Trump voltou a insistir para que contagem de votos seja encerrada na noite desta terça-feira | Foto Ty Wright - Getty Images

Com o recorde de votação antecipada de 100,2 milhões de votos, chega ao Dia-D nesta terça-feira (3) o ‘referendo’ sobre o governo Trump – e especialmente sobre o desastre no enfrentamento da pandemia de Covid-19 e consequente devastação econômica.

O portal progressista People’s World explicitou a situação vivida no país: “um levante eleitoral nacional levou Trump à beira da derrota”, ninguém deve deixar de votar e a luta agora é para “que todos os votos sejam contados”.

Como expressou o senador Bernie Sanders, esta eleição é sobre “Trump ou a democracia”.

À tarde, Trump voltou a insistir na provocação de que a contagem de votos tem que ser feita e encerrada na noite desta terça-feira, e criticou a decisão da Suprema Corte que sustentou a prorrogação do recebimento dos votos pelo correio por mais três dias na Pensilvânia – um dos estados decisivos -, desde que com o carimbo do correio datado até 3 de novembro.

No domingo, o presidente havia afirmado achar terrível “que não possamos saber os resultados de uma eleição na noite da eleição…. Nós iremos na noite, assim que a eleição acabar, nós iremos com nossos advogados”.

Ameaça respondida pelo oponente democrata Joe Biden: “não vamos deixar Trump roubar a eleição”.

Também no domingo, o portal Axios denunciou que Trump discutira com assessores assaltar a eleição, por meio de decretar ‘vitória’ na noite desta terça-feira antes que todos os votos estivessem contados.

Para induzir uma “miragem vermelha” – a aparência de que Trump ficou na frente -, ao longo da campanha o presidente republicano repetiu que voto pelo correio é “fraude”, induzindo ao voto em pessoa – ao contrário do voto antiepidemia pelo correio -, na expectativa de que seriam contados primeiro.

Já os votos democratas provavelmente estarão fortemente concentrados entre as votações pelo correio e antecipadas – todas as quais normalmente levam mais tempo para serem contadas.

O que se deve a que as cédulas enviadas pelo correio devem ser retiradas dos envelopes, verificadas quanto à exatidão e conferidas antes de serem adicionadas à contagem.

Em alguns estados, esse processo pode nem começar até o dia da eleição – o que significa que os votos dos democratas podem aparecer mais lentamente do que os dos republicanos. Alguns estados, como Ohio e Flórida, anunciaram que irão contar todos os votos já na noite da eleição, enquanto outros podem demorar alguns dias.

De acordo com Trump, contar todos os votos traz “perigo” e “incerteza”. Pela manhã, ele havia desdito o que dissera. Mas agora remendou que irá decretar vitória ‘quando houver vitória’ e já montou um cenário caso resolva, uma ‘festa’ na Casa Branca para 400 convidados.

Toda a atenção está voltada para os chamados ‘estados pêndulo’, que são os que decidem a eleição e quem vai ocupar a Casa Branca nos próximos quatro anos no arcaico colégio eleitoral. Na democracia à americana, a decisão não é pela votação nacional; não existe uma justiça eleitoral e é como se fossem 50 eleições separadas.

É por isso que, apesar de os democratas terem ganhado no voto popular em seis das últimas sete eleições presidenciais, mesmo assim W. Bush e Trump abocanharam a Casa Branca.

Em 48 dos 50 estados, quem vencer, pela margem que for, leva todos os delegados. Em 2016, o que possibilitou a vitória de Trump no colégio eleitoral foi que ele virou três estados, por 77.000 votos, numa eleição em que votaram 138 milhões, e onde os democratas ficaram 3 milhões de votos na frente.

A participação neste ano pode chegar a 160 milhões (de um total de eleitores possível de 240 milhões de pessoas) e a margem de vitória na votação popular, graças a esse grande aumento na participação, deverá ser bem mais que os 3 milhões de votos da eleição passada.

Os republicanos não pouparam esforços para suprimir votos, como mostram as 300 ações que impetraram nesse sentido. Sofreram vários contratempos, como a decisão no Texas validando 127 mil votos colhidos em drive-in, ou a da Pensilvânia.

No esforço final pela vitória, a campanha de Biden jogou peso na Pensilvânia, enquanto o ex-presidente Obama foi até à Flórida. Como nos EUA é legal fazer campanha no dia da votação, é na Pensilvânia que Biden está hoje, pedindo voto. Biden, que é natural da Pensilvânia, mas fez carreira no vizinho Delaware, visitou o endereço de infância, onde deixou uma mensagem: “desta casa para a Casa Branca”.

Vários setores têm se deslocado no sentido da candidatura de Biden, como os jovens, as mulheres e os aposentados.

Trump fez uma maratona frenética por cinco estados, encerrando com um comício na mesma cidade de Michigan onde terminou sua campanha de 2016 – em que convocou a votarem nele, para “não perder para alguém como Biden”.

Nos comícios, mentiu de todo jeito, tipo a economia está tendo “o maior crescimento da história”, elogiou seu muro da segregação e despejou racismo contra imigrantes e chineses. Também fez apologia das milícias de ‘patriotas’ e desancou manifestantes antifascistas.

Já Biden manteve o foco da campanha em condenar Trump pelo desastre diante da pandemia e na convocação a “salvar a alma da nação”.

Quanto a isso, a votação está transcorrendo num quadro de agravamento da pandemia, à medida que o inverno se aproxima, com mais de 9,4 milhões de novos casos – 100 mil em 24 horas na semana passada – e 232 mil mortos. Trump ameaçou, se reeleito, demitir o principal infectologista do país, Anthony Fauci.

Diante das ameaças de Trump, uma ampla coalizão de organizações democráticas e populares e o portal “Proteja os Resultados” estão mobilizados para garantir que todos os votos sejam contados.

Outra medida do embate em curso nos EUA é que o custo total da eleição deste ano, incluindo as disputas presidencial e legislativa, se aproximará de US $ 14 bilhões, mais do que o preço combinado dos últimos dois ciclos eleitorais, de acordo com o grupo Center for Responsive Politics (CRP).