Jair Bolsonaro foi desmascarado pela divulgação do vídeo da reunião ministerial. Não é à toa que eles tentaram de todas as formas não entregar a fita para a Justiça. O próprio Bolsonaro disse na entrada do Alvorada, na noite em que o vídeo foi divulgado, que ele tinha decretado o caráter secreto de encontro. “A reunião ministerial era secreta”, disse ele.

Reclamou que o ministro Celso de Mello foi o responsável por retirar o caráter secreto da reunião.

Mas, mais do que a reunião, Bolsonaro se complicou bastante também com as declarações que fez nesta mesma sexta-feira (22) à noite na porta do Palácio do Alvorada. Depois de reclamar do ministro Celso de Mello, o presidente criou mais provas contra ele próprio, ao falar do que queria de Sérgio Moro. Disse explicitamente que queria que Moro interviesse em investigações de seu filho no Rio.

Em julho de 2019, operações de busca e apreensão foram feitas nas investigações de Flávio Bolsonaro. Em agosto, Bolsonaro tentou sem sucesso trocar o superintendente da PF do Rio.

Moro, é óbvio” compartilhou este trecho da entrevista de Bolsonaro em suas redes sociais. O investigado se lambuzava cada vez mais.

“O tempo vivendo sob tensão, né, possibilidade de busca e apreensão na casa de filho meu, onde provas seriam plantadas. Levantei, graças a Deus tenho policiais civis e policiais militares no Rio de Janeiro, que tava sendo armado pra cima de mim. ‘Moro, não quero que me blinde, mas você tem a missão de não deixar eu ser chantageado’. Nunca tive sucesso para nada, é obrigação dele me defender. Não é me defender de corrupção, de dinheiro no exterior. Não. É defender o presidente para que ele possa trabalhar, possa ter paz”, disse Bolsonaro.

E o próprio Moro respondeu: “Não cabe também ao Ministro da Justiça obstruir investigações da Justiça Estadual, ainda que envolvam supostos crimes dos filhos do Presidente. As únicas buscas da Justiça Estadual que conheço deram-se sobre um filho e um amigo em dezembro de 2019 e não cabia a mim impedir.” Pois esta é exatamente a denúncia que o ex-ministro da Justiça fez e está fazendo, que Bolsonaro queria interferir politicamente na Polícia Federal do Rio de Janeiro para proteger seus filhos, familiares e amigos de investigações de seus crimes.

Com o vídeo liberado, todos puderam ver nitidamente que ele pressionou Sérgio Moro porque não tinha “informações da PF”. Que não ele não queria deixar que sua família e amigos “se foderem”. É nesse contexto que Bolsonaro fala na tentativa não consumada de troca de comando da Polícia Federal no Rio de Janeiro. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou”, diz o presidente.

“Não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa”, afirmou.

E prosseguiu: “Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, afirmou. Depois de dizer essas palavras, Bolsonaro inventou que falava da GSI, que é responsável por sua segurança e de sua família e não da Polícia Federal.

Mas, ele mudou a direção da PF e não a direção da Abin. Não foi para o chefe do GSI que ele disse “mais um motivo para a troca”, foi para Moro. Ou seja, sua intenção, como se evidenciou depois, era tomar a Policia Federal de assalto e mudar a superintendência do órgão no Rio de Janeiro