Destroços do bote inflável que levava 130 imigrantes

Um bote inflável com 130 imigrantes a bordo naufragou na costa da Líbia, no Mar Mediterrâneo, na quinta-feira (22). De acordo com a ONG SOS Méditerranée, dezenas de corpos foram encontrados ao lado da embarcação.

O Alarm Phone, grupo de voluntários que informa sobre imigrantes em dificuldade em alto mar, havia enviado um alerta ao SOS Méditerranée, na terça-feira última (20), a respeito da presença de três embarcações em águas internacionais perto da costa da Líbia.

O Ocean Viking, o navio humanitário dessa ONG, e navios de carga se aproximaram da área apesar das difíceis condições meteorológicas, que provocavam ondas de até seis metros.

Um dos navios mercantes encontrou três corpos de migrantes mortos e, em seguida, um dispositivo da Frontex, a agência europeia de controle de fronteiras, encontrou os restos do barco inflável.

“Desde a nossa chegada ao local não encontramos sobreviventes, apesar de termos visto pelo menos dez corpos perto dos destroços” do barco, explicou em nota Luisa Albera, coordenadora de busca e salvamento a bordo do Ocean Viking.

De acordo com a ONG, a tragédia poderia ter sido evitada porque durante dois dias alertaram vários países mediterrânicos para enviarem ajuda enquanto ainda era tempo, mas ignoraram o seu pedido.

“Hoje, enquanto procurávamos incansavelmente sem receber o apoio das autoridades marítimas responsáveis, três cadáveres foram avistados na água pelo navio mercante MY ROSE”, explicou Albera. Segundo informe da ONG, um avião da Frontex, a agência de controle de fronteiras externas da União Europeia (UE), avistou os destroços de um barco de borracha logo depois.

As equipes de resgate não sabem o paradeiro de outro barco de madeira, onde cerca de 40 pessoas teriam viajado.

Ao tomar conhecimento do naufrágio, o diretor da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Eugenio Ambrosi, expressou nas redes sociais que “essas são as consequências humanas de políticas que não respeitam o Direito Internacional e os mais básicos imperativos humanitários”.

“Os Estados permaneceram inertes e se recusaram a agir para salvar as vidas de mais de 100 pessoas. Elas imploraram e lançaram chamadas de emergência por dois dias antes de afundar no cemitério azul do Mediterrâneo. Esse é o legado da Europa?”, disse no Twitter Safa Msehli, porta-voz da OIM, ligada às Nações Unidas (ONU).

A Organização avalia que pelo menos 8.670 pessoas atravessaram a rota do Mediterrâneo Central em 2021, quase o dobro do número registrado no mesmo período do ano passado (4.666), expressando a piora das condições de vida dos povos da região. E 453 migrantes morreram afogados no mar entre a Europa, África e Ásia desde o início de 2021, a maioria deles na rota central que conecta as costas da Tunísia e da Líbia com as da Itália.

A Líbia, país que era o de maior nível de desenvolvimento humano da África, segundo a própria ONU, se tornou o centro da imigração ilegal para a Europa após o país ser destruído pelos bombardeios da OTAN em 2011 e seu líder, Muammar Kadafi, assassinado. O que foi seguido pela repartição e pilhagem do país entre bandos rivais e até criação de mercados de escravos.