Nave ‘Amal’ dos Emirados Árabes tira a primeira foto de Marte
A agência espacial dos Emirados Árabes divulgou no domingo (14) a primeira foto tirada pela sua sonda espacial Amal (Esperança), que entrou em órbita de Marte no dia 9, depois de sete meses de travessia.
“A transmissão da primeira imagem de Marte da Amal é um momento decisivo em nossa história e marca a incorporação dos Emirados Árabes Unidos às nações avançadas envolvidas na exploração espacial”, comemorou no Twitter o xeque Mohamed bin Zayed Al Nahyan. A imagem foi transmitida pela sonda quando estava a 25 mil km acima da superfície do planeta.
Após se aproximar de Marte, a Amal realizou uma manobra de inserção orbital, às 12h30 (horário de Brasília). Para entrar corretamente em órbita, os seis propulsores da nave foram ativados por 27 minutos, queimando metade do combustível, para reduzir a velocidade de 120 mil km/h para 18 mil km/h – um dos momentos críticos da missão espacial.
A enorme distância entre a nave e o centro de controle na Terra implica em um retardo na comunicação, à velocidade da luz, de cerca de 10 minutos, o que torna impossível o controle da sonda em tempo real.
“Ao povo dos Emirados Árabes Unidos, às nações árabes e muçulmanas, anunciamos a chegada bem-sucedida à órbita de Marte. Louvado seja Deus”, disse no dia 9 Omran Sharaf, o gerente de projeto da missão. Cerca de duzentas pessoas no centro de controle explodiram em júbilo. O evento fez parte da comemoração dos 50 anos da unificação dos sete emirados que compõem a nação.
“Os Emirados Árabes Unidos agora são membros do clube e queremos aprender mais, nos envolvermos mais e continuarmos desenvolvendo nosso programa de exploração espacial”, disse exultante o chefe da Agência Espacial dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed al Ahbabi.
Em comunicado, o vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados, Mohamed bin Rashid Al Maktoun, assinalou que o país leva “o mundo árabe a novas fronteiras no espaço profundo pela primeira vez na história”. “Nossa missão espacial leva uma mensagem de esperança e confiança aos jovens árabes”.
Também já está em órbita de Marte a espaçonave chinesa Tianwen-1 – que chegou no dia seguinte -, enquanto a missão norte-americana Mars 2020 deverá chegar na próxima quinta-feira dia 18.
Emirados Árabes, China e Estados Unidos lançaram suas naves em julho, aproveitando uma “janela” de máxima proximidade de Marte com a Terra, que ocorre a cada dois anos, o que possibilita fazer a travessia em sete meses ao invés de nove e economizar combustível.
687 DIAS TERRESTRES
A equipe da missão planeja realocar a Amal em outra órbita no mês de maio, para que complete uma volta em torno de Marte a cada 55 horas. Ao todo, a nave árabe irá operar durante um ano marciano completo, que corresponde a 687 dias terrestres.
O objetivo da missão é coletar dados por meio de três instrumentos científicos a bordo para estudar os fenômenos atmosféricos do planeta vermelho. O que inclui o clima na superfície, as camadas atmosféricas e os eventos que fazem com que átomos de hidrogênio e oxigênio escapem para o espaço.
Esta é a primeira missão de um país do Oriente Médio ao planeta vermelho. A Amal foi lançada em julho de 2020 por um foguete H2A Mitsubishi, desde o Centro Espacial de Tanegashima, na região sudoeste do Japão. Os Emirados desenvolveram o equipamento em cooperação com três universidades norte-americanas.
Com o tamanho de um automóvel pequeno e 1.350 quilos de peso, a sonda Amal custou em torno de 200 milhões de dólares, incluindo o lançamento. Ainda não foram divulgados os custos de operação em Marte.
A Amal irá fornecer uma imagem completa e inédita da dinâmica da atmosfera de Marte. De acordo Sharaf, os dados atmosféricos de Marte obtidos pela nave árabe serão disponibilizados à comunidade científica internacional a partir de setembro.
O objetivo mais de fundo é contribuir para o entendimento como Marte passou de um mundo quente e úmido que pode ter abrigado vida microbiana durante seus primeiros bilhões de anos para o lugar frio e árido que é hoje.
Como assinalou a cientista Sarah Amiri, do centro de controle espacial dos Emirados, “Marte faz mais sentido em explorar e compreender, especialmente quanto mais quisermos entender as mudanças climáticas, quanto mais quisermos entender como outros planetas no nosso sistema solar evoluem, especialmente aqueles que parecem
conosco”. “O único lugar em que somos capazes de olhar, talvez, de alguma forma, o futuro da Terra, é o nosso vizinho”.
O seleto clube espacial de Marte inclui os Estados Unidos, União Soviética, Rússia, União Europeia e Índia, ao qual acabam de se somar Emirados e China. Atualmente, dez missões estão em operação no planeta vermelho.
Recém-chegado à corrida espacial, o país árabe já colocou em órbita três satélites de observação da Terra – dois deles desenvolvidos pela Coreia do Sul e lançados pela Rússia e um terceiro, próprio, lançado pelo Japão. Em 2019, os Emirados enviaram ao espaço seu primeiro cosmonauta, Hazzaa Ali Almansoori, que passou mais de uma semana na Estação Espacial Internacional.
A missão chinesa a Marte terá como auge o pouso suave de um rover na parte sul da Utopia Planitia. Com a Tianwen-1, a China pretende avançar rumo a futuras missões que trariam de volta amostras de rochas e solo de Marte para a Terra – como acaba de fazer em relação à Lua.
A mais nova missão espacial dos EUA a Marte incluiu um novo rover, batizado como Perseverança, que será acompanhado por um helicóptero chamado de Engenhosidade. A Nasa descreveu o Perseverança como um “astrobiólogo robótico”, que irá procurar sinais que comprovem ter existido vida em Marte. Também experimentará tecnologias para fazer oxigênio da atmosfera marciana, visando futuras missões humanas a Marte e à Lua.
CHINA-RÚSSIA
Quanto ao nosso satélite, China e Rússia seguem dando passos para ampliar sua cooperação no espaço. Na sexta-feira, o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, instruiu a Roscosmos, agência espacial estatal da Rússia, a concluir um Memorando de Entendimento com a China confirmando a cooperação na criação de uma Estação Lunar Científica Internacional, registrou o Global Times.