Com exacerbação do racismo anti-árabe, Netanyahu ameaça fraturar a sociedade israelense

“Queimem tudo”, incitou o primeiro-ministro de Israel, no sábado, ao convocar seus seguidores para um ato em Tel Aviv para “protestar contra um governo apoiado pelos partidos árabes”, liderado pelo opositor, Benny Gantz.

O opositor recebeu apoio dos deputados da lista conjunta de maioria árabe, que elegeu 13 deputados de um total de 120, para formar governo.

Ele tem até quarta-feira para anunciar um governo de maioria (com 61 parlamentares) ou de minoria, que teria em torno de 55 apoios e mais, no mínimo, 6 abstenções. As negociações estão a pleno vapor e, até agora, não se sabe se Gantz conseguirá o feito de tirar Netanyahu do poder, ou se haverá uma terceira eleição no mesmo ano.

Mas, basta a possibilidade de vir a ficar mais exposto a um período de reclusão, para fazer com que Bibi apresente-se totalmente desequilibrado e projetando seu desvario no adversário que teria “perdido o juízo” e apelando “parem esta loucura”.

Ao discursar no ato, Bibi Netanyahu acrescentou que tal governo seria “ataque nacional ao Estado de Israel” e também seria “celebrado em Teerã, Ramala e Gaza”.

Dias antes, em uma conferência de seu bloco, o Likud, Natanyahu acusou um dos principais deputados árabes israelenses, Ahmad Tibi, de haver lido no Knesset, parlamento israelense, o nome de “terroristas mortos em Gaza” no ataque de 2014.

Tibi entrou com uma queixa junto ao Comitê de Ética do Knesset, denunciando as declarações de Bibi como “caluniosas, difamatórias e humilhantes”. Segundo o deputado árabe, tais declarações “rebaixam o nível do debate público e são incitamentos que podem levar a violência física contra deputados eleitos”.

Tibi acrescenta que, “após a conferência, ele e sua família enfrentaram um aumento em incidentes de agressões e ameaças por telefone e nas redes sociais”.

Não é de hoje que Netanyahu apela para o incitamento racista contra os árabes. Na última das eleições através da qual alcançou mais um mandato ministerial, chamou os judeus a votarem em massa inventando que “os árabes, convocados pela esquerda, estariam indo em ‘manadas’ às urnas, colocando em risco a característica judaica de Israel”.

Mais recentemente, após o último resultado eleitoral, que deu vitória ao opositor, Benny Gantz, disse que “os árabes vão nos aniquilar”.

Mas agora, desceu mais um degrau em sua degradação abertamente racista, devido ao medo pânico da formação de um governo comandado pelo opositor Benny Gantz o que lhe tiraria o mandato de primeiro-ministro e às vésperas do anúncio de indiciamento por parte da Procuradoria Geral em três processos por “fraude, suborno e quebra de confiança” (caso tenha que enfrentar estes processos apenas como deputado, será julgado em um tribunal de primeira instância, em Tel Aviv, por um juiz especializado nos chamados crimes de colarinho branco mas, se estiver no cargo de premiê quando da denúncia, será julgado por um tribunal de segunda instância, com três juízes, em Jerusalém onde, acredita, terá mais chances de absolvição).

Dias atrás, ordenou um ataque provocativo, matando extrajudicialmente um comandante da facção palestina Jihad Islâmico, o que gerou, como reposta, uma saraivada de foquestes sobre diversas cidades ao sul de Israel, tudo isso com o intuito de trazer à tona a paranoia anti-árabe – de que seriam os árabes que atuam para destruir Israel e não o inverso, ou seja, de que é o regime israelense que tem atuado de forma sistemática para obstaculizar o desenvolvimento dos palestinos e a materialização de seu Estado soberano e independente – não hesitando em matar palestinos em Gaza e trazer risco de vida para os israelenses com o intuito egoísta de se safar da obrigação de pagar pelas transgressões de corrupção que cometeu.

Além do aspecto horrendo e odioso desta sanha racista, Netanyahu ameaça a sociedade israelense – na qual se mantém, apesar de toda a tensão, uma convivência entre os palestinos que ficaram em Israel depois da limpeza étnica de 1948 e os judeus que vieram das mais diversas partes do mundo, ou nasceram em Israel, após a sua fundação – de uma fratura que só pode levar à violência e à degeneração em termos de convívio e existência.