MPF denuncia assessor que fez gesto racista no Senado
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o assessor de Jair Bolsonaro para assuntos internacionais, Filipe Martins, pelo gesto racista que fez durante uma sessão do Senado Federal.
Jair Bolsonaro continua mantendo Filipe Martins como seu assessor.
A denúncia do MPF diz que Martins “agiu de forma intencional e tinha consciência do conteúdo, do significado e da ilicitude do seu gesto”.
O assessor de Bolsonaro acompanhou o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em uma sessão no Senado. Sentado atrás do ex-ministro, em posição em que era filmado pela câmera da TV Senado, Filipe Araújo repetiu um gesto feito pelos racistas ao redor do mundo.
O gesto consiste em fazer um “OK” com a mão esticando os dedos do meio, anelar e mindinho, para formar um “W” e um “P”. Em inglês, significa “White Power”, ou poder branco.
Martins diz que estava apenas arrumando o terno. Para o MPF, “não há casualidade nessas manifestações; há, sim, um padrão consciente e bem pensado de difusão de símbolos extremistas por parte de Filipe Martins. Sua consciência da ilicitude do gesto racista é, pois, evidente”.
“Ao realizar gesto que indica um suposto ‘poder branco’ (‘White power’), durante sessão transmitida por diversos veículos de comunicação, ainda que de forma codificada ou dissimulada, com vistas a alcançar pessoas que conhecem e entendem o seu significado, e a indicar a apoiadores que comungam das mesmas ideias que fazem parte de um mesmo grupo, o denunciado praticou racismo, induziu e incitou a discriminação e o preconceito de raça, de cor e de etnia, não somente contra negros, mas contra outros grupos sociais não brancos, como pardos, asiáticos e indígenas”.
Para os procuradores, Filipe Martins “apresenta padrão de comportamento e difusão de ideias ou símbolos extremistas”.
“Considerando publicações anteriores do denunciado e seu elevado conhecimento de simbologia política, não há dúvida de que Filipe Martins agiu com a intenção de divulgar símbolo de supremacia racial, que dissemina a inferioridade de negros, latinos e outros grupos discriminados e que induz a essa discriminação e a incita”, argumentam.
“Não é verossímil nem casual que tantos símbolos ligados a grupos extremistas tenham sido empregados de forma ingênua pelo denunciado, ao longo de vários meses em que ocupa posição de poder na estrutura da administração pública federal, nem que sua associação a grupos e ideias extremistas tenha sido coincidência em tantas ocasiões”.
“Com a velocidade da difusão de informações, a naturalização, pelos grupos extremistas, desse novo significado ocorreu de maneira extremamente veloz, tanto que esse gesto tem sido reproduzido em numerosas ocasiões por supremacistas/racistas”, continua.
Os procuradores consideram o agravante de que o racismo aconteceu “por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza”. Assim, a pena é de dois a cinco anos de prisão, com multa mínima de R$ 30 mil e perda do cargo.