Diário La Prensa teve papel destacado na queda da ditadura de Somoza

A polícia da Nicarágua prendeu neste sábado (14) o diretor-geral do jornal La Prensa, Juan Lorenzo Holmann Chamorro. Para mais essa arbitrariedade, o acusam de “crimes de fraude alfandegária, lavagem de dinheiro, bens e ativos”.

Com a detenção, já somam 33 os oposicionistas detidos pelo governo de Daniel Ortega a apenas três meses das eleições presidenciais. Entre as mais de três dezenas encontram-se quatro da família Chamorro, que tiveram um importante papel na queda da ditadura de Somoza. Um deles, o jornalista Carlos Fernando Chamorro, encontra-se no exílio.

Antes de ser escoltado pelas forças de segurança durante a madrugada, Juan Lorenzo teve o histórico jornal – de 95 anos – invadido. Decidido opositor do regime de Ortega e o único de abrangência nacional, o matutino deixou de circular, uma vez que teve o papel apreendido pela Direção-Geral de Serviços Aduaneiros.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e seu Relator Especial para a Liberdade de Expressão já haviam condenado o confisco e se manifestado contra “a constante perseguição oficial à imprensa na Nicarágua”.

Nesta mesma manhã, o diretor geral foi transferido para a Direção de Assistência Judiciária (DAJ). Enquanto isso, o jornalista Carlos Fernando Chamorro, primo de Holmann, alertava sua prisão e pedia solidariedade.

De acordo com o jornal, “a polícia invadiu as instalações, reuniu e deteve o pessoal administrativo que estava nos escritórios durante quase duas horas”. Além disso, “cortaram o acesso à internet, energia e desconectaram todos os servidores dentro de La Prensa”. “A ordem dos policiais era que eles fossem até o estacionamento, não desligassem os computadores e levassem seus telefones e pertences. Lá, a equipe editorial se reuniu com funcionários do departamento administrativo. Eram cerca de 50 pessoas detidas e vigiadas pela polícia. Eles não podiam atender chamadas. Eles estavam totalmente desconectados”, noticiou o jornal.

Os trabalhadores do jornal também contaram como viram Holmann ser escoltado de um edifício a outro pela polícia. “Vimos don Juan Lorenzo preocupado, suando”, contou o diagramador do matutino nicaraguense.

Na sexta-feira à noite, durante cerimônia de aniversário da Força Naval do Exército, o presidente acusou os donos do matutino de “mentir, caluniar, difamar, lavar dinheiro, não pagar impostos e ocultação de provas”. Também disse que não era verdade que “haviam ficado sem papel e que por isso o jornal não pôde sair”. “O Ministério Público e a polícia chegaram e encontraram o papel”, frisou Ortega. “Quando se mente dessa maneira, quando se calunia o Estado, está se cometendo um crime. E quem calunia, o que difama, vai para a cadeia”, acrescentou.

Algumas horas antes de informar sobre a prisão de Holmann, a polícia reforçou sua presença com supostos “agentes antimotins” sua presença na sede do La Prensa. O jornalista se juntou a mais de três dezenas de oponentes presos desde o final de maio passado, entre eles sete que pretendiam se candidatar às próximas eleições presidenciais, que ocorrerão no dia 7 de novembro.

É dessa forma que o atual presidente Daniel Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, buscam um novo mandato à frente do país centro-americano.