A participação do PCdoB nas manifestações do próximo domingo (12) e a materialização dos movimentos de frente ampla contra Bolsonaro foram os temas centrais da edição do programa Olhar 65 desta sexta-feira (10), que contou com a presença do secretário sindical do partido, Nivaldo Santana, e a apresentação do secretário de Comunicação, Adalberto Monteiro, e do jornalista Osvaldo Bertolino.

Ao abrir o programa, Adalberto Monteiro salientou que “o PCdoB continua convicto de que o caminho é agregar forças e mais forças para isolar e derrotar Bolsonaro. Para que a gente consiga realizar o grande anseio do povo brasileiro, que é livrar o país desse pesadelo que é o governo Bolsonaro, é preciso agregar todo mundo. O inimigo do meu inimigo, se não é meu amigo é, pelo menos, um aliado em potencial, mesmo que seja momentâneo. Isso é o beabá da experiência da luta dos povos, da teoria revolucionária”.

Neste sentido, na avaliação de Nivaldo Santana, “a bandeira da frente ampla, da unidade de forças políticas, sociais e econômicas de amplo espectro político está se materializando. Então, no dia 12, centrais sindicais, movimento estudantil, partidos políticos vão participar não como forças protagonistas, que convocaram o ato, mas vão engrossar esse movimento”.

Confira abaixo os principais trechos do programa.

 

O dia 7 de setembro e seus desdobramentos

“Bolsonaro sofreu uma derrota política importante. Saiu menor do que entrou e, em contrapartida, fortaleceu o campo político de oposição. Nossa compreensão é que o 7 de setembro pode ser um marco importante numa viragem política no país, no sentido de colocar o governo Bolsonaro na defensiva e fazer com que a oposição consiga ter uma aglutinação maior. Não significa que Bolsonaro está morto, nem que a oposição, agora, vai ditar as regras do jogo. Mas, estamos vendo a sinalização de uma mudança de qualidade na correlação de forças políticas do país”.

 

Recuo de Bolsonaro e suas consequências políticas

“Bolsonaro foi obrigado a recuar. A carta que fez, orientada por Temer, foi um recuo tático para se reposicionar numa situação mais desfavorável e isso também permitiu um crescimento do movimento de oposição e de defesa do impeachment”.

“Do ponto de vista das manifestações de rua, tem um fato novo, relevante e de alta qualidade. Na reunião com as centrais sindicais, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) — que é um político liberal-conservador, não é do nosso campo político — disse que depois do 7 de setembro o MBL se viu obrigado a fazer uma flexão tática e colocar como prioridade absoluta a luta pelo Fora Bolsonaro e a defesa do impeachment. Ele participou da reunião para convidar as centrais sindicais e outros setores políticos e sociais para participarem da manifestação do dia 12”.

Frente ampla

“Considero esta uma mudança de qualidade. A bandeira da frente ampla, da unidade de forças políticas, sociais e econômicas de amplo espectro político está se materializando. Então, no dia 12, centrais sindicais, movimento estudantil, partidos políticos vão participar não como forças protagonistas, que convocaram o ato, mas vão engrossar esse movimento. Isso significa que, do ponto de vista concreto, o dia 7 de setembro, que seria um marco importante para consolidar e fortalecer o projeto autoritário e ditatorial de Bolsonaro, se revelou um tiro pela culatra. (…) Acredito que a oposição passa a ter uma atitude mais ofensiva e o governo Bolsonaro, na medida em que dobra as apostas na radicalização, tende a ficar mais isolado”.

 

Quadro político complexo

“O recuo de Bolsonaro é um exemplo concreto de que o mar não está para peixe nas hostes bolsonaristas. É um quadro complexo, o novo normal da política brasileira será essa polarização entre os anseios golpistas de Bolsonaro e a luta da oposição pelo impeachment. Na atualidade, nenhuma dessas opções está vitoriosa, é um equilíbrio precário. Por isso, a temperatura política é muito alta, mas, na minha opinião, estamos numa situação melhor na luta contra Bolsonaro.”

 

Resistência ao autoritarismo

“O problema de resistência ao autoritarismo, a esse governo de direita de Bolsonaro, está na ordem do dia. Claro que o movimento sindical também enfrenta suas dificuldades: ataques aos trabalhadores, reformas trabalhista, sindical e previdenciária, precarização do trabalho, alto índice de desemprego, terceirização irrestrita. Estes são fatores que acabam afetando também a capacidade e a força de resistência do sindicalismo. Mas, nossa compreensão é de que temos de ter uma visão mais ampla. O movimento sindical deve ser parte importante e insubstituível de um movimento mais amplo de oposição ao governo Bolsonaro”.

 

Unir a nação

“Sem alterar os rumos políticos do país, ou seja, sem derrotar Bolsonaro, não vamos conseguir enfrentar todas as nossas mazelas e as dificuldades sanitárias, sociais e econômicas que o Brasil, os trabalhadores e o povo vivem. Por isso, a importância da bandeira da frente ampla que, traduzindo para o bom português, significa unir a nação: trabalhadores, povo, setores empresariais, democratas, forças progressistas e até o campo liberal-conservador que não aceita um regime discricionário e antidemocrático. Nossa grande tarefa é como unir essas forças para criar uma perspectiva nova para o nosso país e nosso povo”.

 

Não existe 2022 sem 2021

“Claro que as eleições de 2022, as candidaturas que já estão postas, são legítimas e acabam interferindo no debate político, mas na nossa compreensão não existe 2022 sem 2021. O desfecho da luta política neste ano, a nossa capacidade de criar um quadro político novo, vai alterar, de forma significativa, a situação político-eleitoral no ano que vem. Por isso, achamos equivocadas aquelas correntes políticas que priorizam o debate das eleições presidenciais em detrimento do cumprimento de tarefas mais imediatas de 2021”.

“‘Há uma pedra no meio do caminho…’ e sem remover essa pedra, que é o governo Bolsonaro, não vamos construir nenhuma perspectiva nova para o nosso país. O ano de 2021 é o momento de unidade, de mobilização, de luta, e em 2022, quando ficarmos livres da praga do bolsonarismo, poderemos discutir alternativas e projetos políticos para o Brasil”.

 

Principal tarefa política hoje

“Na atual conjuntura política, num governo de extrema-direita, de viés fascistizante, autoritário, a grande questão política é como unir o povo e o Brasil para derrotar esse projeto. (…) A grande tarefa política que temos é fazer um esforço político de reeditar movimentos como o das Diretas Já. Acredito que é preciso construir um calendário de lutas, uma nova jornada, onde se estabeleça um grande consenso político. E fazer gigantescas manifestações pelo Fora Bolsonaro com Frente Brasil Popular, Povo Sem Medo, Direitos Já, MBL, juntando partidos de esquerda, de centro, de centro-direita e até alguns de direita, unificados em torno da bandeira em defesa do Fora Bolsonaro e do impeachment. Considero que esta é a questão central, decisiva. Removido esse obstáculo, superado esse grande problema, as diferentes forças políticas e sociais, os partidos, podem se apresentar com suas alternativas programáticas. O PCdoB defende um projeto emergencial de reconstrução nacional, e outros partidos têm os seus próprios projetos”.

 

Plataforma comum em defesa da democracia e do Brasil

“O dia 12 é um movimento pilotado pelo MBL, por forças liberais-conservadoras. Alguns segmentos da esquerda não quiseram participar. Hoje houve uma reunião de partidos políticos que têm uma articulação nacional e o PT e o Psol decidiram que não vão participar do ato do dia 12; a CUT, o MTST também não. Mas, disseram que, embora não participem, respeitam quem tem opinião contrária, o que significa que o clima de debate e harmonia está respeitado”.

“Mas, considero que vamos ter que construir uma jornada de atividades, mobilizações de rua, debates, ações com o mundo acadêmico, o mundo empresarial que está contra o governo, intelectuais progressistas, segmentos e entidades, e procurar criar uma plataforma comum em defesa da democracia e do Brasil. Para fazer tudo isso, é preciso ter plasticidade, paciência e tolerância. Tem gente que não quis participar dos (atos da oposição) no dia 7 porque achava estreito demais; tem gente que não quer participar do dia 12 achando que é amplo demais. Nossa opinião é unir quem participou do dia 7 e quem vai participar do dia 12 e até aqueles setores que não participaram de nenhuma dessas mobilizações”.

 

Derrota do neofascismo

“Acredito que o isolamento do Bolsonaro, seu desvario radicaloide, as ameaças golpistas de ataque às instituições e seu discurso raivoso acabaram oferecendo munição para todos aqueles que defendem a proposta de uma oposição mais unificada. (…) Nesse contexto, nessa confusão toda, a capacidade política dos quadros, dos dirigentes, é perceber qual é a tendência principal. E a tendência principal, no atual quadro político brasileiro, é de uma derrota do neofascismo, do conservadorismo radicalizado, para uma situação política mais avançada. Não significa que o mais avançado vai ser aquele projeto político dos nossos sonhos, mas ficar livre do bolsonarismo já é uma grande vitória política. (…) A etapa do jogo, agora, é derrotar quem detém as rédeas do poder e aplica no país uma política de desastre e desconstrução nacional”.

 

Próximos atos

“Do ponto de vista cronológico, tem três grandes questões. Tem o dia 12, que é uma manifestação chamada pelo MBL, o Vem Pra Rua e outras organizações da qual vamos participar como coadjuvantes e não como protagonistas. Somos convidados, não somos nós que vamos dirigir o movimento. Na reunião de hoje com a liderança do MBL, foi pedido que todos fossem de branco e que os partidos tivessem parcimônia na exibição de suas bandeiras. (…) A nossa participação é mais uma representação política para abrir um canal de diálogo com esse segmento que, pela primeira vez, está dialogando com o nosso campo político.

“A Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo estão trabalhando com outros segmentos e partidos para fazer uma manifestação no início de outubro para dar continuidade a essa sequência. Mas, a principal  — que consideramos que pode unificar Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo, Movimento Fora Bolsonaro, Direitos Já, partidos e outros segmentos — está sendo construída com uma data que seja simbólica dessa grande unidade nacional contra Bolsonaro. Está se trabalhando com a hipótese do 15 de novembro, dia da Proclamação da República”.

 

Assista a íntegra do programa

Por Priscila Lobregatte