Mulheres do Sul debatem propostas para a reconstrução do país
O debate das mulheres em torno de propostas voltadas para a população feminina, a serem incorporadas no programa de reconstrução do Brasil de Lula/Alckmin, concluiu mais uma fase neste domingo (26), com o Encontro Mulheres com Lula da região Sul. Militantes dos movimentos sociais e políticos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul se reuniram virtualmente e trataram dos seis eixos que constituem o documento-base das mulheres. O documento final contará com contribuições de todas regiões e será entregue para ser incorporado ao programa de governo da coligação Vamos Juntos pelo Brasil (PT, PCdoB, PV, PSB, Rede, PSol e Solidariedade).
O encontro foi concluído com ato político, com a participação de lideranças políticas que falaram sobre os desafios colocados na atual conjuntura e a necessidade de mudar a condução do país em busca da igualdade e da democracia e um olhar especial para as mulheres, principais afetadas pela crise, pela pandemia e pelo governo Bolsonaro.
Tais eixos dividem-se em: viver sem violência: um direito de todas as mulheres; trabalho-igualdade e autonomia econômica; saúde integral de todas as mulheres, garantindo os direitos sexuais e os direitos reprodutivos; política integrada de cuidados; educação não-sexista e cultura para a igualdade e desenvolvimento sustentável – promover a democratização e a igualdade nos territórios.
Com base nesses pontos, grupos de trabalho se reuniram para acrescentar ou alterar o documento-base, como forma de contemplar as especificidades e necessidades de toda a população feminina.
O documento que está em debate coloca que “um projeto de país que visa restaurar as condições de vida da população brasileira deve priorizar necessariamente as mulheres, especialmente as mulheres negras e indígenas”.
Dentre os temas colocados pelos grupos de debate estão, entre outros, a ampliação das delegacias da mulher e do atendimento psicológico às vítimas de violência; a inclusão com mais ênfase da atenção às mulheres com deficiência; o resgate da vida e do trabalho como centrais para o desenvolvimento; a revogação das reformas trabalhista e previdenciária e do teto de gastos; salário igual para trabalho igual; o apoio ao cooperativismo, à economia solidária e à agricultura familiar.
Também foi apontada a necessidade de fortalecer a educação com a questão de gênero; de enfrentar as desigualdades sociais e de acesso à educação; a construção de políticas públicas para mulheres em geral e com deficiências em particular, incluindo as mães de pessoas nessas condições; a legalização do aborto, trazendo o debate para o campo da saúde pública e da autonomia do corpo feminino e por políticas de combate à pobreza menstrual. Além disso, as participantes trataram do combate à fome e as políticas de segurança alimentar, bem como o acompanhamento nutricional das famílias; o combate às escolas cívico-militares e a necessidade de enfrentar a crise ambiental, que tanto agride as mulheres.
Ato político
Durante o ato político, lideranças falaram sobre o atual momento e a luta por um novo país justo, igualitário, democrático, e com direitos para as mulheres. Danusa Alhandra, da União Brasileira de Mulheres (UBM) do Rio Grande do Sul-RS, destacou: “vamos lutar para que possamos passar por esse período tão difícil, de tantas perdas para nós como mulheres, como trabalhadoras, como seres humanos. Somente nos quatro anos de Bolsonaro, tivemos 20 anos de direitos destruídos que terão de ser reconstruídos”.
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) falou sobre os contexto atual de desrespeito aos direitos das mulheres, sobretudo a partir do governo Bolsonaro e defendeu que é urgente romper com a atual realidade, na qual a pobreza tem a cara da mulher, especialmente a negra e a indígena. Também lembrou que a política de Bolsonaro em defesa ao uso de armas “é contra nós, mulheres, as crianças e os negros” e disse que é preciso reverter lógica da violência do Estado e enfrentar a fome, o desemprego e a precarização das relações de trabalho.
Ângela Albino, de Santa Catarina, que representou o PCdoB nacional, lembrou o caso da menina de 11 anos estuprada no estado e que havia tido seu direito ao aborto negado. Como forma de demonstrar a gravidade do atual momento e da ascensão da extrema-direita na sociedade, apontou que SC tem 530 núcleos de neonazistas. “Temos uma corrida de barreiras para vencer a eleição, conseguir tomar posse, ter serenidade política e governar”, salientou. Ela lembrou que durante os governos Lula e Dilma, era possível “discutir as questões das mulheres, construir políticas públicas e exercitar nossa democracia”, o que hoje não ocorre sob Bolsonaro.
Rebecca Neto, do PSol, declarou que “as mulheres formam um dos setores mais dinâmicos na luta contra Bolsonaro, especialmente desde o movimento Ele Não”. E completou: “queremos um novo futuro, onde a gente tenha nossos direitos ampliados e garantidos”.
Misiara de Oliveira, da executiva nacional do PT, colocou: “sabemos que a conquista de uma soberania e democracia plenas só será possível com a garantia plena dos direitos das mulheres, do povo trabalhador, da população negra e das minorias invisibilizadas”, acrescentando que é preciso enfrentar os problemas estruturais geradores das desigualdades no Brasil.
Representando o PSB, Maria Luiza Loose salientou: “é muito importante tirarmos esse governo fascista, homofóbico e machista, que vem acabando com todas as conquistas que tivemos”. Pelo PV-RS, Alda Miller, disse que “o encontro de hoje foi muito forte e simbólico, com as jovens ocupando seus espaços. Tudo isso é gigante em termos de democracia. Saio com o coração aquecido e com muita esperança para lutar”.
Laura Sito, vereadora PT de Porto Alegre, salientou que “colocar a agenda das mulheres com centralidade para a retomada democrática é estratégico”. As vereadoras do PCdoB de Porto Alegre Daiana Santos e Bruna Rodrigues participaram por meio de vídeos, nos quais defenderam a reconstrução do ministério de políticas para as mulheres e de políticas públicas e a garantia de oportunidades e emprego sobretudo para as mulheres da periferia e para a juventude.
Também enviaram mensagens as vereadoras do PCdoB Giovana Mondardo, de Criciúma (SC), e Laura Ajala, de Cruz Alta (RS), e do mandato coletivo do PSol de Ponta Grossa (PR), Josie e Ana Paula.
Próximos encontros
O primeiro Encontro de Mulheres com Lula ocorreu no dia 15, na região Norte. Os próximos acontecem nos dias:
27/06 – Encontro Mulheres do Nordeste com Lula (14h às 21h – híbrido, com presencial no RN)
29/06 – Encontro Estadual Mulheres de São Paulo com Lula (presencial)
01/07 – Encontro Estadual Mulheres do Rio de Janeiro com Lula (presencial)
02/07 – Encontro Mulheres do Sudeste com Lula (online)
Por Priscila Lobregatte