A woman holds a child as she walks past people waiting in line to receive testing during the global outbreak of the coronavirus disease (COVID-19) outside Roseland Community Hospital in Chicago, Illinois, U.S., April 7, 2020. REUTERS/Joshua Lott TPX IMAGES OF THE DAY

O coronavírus está infectando e matando negros e latinos de maneira desproporcional nos EUA, segundo dados de vários Estados e cidades. Nova Iorque é a cidade mais afetada pela covid-19 de todo o país, com mais de 5 mil mortes e 100 mil casos confirmados, e uma das poucas localizações dos Estados Unidos em quarentena.
Porém, duas comunidades estão sofrendo mais as consequências da pandemia, apesar de serem minorias étnicas e raciais, por não terem acesso à saúde e pela baixa qualidade de vida que sofrem.
Os hispânicos, que representam 29% da população de Nova Iorque, respondem por 34% das mortes de coronavírus na cidade, segundo os primeiros dados oficiais divulgados na quarta-feira (8).
E como em outras cidades dos Estados Unidos, a comunidade negra também está sendo particularmente afetada. Em Nova Iorque, ela representa apenas 22% da população, mas contabiliza 28% das vítimas.
“Este é um momento de apelo à ação”, disse Lori Lightfoot, prefeita de Chicago, onde os negros são mais da metade dos que testaram positivo e 72% das mortes por Covid-19 – mesmo que sejam menos de um terço da população.
“Esses números assustam”, disse Lightfoot, que é a primeira negra a ocupar o cargo. Em Illinois, 43% das mortes e 28% dos contaminados são negros – grupo que representa apenas 15% da população. Uma desproporção semelhante se repete nos Estados de Michigan, Louisiana, Carolina do Norte e Carolina do Sul.
Para especialistas, as razões são as desigualdades estruturais crônicas. Em tempos de quarentena, a maioria dos negros não pode ‘se dar o luxo’ de trabalhar em casa. Isso os coloca em alto risco de contrair a doença.
A enorme desigualdade também deixa os negros com menos condições de terem seguro-saúde e mais propensos a terem doenças preexistentes.
Além disso, há indícios de que os médicos encaminhem para testes poucos negros com sintomas da Covid-19, denunciam.
O prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, apresentou as estatísticas oficiais que confirmam que os hispânicos e negros representam 62% do total de mortos pelo Covid-19 respondendo a uma ação do Defensor do Povo Jumaane Williams.
Williams ressaltou que “os dados publicados, tanto da cidade como do Estado, mostram sem lugar a dúvidas que os nova-iorquinos falecidos por Covid-19 são desproporcionalmente negros ou latinos. Mas inclusive estas estatísticas são incompletas, já que os dados da cidade refletem que em 37% das mortes ainda se desconhece a raça”.
A promotora geral do estado de Nova Iorque, Letitia James, declarou que “falar que essa desproporção é inquietante seria dizer pouco. Crises da saúde pública como esta revelam e exacerbam as profundezas da desigualdade em nossa sociedade”.
James exigiu às autoridades tanto municipais como estatais, que façam mais para proteger os trabalhadores essenciais. “É necessário proporcionar-lhes equipamentos de proteção aos funcionários do transporte público, de supermercados, os que fazem entregas de comidas e trabalham em armazéns, assim como aos assistentes de saúde no lar, aos que trabalham com idosos e outros. É imperativo que também pensemos a médio e longo prazo sobre como enfrentar e resolver a desigualdade e garantir que o aceso universal à atenção médica seja um direito, não um privilégio. Este é um chamado à ação”.
No EUA os cidadãos precisam bancar despesas médicas altíssimas sempre que estão doentes, já que poucos conseguem pagar por planos de saúde, que não cobrem parte dos procedimentos, e pagam até mesmo pelos utensílios usados durante os atendimentos.
Isso se agravou com a pandemia uma vez que ela provocou mais 17 milhões de desempregados e, como lá, os planos de saúde são conectados às empresas, os demitidos se veem sem cobertura hospitalar de uma hora para outra.
Os Estados Unidos registraram, em 24 horas, 2.108 mortes relacionadas ao novo coronavírus, de acordo com uma contagem da universidade americana Johns Hopkins. Ao todo há mais de 530 mil casos confirmados e mais de 20 mil mortes.