No Brasil de Bolsonaro, só homens debatem sobre mulheres na política
Arthur do Val, o Mamãe Falei. “Bolsonaro criticar fala de Arthur do Val é pura hipocrisia, logo ele que é sexista. É um pior que o outro. Mais uma vez está querendo enganar as mulheres pra tentar conquistar o voto feminino, mas aqui não se cria!”, continuou Gleisi.
“O Brasil de Bolsonaro é o país em que homens debatem ‘mulheres no poder’ sem a presença de mulheres nos espaços de fala”, ironiza a deputada Erika Kokay (PT-DF) no Twitter. “Sabe qual legado de Bolsonaro e Guedes na economia? Inflação, desemprego, retirada de direitos e renda menor para trabalhadores e trabalhadoras!”
Alto empresariado e escalões elevados
O Grupo Voto, promotor do evento de debate sobre mulheres sem mulheres, se autodefine em seu website como “o principal hub de interlocução entre o alto empresariado e os mais elevados escalões da política brasileira”. Curiosamente, o grupo já recebeu R$ 124 milhões do governo, de acordo com informações do Portal da Transparência divulgadas pelo jornalista Demétrio Vecchioli, da coluna Olhar Olímpico. A informação está em reportagem da Fórum.
Na página, é possível se informar sobre o projeto “Mulheres que Orgulham o Brasil”. A entidade diz que, “em parceria com o jornal britânico Financial Times”, lança o projeto Mulheres que Orgulham o Brasil. O objetivo é homenagear “dez brasileiras referências em suas áreas, no Brasil e também no exterior”. Na edição 146 da Revista Voto (um segmento da organização), homenageia “as primeiras cinco: Michelle Bolsonaro, Gabriela Mansur, Patrícia Ellen, Paula Paschoal e Karina Kufa”.
Para “comemorar” o Dia Internacional da Mulher, nesta terça-feira (8), a entidade denominada Grupo Voto promove esta semana o evento “Ciclo Brasil de Ideias Mulher” cuja proposta é debater a participação das mulheres na política. Porém, chama a atenção que, apesar do tema, não há nenhuma mulher entre os principais convidados. Mais que isso, além de os “debatedores” serem apenas homens, a lista é encabeçada pelo presidente Jair Bolsonaro. Os outros participantes, que será realizado de 9 a 15 de março, são o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), os ministros Paulo Guedes (Economia) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), e o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB). A ausência de mulheres para debater sobre sua própria condição causou indignação entre representantes históricas das lutas pelos direitos femininos.
A deputada Jandira Feghali disse à RBA que, quando viu o banner com o anúncio, ficou chocada. “De fato, falar de mulheres só com homens… Mas quando vi Bolsonaro encabeçando o debate entendi que não era pra surpreender que esse debate não teria mulheres”. A parlamentar lembra de falas misóginas, machistas e inclassificáveis de Bolsonaro, como a de que dirigiu à deputada Maria do Rosário (PT-RS). Então deputado, o hoje presidente afirmou que ela não “não mereceria ser estuprada”, por não a considerar bonita o suficiente para despertar nele o impulso pelo ato violento.
“E tantas outras frases no decorrer da vida mostram quem é Bolsonaro e sua relação com as mulheres”, acrescenta Jandira. Para a parlamentar, a presença do ministro da Economia também é sintomática. “As que são representativas das demandas reais das mulheres não estariam num debate com Bolsonaro. Depois (com) o Guedes da reforma da Previdência e trabalhista, que trouxeram prejuízo enorme à vida das mulheres brasileiras”, completou.
“‘Bolsonaro, Guedes e Arthur Lira vão participar de evento sobre mulheres sem NENHUMA mulher palestrando, só homens! É a cara do bolsonarismo sem noção, machista e atrasado”, postou no Twitter a deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann.
Em tuíte anterior, Gleisi já havia se manifestado sobre a “crítica” de Bolsonaro ao deputado estadual