Nésio Fernandes: Bolsonaro não se comporta como líder contra covid-19
O secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, quadro do PCdoB, tem atuado desde janeiro numa grande operação para organizar o estado diante da emergência internacional do novo coronavírus. Já naquele mês, o estado havia instalado um Centro de Operações para garantir a segurança na área de saúde. Em entrevista ao Portal PCdoB nesta terça-feira (17), o médico sanitarista falou deste trabalho e da importância de coordenação para garantir o enfrentamento da crise em escala local e nacional.
O gestor também destacou algumas das medidas tomadas para minimizar a disseminação da pandemia em território capixaba, e tratou das ações que vêm sendo tomadas em âmbito federal. Nésio Fernandes reprovou a atitude de Bolsonaro frente à doença: “sem duvida alguma, são ações irresponsáveis. É formador de opinião, foi eleito com votação grande e um conjunto de pessoas segue o campo de pensamento que ele representa”, criticou Nésio, que também é médico sanitarista.
Ações coordenadas e emergenciais
Nésio explicou que o Espírito Santo acompanhou o Ministério da Saúde na instalação de um centro de operações para organizar o controle e combate a doença desde janeiro. A medida revela atenção ao aviso internacional e a gravidade alertada pela China.
“Além disso, nos estados do Sul e do Sudeste, já sabemos que estes são meses de risco potencial para doenças respiratórias, que tem comportamento sazonal. Isto nos fez aumentar a expectativa de maiores problemas na região”, comentou.
Na avaliação do gestor, enquanto as atitudes de Bolsonaro são mau exemplo, o Ministro da Saúde tem feito boa condução da crise.
“Tenho apoiado as condutas do [Luiz Henrique] Mandetta, que até agora estão a contento. Ele tem sido um gigante nesta crise. Questões pontuais têm sido colocadas, mas nenhuma divergência maior. Eu acho que o problema está no conjunto do governo, na falta de liderança do presidente. Bolsonaro não tem se comportado como o líder de que o país precisa diante de uma crise como esta”, ponderou.
“Os estados e municípios estão tomando medidas que não estão sendo capitaneadas pelo Ministério da Saúde e isso é ruim para o conjunto da condução. Eu avalio que em alguns locais, especialmente onde não havia casos, foram tomadas medidas desproporcionais e fora do tempo. A pressão política pode ter antecipado decisões e mostrou a incapacidade de liderança do presidente”, afirmou.
Além disso, adicionou, “medidas que precisariam ser tomadas, por exemplo, a liberação de recursos para contratação de serviços e compras só foram anunciadas nesta segunda-feira, isto precisava ter vindo semanas atrás e ainda não foi informado quando poderemos executar.”
Nésio comentou também as dificuldades de estados e municípios que precisam combater a pandemia vivendo importantes efeitos da crise fiscal.
“Por exemplo, a queda do preço do barril de petróleo gera queda de arrecadação aqui no Espírito Santo. O cálculo atual é que a Saúde capixaba pode perder 15% dos recursos no ano. É a União que tem capacidade de responder a esta e outras questões. É quem pode emitir títulos, repensar a questão dos impostos”, alertou.
Proteção dos capixabas
Na última segunda-feira (16), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), decretou emergência na saúde pública. A medida foi elogiada por Nésio como um passo necessário e importante para que o governo siga no rumo certo para conter a crise e proteger a população capixaba.
Nésio explica que o decreto nada tem a ver com descontrole, como o nome pode fazer supor. Pelo contrário, ela permite que as medidas administrativas necessárias sejam tomadas em tempo hábil para evitar problemas.
“Processos administrativos fazem demorar compras e licitações. O decreto de emergência em saúde pública permite que seja tomado um conjunto grande de decisões discricionárias. Com este instrumento posso, por exemplo, ampliar e construir leitos em diversas partes do estado, conforme já vinha sendo planejado”, informa.
“Por causa do comportamento da doença eu não posso pulverizar atendimento em um monte de hospitais. Por isso algumas unidades estão sendo preparadas. Por exemplo, o hospital Dr. Jayme Santos Neves, no município de Serra, que vai ser adaptado para 100 enfermarias”, explica.
“Precisamos aumentar o número de leitos e UTIs para evitar a necessidade de isolar o estado, coisa que alguns países, como a Itália, precisaram fazer”, comentou, explicando que, na outra ponta, é preciso baixar a necessidade de internações. Para isso é necessário que a população busque se proteger da doença com medidas como o isolamento, sempre que possível, além de lavar as mãos com frequência.
Ainda segundo Nésio Fernandes, a decretação de emergência permite a compra de mais kits para testes e equipamentos ventiladores e de monitoramento, medidas podem salvar vidas.
“Poderemos, inclusive, fazer requisição administrativa: por portaria, posso requerer hospital privado e transformá-lo em público. Se houver especulação de materiais e produtos, posso requerer e pagar o valor de mercado”, enumerou.
Até a noite desta quarta-feira (18), a secretaria de Saúde do Espírito Santo confirmou oito casos no Estado e nenhuma morte. Segundo Nésio, desde a terça-feira foi decidido mudar o protocolo e aumentar a testagem aleatória nos municípios onde já foi registrada transmissão local. Com isso, novamente, a ideia é se antecipar. “Precisamos saber como o vírus circula e assim descobrir se temos transmissão comunitária no estado”, explicou.
Tem cura, mas precisa cuidar
“É preciso dizer que temos pacientes curados no Espírito Santo. As pessoas olham às vezes como se fosse uma doença que transforma um paciente em zumbi. 85% das pessoas que tem a doença, passam por um quadro muito leve. Parece bom, mas este é um risco: alguém infectado pode não dar relevância por ser um quadro leve e nem se proteger. É necessário se preocupar com a chance de passar a doença a um idoso ou pra quem tenha imunossupressão”, afirmou o médico sanitarista, que solicitou à população que tome todas as medidas necessárias: “Cada um deve se isolar para proteger os vulneráveis”, alertou.