“Não temos porque ter medo de mudar”, diz Manuela em último debate
O último debate das eleições 2020, realizado na noite desta sexta-feira (27) pela RBS TV, afiliada da Rede Globo, consolidou de vez a diferença entre os candidatos à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela d’Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (MDB).
Por Priscila Lobregatte
Mais do que um embate de ideias, o debate explicitou a segurança e o preparo de Manuela, que mostrou conhecer a cidade, seus problemas e apresentou soluções factíveis para resolvê-los, além de deixar patente a diferença de projetos.
Independentemente de posições políticas e ideológicas, é preciso reconhecer — e o vídeo está disponível abaixo para quem quiser checar: Manuela desbancou o adversário sem nenhum tipo de rebaixamento, com civilidade, mostrando que a política é uma arte que pressupõe diálogo, divergência respeitosa e que pode ser um instrumento de transformação positiva da vida das pessoas.
“Não temos porque ter medo de mudar. Temos de ter medo de continuar da mesma maneira, com crianças nas sinaleiras, sem vagas nas creches, com as pessoas sem trabalho e renda. Sou candidata a garantir que Porto Alegre retome sua atividade econômica, com microcrédito, trabalho e renda para nossas mulheres e nossos homens. Mas sei que vivemos uma situação dramática. Há pessoas que voltaram a passar fome, há crianças trabalhando e e eu garantirei esse olhar atento às pessoas que mais precisam”, disse Manuela em suas considerações finais.
A candidata ainda acrescentou: “Quero governar para todos, de verdade. E todos são as pessoas que vivem em todos os bairros. Somos nós, mulheres, que jamais governamos Porto Alegre mesmo que estejamos na linha de frente da saúde, da educação e da assistência, as áreas mais importantes da cidade. Quero ter a possibilidade de ser a primeira prefeita de Porto Alegre porque sei que a política pode mudar a vida das pessoas. Para isso, nós precisamos construir um caminho novo. Chega dos mesmos de sempre”.
PPP no saneamento
Ao longo do debate, Manuela reafirmou seus compromissos com a resolução de alguns dos principais problemas da cidade. Questionada pelo seu adversário a respeito de parcerias público-privadas na área do saneamento, Manuela destacou: “Sou frontalmente contrária à parceria público-privada no Dmae. Em primeiro lugar, porque o Dmae é superavitário. Só no ano passado, foram mais de R$ 150 milhões que ficaram em caixa. Em segundo lugar porque as experiências nos mostram que a água fica mais cara”. Para aumentar o financiamento do setor e possibilitar que sejam feitas as obras necessárias, Manuela defendeu a formação de um banco de projetos para fazer captação de recursos nacionais e internacionais.
Fake news
Tema que esteve em alta na disputa em Porto Alegre devido ao volume de mentiras veiculadas a respeito da candidata e que renderam a ela vitórias no âmbito jurídico, as fake news também estiveram em pauta.
Manuela disse, dirigindo-se a Melo: “Tenho tentado, exaustivamente, falar sobre a cidade com o senhor. O senhor sabe que no seu programa de televisão teve que apresentar um direito de resposta meu porque mentiu que a minha candidatura espalhou mentiras contra o senhor. Hoje saiu um estudo nacional que aponta que 90% das ofensas na internet no segundo turno foram dirigidas a mim e a minha candidatura. Eu quero debater Porto Alegre e isso para mim significa enfrentar a cultura do ódio criada a partir do governo do presidente Bolsonaro que estimula a violência contra a mulher, contra negros e negras”.
Manuela colocou ainda: “acredito que debater Porto Alegre é, também, oferecer o exemplo. Precisamos dar o exemplo para as nossas filhas e filhos de que a política não precisa ser o espaço da violência, que a política pode ser espaço de confronto de ideias”.
Desigualdade
Sobre as desigualdades na cidade, Manuela salientou: “Eu quero ser uma prefeita para todos e isso significa reconhecer a desigualdade da nossa cidade; significa levantar a voz contra aqueles que fazem de conta que a cidade é um ambiente igual. Não é igual viver no centro, na zona sul dos ricos ou na zona norte. Não é igual ser uma mulher sem vaga na creche e alguém que vive perto da Auxiliadora ou na Redenção”, disse, mencionando bairros de classe média alta da cidade.
“Bicho-papão do comunismo”
Em outro momento do debate, quando o adversário tratou de questões ideológicas, Manuela rebateu: “Melo, estou feliz porque finalmente tu trouxestes o ‘bicho-papão do comunismo’ para o debate. Quero que o senhor e a senhora em casa comparem as nossas experiências. O meu partido governa o Maranhão, pegou o estado destruído pelo teu partido, pelo PMDB do Sarney. Lá, as escolas eram de barro. E o governador do meu partido, o Partido Comunista do Brasil, foi o único governador do Brasil que superou Leonel Brizola no número de escolas construídas”.
E agregou: “Lá, nós tivemos o maior crescimento econômico do Nordeste e o Maranhão foi o estado que mais gerou emprego durante a pandemia. Um negócio, para abrir no Maranhão, leva seis horas. Foi difícil recuperar depois do estrago que o MDB do Sarney, o teu partido, fez, mas nós estamos conseguindo. Querem assustar o senhor porque há muitos interesses no acordão da prefeitura. Não caia nesse papo”, disse Manuela, dirigindo-se aos eleitores.
Pandemia
Com relação à pandemia, Manuela disse: “Sou candidata a garantir que Porto Alegre não feche e é para isso que desde o primeiro dia da eleição, apenas eu e o Fortunati falávamos sobre a gestão própria da vacina. Precisamos imediatamente, ainda na transição, ir a São Paulo, discutir com o Butantan, garantir os insumos e a câmara fria para que a vacina seja conservada. Precisamos garantir que a vacina chegue logo que ela existir. Precisamos também garantir que a população seja testada. O teste dirigido e a atenção primária, as brigadas com nossos agentes comunitários, com as equipes do Imesf e das contratualizadas, é isso que garante que o povo tenha saúde”.
Segurança e emprego
Quando o assunto foi segurança pública, Manuela destacou, entre outras ações, medidas dirigidas ao combate à violência contra a mulher. “Quero estabelecer três casas de acolhimento para mulheres (vítimas de violência) e fazer com que a nossa Guarda Municipal crie a patrulha Guardiã da Penha, para assegurar às mulheres medidas de proteção”.
Manuela também falou sobre políticas de geração de emprego e renda na cidade.
Uma das medidas que defende é o microcrédito. “Sabemos que hoje milhares de pessoas nas comunidades empreendem”, disse, lembrando dos pequenos negócios, como os salões de beleza e as mulheres que fazem doces e bolos. “Precisamos garantir crédito para que essas pessoas enfrentem o que a crise de 2020 trouxe. A outra política é transformar as compras públicas municipais num instrumento de desenvolvimento econômico local”.
Moradia e educação
Sobre moradia, Manuela enfatizou: “Temos um projeto bastante ousado. Sabemos que existem 800 áreas que podem ser regularizadas na cidade e quero um Demhab (Departamento Municipal de Habitação) forte para garantir o maior plano de habitação de interesse social da nossa cidade. As áreas que são do município vão deixar de ter despejos e vão passar a ter titulação. As áreas que forem do Estado e da União quero negociar para que a gente possa fazer a regularização fundiária”. Ela propõe também que sejam ocupados 500 imóveis da prefeitura aptos para a moradia que estão abandonados.
Na área da educação, entre outros pontos, Manuela colocou: “Eu sou mulher e sou mãe e alguns esforços da administração eu quero conduzir pessoalmente. O primeiro deles é garantir que todas as crianças de 4 e 5 anos estejam matriculadas na educação infantil. É o que a lei diz e o que nós temos que cumprir”.