdade, na condição de jogadores de futebol. Ambos jogavam no time da escola, a Johnny Economedes High School. “Queríamos fazer algo para garantir nossa educação [universitária]”, contou Francisco Galicia.

Juntos iam outros três rapazes, que também queriam fazer o teste para concorrer à bolsa em troca da prática de esporte, o que é um modo comum dos mais pobres tentarem um lugar na universidade num país onde a dívida estudantil já ultrapassou US$ 1 trilhão.

Mas no caminho os garotos foram parados em um posto de controle em Falfurrias, a 80 quilômetros de onde moram, uma cena cada vez mais comum como parte essencial da campanha pela reeleição do xenófobo Trump. A guarda de fronteira não aceitou como válida sua identidade expedida pelo Texas, nem o cartão de Seguro Social ou sequer a certidão de nascimento. O irmão Marlon e outro passageiro não tinham documentação legal.

Do posto de controle, os três foram levados para um centro de detenção, onde a expectativa de Francisco era de que pudesse fazer um telefonema para família, para esclarecer a situação. “Eu disse a eles que tínhamos direitos e pedimos para fazer uma ligação. Mas nos disseram: ‘você não tem direito a nada’”.

Dois dias depois da detenção, Marlon, que nasceu no México, decidiu aceitar a deportação para ser possível se comunicar com a mãe, Sanjuana Galicia, e assegurar socorro ao irmão. Ele, que só tem 17 anos, se encontra agora numa cidade mexicana na fronteira, Reynosa, considerada perigosa, onde só no ano passado 250 pessoas foram assassinadas em meio à disputa dos cartéis de droga pelo controle local e da pressão das gangues para recrutamento de migrantes em desespero.

No dia 23 de julho, Francisco pôde finalmente se reunir à sua mãe. “Sou tão grata a Deus e a todos que falaram sobre a situação do meu filho”, afirmou Sanjuana no reencontro com o filho, praticamente um menino, ainda com espinhas na cara. “Fico feliz em tê-lo de volta em casa, mas preciso do meu outro filho de volta”, sublinhou.

Enquanto isso, Trump busca emplacar como slogan da campanha da reeleição o “mandem-nos de volta” e se vangloria de poder utilizar com mais eficácia as jaulas que ele assevera – o que é verdade – que foi o antecessor Obama que instalou.

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