Nilson Araújo, Luiz Manfredini, Jorge Gregory e Osvaldo Bertolino

“A situação internacional, caracterizada pelo declínio americano e a ascensão da China, abre oportunidades para o Brasil retomar seu desenvolvimento”, disse o economista no programa Roda de Conversa

O economista e professor Nilson Araújo de Souza, autor do livro Economia Brasileira Contemporânea e organizador da obra Pensamento Nacional Desenvolvimentista, afirmou nesta quinta-feira (3), em entrevista ao programa Roda de Conversa, do jornalista Osvaldo Bertolino, secundado por Luiz Manfredini e Jorge Gregory, que a inflação brasileira é culpa da política econômica desastrosa do governo Bolsonaro.

“A inflação não está sendo provocada por excesso de demanda, como eles apregoam. Ela é fruto do desmonte da estrutura de abastecimento do país pelo ministro Paulo Guedes. A União tinha uma política de abastecimento, o governo comprava a produção na safra, armazenava em seus armazéns e garantia o abastecimento na entressafra. Pois bem, o governo acabou com isso. Vendeu seus armazéns e não regulou mais nada”, denunciou o professor.

Veja esse e outros temas abordados por Nilson Araújo na Roda de Conversa

Ele creditou também o descontrole inflacionário à dolarização da economia. “O exemplo maior foi inicialmente a inflação de alimentos, que começou já no ano passado e que, sem nenhuma política de regulação de abastecimento, escapou quase toda para o mercado externo. Com o dólar caro, o produtor, que vendia em dólar, não tinha nenhum interesse em vender seu produto no mercado interno em real e, quando o fazia, cobrava um preços dolarizado”.

Nilson falou também sobre a desindustrialização do país. Segundo ele, com a política de privilegiar a especulação financeira, houve uma violenta redução da atividade industrial no país. “A indústria de transformação que já chegou a 30% do PIB (Produto Interno Bruto) e o conjunto da indústria, incluindo a construção civil, que chegou a ter 44% do PIB na década de 1980, atualmente, a indústria de transformação está em torno de 10% e o conjunto da indústria, em torno de 20%”, denunciou.

Ele apontou que a situação internacional, caracterizada pelo declínio americano e a ascensão da China, abre oportunidades para o Brasil retomar seu desenvolvimento, assim como ocorreu na industrialização do país quando a hegemonia inglesa entrou em crise na década de 1930. “O Brasil pode se aproveitar dessa situação, assim como Getúlio soube fazer naquela época, o que redundou na nossa industrialização”, argumentou Nilson Araújo.

Voltando a falar da inflação ele destacou que “este problema da dolarização está visível nos preços dos combustíveis”. “O Brasil é autossuficiente em produção de petróleo e tem um parque de refino que atende ao consumo interno. Como o governo não investe e mantém 30% de ociosidade nas refinarias e, além disso, está vendendo as refinarias da Petrobrás, o Brasil está cada vez mais dependente de importação de combustíveis”, denunciou, lembrando que “os importadores impõem e o governo obriga a Petrobrás a cobrar os preços internacionais”.

“Quem ganha com isso são os acionistas, que têm maioria das ações que rendem dividendos, e apoiam essa política do governo porque a empresa está distribuindo seus dividendos com para eles”, afirmou Nilson Araújo. “Esta política, por outro lado, está dolarizando os preços cobrados aos brasileiros e jogando nas alturas os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha”, observou o professor. “Uma das soluções é o governo fazer, o que já fez, que é recomprar as ações e aumentar sua participação nos lucros da Petrobrás”, defendeu.

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Fonte: Hora do Povo