Murad: Bolsonaro é mau exemplo e permite até especulação de álcool-gel
O médico Jamil Murad, ex-deputado federal e ex-vereador pelo PCdoB de São Paulo, avaliou como “muita grave” o comportamento do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus. Murad, que também é presidente da Cebrapaz, concedeu entrevista neste domingo (15) ao jornal Hora do Povo.
“Este é um momento em que o chefe da nação deveria se comportar como um estadista, liderar o país e colocar o poder público para tomar as medidas necessárias ao enfrentamento dos problemas que esta epidemia está causando e vai causar ao nosso povo. Mas não é isso o que estamos vendo. Nem as orientações do Ministério da Saúde ele está seguindo”, afirmou.
Ele lembrou que a restrição de reuniões, de transporte público e de funcionamento de empresas e de outras atividades culturais e esportivas causam muitos transtornos, principalmente para a população mais pobre.
Segundo Jamil, “há um grande número de pessoas muito pobres no país, desempregados, microempreendedores, moradores de comunidades desassistidas, e até moradores de rua, que não têm como agir num momento crítico como este sem o apoio do poder público”.
“É claro que o chefe da nação deveria estar concentrado no enfrentamento deste problema que tanto mal vai trazer para a população, mas não é com isso que Bolsonaro está preocupado neste momento”, observou o ex-deputado.
“Os trabalhadores estão sendo orientados a ficarem em casa, mas o governo não diz nada sobre os salários, sobre a garantia dos empregos”, questionou Jamil. “Não se poderá seguir as orientações do Ministério da Saúde sem saber sobre essas questões. São prejuízos e problemas que a epidemia traz a todos e que devem ser enfrentados pelas autoridades”, prosseguiu.
“E é num momento como este que nós vemos de forma ainda mais clara o mal que causa ao país um presidente com as ideias retrógradas do Bolsonaro”, afirmou ex-parlamentar do PCdoB.
“Fala-se em higienização das mãos, em uso de álcool-gel, lenços descartáveis, etc, mas o que nós já estamos vendo são os produtos básicos, como álcool-gel, máscaras, lenços, entre outros, que são necessários para a prevenção do contágio da doença, desaparecendo das prateleiras dos supermercados e tendo aumentos de até 300% em seus preços”, denunciou.
“O governo não tomou nenhuma medida para evitar essa especulação. Deixou que os mais aquinhoados comprassem tudo e, agora, os pobres são vítimas da ganância dos especuladores. Nenhuma medida é tomada, não há nenhum controle, nenhuma fiscalização por parte do governo”, prosseguiu.
“O que estamos vendo é um presidente que não respeita nem as orientações do seu próprio Ministério da Saúde e estimula atos públicos, e até comparece a um deles, com objetivos escusos, que não têm nada a ver com as necessidades do momento e com os problemas que a população brasileira está enfrentando”, observou o ex-deputado.
“Bolsonaro age de forma irresponsável ao desdenhar a epidemia e afrontar as orientações do Ministério da Saúde”, acrescentou o ex-vereador da capital paulista.
O político, que também é médico conceituado e atuante no SUS, alerta ainda para a precariedade da situação do Sistema Único de Saúde (SUS), “que já tem muita dificuldade, por falta de recursos, para atender a 75% da população brasileira, que depende do sistema”. “Com a pandemia, a demanda por serviços públicos vai aumentar muito”, afirmou.
“Não há leitos de UTI suficientes para atender a demanda que vai aumentar”, advertiu Jamil Murad. “Os pacientes que necessitarão de internação por causa do vírus vão permanecer por duas a três semanas internados. A estrutura atual não dá conta. O Ministério da Saúde tem tomado algumas medidas, mas são claramente insuficientes para enfrentar essa situação”, avaliou o líder político paulista.
Sérgio Cruz