Nivaldo Santana: Os trabalhadores e os sindicatos na mira de Bolsonaro
Por Nivaldo Santana*
Para viabilizar essa agenda regressiva, a reforma fragiliza os sindicatos, com o fim da contribuição sindical obrigatória; acaba com a exigência de homologar as demissões nos sindicatos; e dificulta o acesso à Justiça do Trabalho, com a exigência de pagamento de custas e honorários pela parte derrotada.
Todo esse saco de maldades contra os trabalhadores é radicalizada pelo governo Bolsonaro. Logo no primeiro dia do seu governo, extingue o Ministério do Trabalho, que existia desde 1930. Em seguida, apresenta a reforma da Previdência. A bola da vez, agora, é pulverizar a organização sindical.
Estes retrocessos anulam ou diminuem as notáveis conquistas da Constituição de 1988, em especial no capítulo dos direitos sociais, como o artigo 7º, dos direitos dos trabalhadores, o artigo 8º, da liberdade e autonomia sindical e o artigo 9º do direito de greve. A artilharia pesada do governo, neste momento, mira o artigo 8º, que, entre outros pontos, contempla o princípio da unicidade sindical, garante ao sindicato a defesa dos direitos dos trabalhadores, a participação obrigatória nas negociações coletivas do trabalho, a contribuição sindical e veda a dispensa do dirigente sindical.
Setores da magistratura e do próprio movimento sindical, no entanto, advogam a tese de conteúdo liberal segundo a qual o Estado não pode se imiscuir nas relações entre o capital e o trabalho, cabendo exclusivamente às partes pactuar acordos e criar instâncias extrajudiciais para solução de conflitos.
A longa história de lutas do sindicalismo aponta em sentido contrário. Para assegurar vitórias duradouras para os trabalhadores, é fundamental consagrar em lei um piso mínimo de direitos sociais, regras que assegurem a liberdade, autonomia e unidade sindical – e também a existência de uma Justiça especializada com poder normativo para arbitrar conflitos trabalhistas.
O fim da unicidade sindical é o corolário de um conjunto de medidas que buscam a valorização máxima do capital e a drástica redução do custo da força de trabalho. Tudo isso em um país que convive com trabalho precário, subemprego, absurdas taxas de desemprego e salários cada vez mais aviltados.
* Nivaldo Santana é secretário de Relações Internacionais da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).