Quando o ilegítimo governo de Michel Temer completou dois anos, lançou a seguinte frase comemorativa: “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. Tirando a vírgula, foi uma confissão de culpa do retrocesso que está praticando com o país. A mais recente vítima de cortes nas áreas sociais que o governo pratica é o esporte brasileiro. No dia 12 de junho foi editada a Medida Provisória 841, que retira recursos da Loteria Federal, antes repassados à saúde, cultura, educação, assistência social e esporte para repassar para o Fundo de Segurança Pública. Apenas na área esportiva, a perda de recursos será equivalente a 514 milhões de reais por ano. Dinheiro que era redistribuído para as secretarias municipais e estaduais e para entidades esportivas que desenvolvem projetos de esporte educacional e participativo.

Por Wadson Ribeiro*

Os recursos eram destinados para a juventude brasileira que pratica esporte como complemento educacional, transformando-o em vetor de desenvolvimento social. Esta política começou a ser implementada pelo presidente Lula, que no início do seu primeiro governo criou o Ministério do Esporte, onde tive a oportunidade de participar entre 2011 e 2014. Vivi de dentro o esforço que foi feito para estruturar a pasta, com programas importantes como o Segundo Tempo, que oferece aos estudantes de escolas públicas um turno extra para prática de esporte. No programa é oferecido saúde, opção de vida, mercado de trabalho e o mais importante, um caminho alternativo às drogas e à tentação do mundo do crime.

Para estruturar o sistema nacional do esporte, procuramos alternativas de financiamento para a área, como a criação da Lei de Incentivo ao Esporte. Entre as verbas existentes, estava a destinação de uma fatia da arrecadação das loterias para o próprio ministério, governos estaduais, municipais e entidades esportivas, para aplicação prioritária em esporte escolar, formação de atletas e outras ações de estímulo ao esporte de base. E é justamente desta fonte que agora o governo Temer vem retirar os recursos para transferi-los para políticas repressivas de Segurança Pública, como a intervenção militar no Rio de Janeiro.

Nestes tempos de Copa do Mundo, os olhares dos brasileiros se voltam atentos para nossos jovens com camisa amarela que nos representam na Rússia. Há de se refletir sobre quantos deles vieram de famílias pobres, que tiveram como única oportunidade o esporte praticado na escola pública. Foi ela que serviu de ponte para hoje brilharem no mundo inteiro. Se a Medida Provisória 841 não for derrubada, não haverá mais esta oportunidade para as novas gerações. A elas, pode ser oferecida como única alternativa servir de soldado na guerra do tráfico e polícia que está comprometendo nosso futuro.

*Wadson Ribeiro é presidente do PCdoB-MG e pré-candidato a deputado federal.