Nádia Campeão: é tarefa da militância revigorar e desenvolver o PCdoB
Os militantes do PCdoB que atuam no conjunto dos movimentos sociais devem “dedicar tempo e energia para a construção do Partido”, investindo especialmente no trabalho de base. A opinião é da dirigente comunista Nádia Campeão, secretária nacional de Organização do PCdoB.
Neste sábado (17), Nádia fez um informe especial sobre “Revigoramento Partidário” ao 9º Encontro Sindical Nacional do PCdoB, que está sendo realizado em Salvador (BA). A atividade reúne 462 delegados, de 23 estados brasileiros.
“Todo militante, todo comunista, tem de dirigir suas forças para construir o Partido. Isso precisa estar em primeiro plano”, explicou Nádia. “O ‘revigoramento partidário’ é o tema não só deste Encontro – mas de todas as reuniões do PCdoB desde o começo do ano.”
Segundo a dirigente, os anos que se seguiram ao golpe de 2016 foram “muito difíceis” para o PCdoB, sobretudo o período sob o governo de destruição de Jair Bolsonaro e sob a pandemia de Covid-19. “Passamos a atuar na resistência, como em muitas situações vividas pelo Partido nos últimos cem anos. Pagamos um preço alto e perdemos muitos filiados”, afirmou Nádia. Com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições 2018, “a luta contra o comunismo foi alçada à Presidência da República”.
Em contrapartida, conforme lembra Nádia, muitos dos quadros partidários “ligam sua perspectiva de vida a combater a opressão”. Assim, se foram “anos de resistência”, é preciso enfatizar que “foi uma resistência ativa – e os comunistas são bons de resistência”.
“Somos um partido de ataque. Se vencemos a última eleição presidencial, nossa reação tem que ser rápida. Temos de ir ‘pra cima’, com uma atitude ofensiva, para ocupar mais espaço no campo democrático e na esquerda brasileira”, resume a secretária do PCdoB.
Mas como enfrentar as debilidades e insuficiências do Partido – que perdeu votos e representação institucional nas últimas eleições? Para Nádia, “é tarefa da militância revigorar e desenvolver o PCdoB”, por meio de três eixos: a identidade, a linha de atuação e a estruturação do Partido.
“Temos cada vez uma identidade brasileira, abrasileirada, e já notamos que a população resiste mais ao termo ‘comunismo’ do que ao ‘socialismo’. Vamos trabalhar com essas percepções para avançar”, avalia Nádia. Há, no entanto, uma inquietação crescente com a relação entre o Partido e os movimentos sociais.
“Nós já fomos mais criativos e pioneiros. Entidades como CTB, UJS, UBM e Unegro foram inspirações do PCdoB para intervir melhor nas lutas – mas houve uma acomodação”, constata. “Como a base social e a realidade sociológica mudaram, precisamos de outros mecanismos de lutas e outras formas de comunicação.”
Sobre a linha de atuação, Nádia ressalta que “as ideias precisam ir para a prática”. Caso não estejam indo, é sinal de que “nossa concepção para alguns movimentos não acompanhou a diversidade crescente desses movimentos. Está mais difícil ampliar a base e renovar”.
Já a estruturação tem como vetor a política nacional de fortalecer o Partido na base, organizando os comunistas de forma firme e contante. Conforme Nádia, “é aí que vamos crescer e influenciar os movimentos sociais. As bases do PCdoB formam a escola de uma consciência mais elevada. O trabalho de organizar o povo e elevar essa consciência é permanente, sistemático”.
Nádia criticou os comitês de categoria que se reúnem de modo esporádico e apresentam baixa renovação. “São aquelas bases que se juntam mais em época de conferência, sem ampliação na base.” Nesses casos, o Partido tem muitos representantes na diretoria e poucos na base, no local de trabalho, no “chão da fábrica”.
“É indispensável que esses comitês de categoria reúnam os filiados, que querem participar da vida partidária. Não é mais possível deixar um filiado sem reunião por meses”, afirma Nádia. “E não é só filiar. A base precisa crescer sempre, tenha ele cinco, 50 ou cem filiados. Os laços de confiança e camaradagem se ganham no convívio.”
Outra ponderação de Nádia foi dirigida ao que ela chamou de “hiperativismo” dos comunistas. “De que adianta um militante que se desdobra em vários movimentos, mas não faz o Partido avançar? É melhor buscar mais gente para executar as tarefas nos movimentos e deixar esse militante com mais tempo para o PCdoB.”
Um exemplo positivo, nesse sentido, é o de comunistas que atuavam no sindicalismo baiano e se tornaram parlamentares. “Todos foram além de sua categoria e tinham trabalho em bairros, nas comunidades. Ao mesmo tempo que intensificaram as ações nas categorias, expandiram a atuação para onde os trabalhadores vivem.”
Na opinião de Nádia, uma base de categoria tem de “marcar reuniões regulares, divulgar materiais e opiniões do Partido, promover cursos de formação. Apoiar o Partido é uma tarefa de todos. Se os principais dirigentes não filiarem nem participarem de atos do Partido, não vai rolar”. A dirigente também sugeriu o uso de vídeos curtos, bem como exposições mais breves nas reuniões. “O revigoramento começou. Vamos chegar ao 16º Congresso do PCdoB, em 2025, mais fortes.”