Márcia Moura, reitora da Universidade de Brasília (UnB).

A reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão, afirmou que a instituição “não é produtora de qualquer tipo de droga nem compactua com quaisquer tipos de ilícitos”. Em reunião do Conselho Universitário (Consuni), na quarta-feira (18), ela rebateu acusações feitas pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, contra instituições superiores de ensino.
No final de novembro, o ministro declarou a órgãos de imprensa que existiriam plantações de maconha em universidades. Criticado por não apresentar provas do que disse, ele usou as redes sociais para atacar a UnB e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Márcia Abrahão explicou que, em 2017, houve uma apreensão de pés de maconha próximo ao campus da Asa Norte, mas que as plantas não estavam em área que pertence à instituição.
“Isso realmente aconteceu. Mas imediatamente constituímos uma comissão interna, presidida por uma docente da Faculdade de Direito. A comissão trabalhou paralelamente ao trabalho da polícia. Durante as investigações, ficou comprovado que a área não pertence à Universidade de Brasília. Tudo isso está nos autos”, destacou.
“O processo foi extinto, e os três estudantes não foram condenados. Com base nisso, a comissão sugeriu o arquivamento do processo no âmbito interno. A nossa comunidade é bastante comprometida com a missão institucional e, quando há casos isolados como esse, tomamos as medidas cabíveis”, completou a reitora.
Durante a reunião do Consuni, Márcia Abrahão relatou que, no dia 9 de dezembro, a UnB recebeu e-mail reportando que Weintraub teria se reunido naquele dia com o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Walton Alencar Rodrigues, para pressioná-lo a não aprovar as contas de 2017 da instituição de ensino brasiliense.
“Nós, universidades federais, temos sido alvo de questionamento de uma parte da sociedade com relação à nossa importância. E isso começou mais fortemente no final de abril deste ano, quando o atual ministro da Educação fez o bloqueio orçamentário com argumentos de que estávamos fazendo balbúrdia”, acrescentou a reitora.
Em razão de suas afirmações levianas sobre plantações de maconha em universidades, o ministro foi convocado a dar explicações aos deputados da Comissão de Educação da Câmara. A reunião, que ocorreu na semana passada e durou mais de sete horas, foi marcada por muitas cobranças sobre a atuação do ministério.
O ministro foi questionado, por exemplo, sobre a baixa execução orçamentária do MEC e sobre a nomeação para cargos na pasta de pessoas ligadas a grupos empresariais de ensino.
Abraham Weintraub exibiu matérias jornalísticas colhidas na internet, as quais, para ele, seriam a prova das suas declarações. Houve confusão, quando o ministro exibiu matéria jornalística antiga mostrando a suposta plantação de maconha na UnB.
O ministro também exibiu reportagem sobre a produção de drogas sintéticas em laboratório de química na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e sobre a apreensão de maconha e haxixe na instituição.
A exibição do vídeo provocou reações indignadas de vários deputados, como de Marcelo Freixo (Psol-RJ). “Se a pauta vai ser exclusivamente esta, diante de tudo que está se passando em relação à crise nas universidades, à falta de investimento, isso é um desrespeito profundo à educação, e vou me retirar. É um insulto aos educadores, não dá”, afirmou o parlamentar.
Uma das signatárias do requerimento para ouvir o ministro, a deputada Margarida Salomão (PT-MG) também protestou, afirmando que as matérias apresentadas eram sensacionalistas e tratavam de eventos isolados, já apurados e desmentidos pela polícia e pela Justiça.
Segundo ela, as universidades federais são local de produção de conhecimento e um ministro não pode usar da palavra sem responsabilidade. “É seu papel como gestor da educação apurar, cobrar, inibir, impedir. Ao não fazer isso e tratar esse assunto como fofoca e meme, o senhor está praticando prevaricação, o que é inaceitável para o servidor público”, cobrou.
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) acusou Weintraub de cometer crimes ao tentar desconstruir a imagem das universidades federais brasileiras.
“Vossa excelência comete um delito quando assaca contra as universidades brasileiras. Comete delitos administrativos, pois se não aponta os responsáveis, comete crime de prevaricação, porque não denuncia oficialmente aqueles que deram conta àquilo que denunciou. E não denuncia por quê? Porque seria enquadrado em denunciação caluniosa. Fica manifesto seu interesse em desconstruir a imagem das universidades federais brasileiras. O senhor precisa ser demitido”, afirmou.