Desde o Encontro Nacional de Organização do PCdoB, realizado em fevereiro, um desafio está lançado para militantes e dirigentes comunistas: o “revigoramento partidário”. Não se trata apenas de ajustar a tática do Partido à nova conjuntura política, aberta com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de outubro de 2022. “Temos de enfrentar também nossas debilidades e insuficiências”, diz Nádia Campeão, secretária de Organização do PCdoB.

Um número lembrado no Encontro de fevereiro dá a dimensão da tarefa. Na legislatura 2011-2015, a bancada comunista no Congresso Nacional era composta por dois senadores e 15 deputados. Hoje, são sete deputados e nenhum senador. O Partido foi atingido pela ofensiva anticomunista, perdendo força e voto.

As ameaças cresceram sob o governo Jair Bolsonaro (PL), e a derrota eleitoral de um líder da extrema-direita foi decisiva para as forças progressistas. Mas Nádia ressalva que, se o bolsonarismo perdeu, em contrapartida “a disputa com a direita permanece. Eles continuam a ter os comunistas no alvo”.

A ideia de revigorar o Partido – das bases à direção – não nasceu no Encontro. “O que fizemos foi retomar e aprofundar as resoluções que foram aprovadas por unanimidade no 15º Congresso do PCdoB”, explica a dirigente. “Num partido que funciona nacionalmente, o Encontro ajudou a estabelecer essa agenda de trabalho – uma orientação nacional.”

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Mas como voltar a crescer? Quais ações são necessárias para o PCdoB se revigore, rumo às eleições municipais de 2024? Como garantir essa construção política? Nádia destaca três questões, as quais, segundo ela, devem estar presentes no dia a dia do Partido:

1) O “lugar político” e a identidade do PCdoB

Tanto o 15º Congresso quanto o Encontro de Organização reafirmaram a centralidade do Programa Socialista do PCdoB, aprovado em 2009. O caminho para a execução do programa – a luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento – segue atual, ainda mais depois do governo de destruição de Bolsonaro. Nem por isso os comunistas se mantêm inflexíveis.

“Nos últimos anos, nossa identidade foi ‘abrasileirada’. Estamos com uma cara mais leve, mais contemporânea”, afirma Nádia, citando o exemplo do Festival Vermelho. Realizado na cidade de Niterói (RJ), em março de 2022, o festival foi o principal evento na programação do centenário do PCdoB. Seu logotipo era uma margarida estilizada e colorida, entrelaçada com a foice e o martelo, com o lema “Florescer a Esperança”.

2) As “linhas de acumulação”

Nádia afirma que o PCdoB precisa crescer e se enraizar sobretudo no conjunto dos movimentos sociais – o sindical, o comunitário, a juventude, os estudantes, as mulheres, os negros, entre outros. “É onde precisamos ter mais gente, mais perna, mais ação, Temos de renovar nossas estratégias de crescimento, definir novas frentes”, afirma a secretária de Organização.

O diagnóstico é que, mesmo em entidades com hegemonia dos comunistas, falta construção do Partido. “Nosso trabalho encolheu”, avalia Nádia. “Em determinados setores, os comunistas são capazes de promover plenárias maravilhosas, mas não conseguem organizar o movimento. Só que, sem isso, não teremos representatividade popular e social.” Este será um dos temas em debate no 9º Encontro Sindical do PCdoB, marcado para 16 e 17 de junho, em Salvador (BA).

3) A estruturação partidária

As direções são o “cérebro” do PCdoB. Por isso, os comunistas querem qualificar especialmente as direções partidárias nos estados, nas capitais e nos municípios estratégicos. Nesse sentido, Nádia elogia as “caravanas” que algumas direções estaduais já têm promovido, como na Bahia e no Rio de Janeiro.

“O papel central da direção é olhar para as bases, valorizá-las, fortalecê-las”, resume. “Hoje, temos em média um dirigente para cada 30 militantes. A base da nossa pirâmide está muito estreita e deve ser ampliada”. Além das caravanas nas bases, a dirigente recomenda que as direções fiquem atentas à agenda nacional, que prevê atividades como o Congresso da UNE e a Conferência Nacional de Saúde.

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O PCdoB também apresenta um calendário para 2023. Haverá, por exemplo, a 1ª Conferência Nacional do PCdoB de Combate ao Racismo, que será precedida por etapas estaduais.

Os comitês municipais e estaduais também farão suas conferências, a partir de agosto, para eleger as novas direções e debater, prioritariamente, temas centrais como o revigoramento do Partido e o pré-projeto eleitoral. De acordo com Nádia, “o ideal é que os comitês municipais já cheguem às conferências em condições de deliberar a tática para as eleições 2024”.

Outra missão dos comunistas é mudar o perfil do conjunto da direção partidária. “A boa direção é aquela que se preocupa com o funcionamento permanente do Partido, que sempre tem agenda e realiza atividades, que se reúne, faz debate e mobiliza”, diz Nádia.

Se o objetivo é revigorar o Partido, o foco dos dirigentes é a base. Conforme Nádia, “a presença nas lutas gerais e locais é o que garante o dinamismo do PCdoB. Para mobilizar e orientar a militância, as direções precisam investir recurso e tempo”.

Segundo a dirigente, no âmbito dos comitês municipais e estaduais, conhecer, debater e influenciar as pautas locais se torna estratégico: “Compreender a linha nacional, a posição política do PCdoB, não é o bastante. A ação concreta, local, muitas vezes tem muita força e é o que dá vida ao cotidiano”.

Daí a necessidade de formação de quadros partidários. “O crescimento do Partido deve estar ancorado numa ação militante forte. Quando há quadros militantes propondo ou liderando a luta, isso se torna um elemento de inspiração, que atrai mais pessoas ao PCdoB”, diz Nádia. “O contato do militante com o povo é indispensável.”