Bolsonaro e Orbán

Mais uma vez, Jair Bolsonaro divulgou informações falsas sobre a Amazônia e disse em Budapeste, na Hungria, que o Brasil não destrói a floresta.

Bolsonaro abordou o tema em uma declaração à imprensa nesta quinta-feira (17), ao lado do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán.

O Brasil é motivo de cobranças recorrentes da comunidade internacional sobre preservação ambiental desde o início do governo Bolsonaro. Segundo o chefe do executivo, o tema foi abordado durante o encontro que teve com o presidente húngaro, János Áder.

“Há pouco conversei também com o nosso presidente da Hungria, ele se focou muito mais na questão ambiental. Eu tive a oportunidade de falar para ele o que representa a Amazônia para o Brasil e para o mundo. E muitas vezes as informações sobre essa região chegam para fora do Brasil de forma bastante distorcida, como se nós fôssemos os grande vilões no que se leva em conta a preservação da floresta e sua destruição, coisa que não existe”, afirmou Bolsonaro.

As reclamações mais frequentes entre chefes de Estado e outras autoridades internacionais apontam que o atual governo não adota uma política ambiental para evitar a destruição da Amazônia, que bate recordes sucessivos de desmatamento.

No ano passado, Bolsonaro foi alvo de severas crítica por ter escondido dados consolidados sobre desmatamento, para que a medição recente de 13 mil km² de devastação (maior número desde 2006) não fosse conhecida durante o período da COP26.

Informações falsas e distorções sobre dados do meio ambiente também estiveram em discursos do presidente na ONU e em conversa com empresários em Dubai.

Na conversa com János Áder não foi diferente. Bolsonaro recorreu ao engodo, usando dados que não correspondem ao que de fato ocorre no meio ambiente brasileiro.

“Nós preservamos 63% do nosso território. E não se encontra isso em praticamente nenhum outro país do mundo. Nós nos preocupamos até mesmo com o reflorestamento, coisa que não vejo nos países da Europa como um todo. Então, essa informação, essa desinformação passa para o lado de um ataque à nossa economia que vem obviamente em grande parte do agronegócio”, disse.

Entretanto, os dados sobre o tema divulgados por diferentes instituições indicam o contrário. Além disso, especialistas afirmam que a afirmação de que o Brasil tem mais de 60% de seu território com vegetação preservada, não corresponde à realidade.

De acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento na Amazônia em 2021 foi o maior em 10 anos.

O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do órgão, que monitora a região com imagens de satélites, aponta que 10.362 km² de mata nativa foram destruídos de janeiro a dezembro do ano passado. A devastação em 2021 foi 29% maior que no ano anterior.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia teve recorde de alertas de desmatamento em janeiro de 2022. Foi o pior dado para o período desde 2016, quando começou o monitoramento. Os alertas detectados no mês passado somaram 430 quilômetros quadrados, quatro vezes mais do que em janeiro do 2021.

Servidores e fiscais de órgãos como o Ibama também afirmam que o desmatamento registrado em janeiro foi resultado da contínua falta de ação do governo federal para conter os crimes ambientais na Amazônia. Eles apontaram o desmonte da fiscalização ambiental e a postura do presidente da República como incentivos à ação de criminosos.