Os movimentos sociais anunciaram que estarão nas ruas para fazer valer o voto popular e a soberania nacional

Os movimentos sociais bolivianos convocaram neste domingo a população a se mobilizar pacificamente para “derrotar a tentativa de golpe de Estado” dirigida pelos que insistem em desrespeitar o voto popular com distúrbios, “prejudicando os mais humildes e não deixando trabalhar os comerciantes”.

Derrotados nas urnas, esclareceu o presidente, estes setores são amplamente minoritários dentro da própria oposição. “Não deixemos que passem ao mundo uma imagem da Bolívia identificada com golpismo, ódio, racismo e discriminação. Não se pode compreender como alguns grupos tratem de nos fazer odiar. Superamos bastante isso de instigar ao desprezo e ao ódio”, frisou.

Para o presidente reeleito, é necessário encontrar mecanismos de “reconciliação, sempre no marco do respeito à Constituição e ao povo boliviano”. O recente assassinato de dois manifestantes e o ferimento de duas centenas por grupos fascistas, presos portando armas de fogo e dinamite, demonstram o completo descolamento da realidade a que chegaram.

Evo condenou que grupos de direita pretendam fazer tábula rasa do voto quando o Movimento Ao Socialismo (MAS) saiu vitorioso do processo eleitoral com mais de 10% dos votos à frente do segundo colocado, Carlos Mesa. Derrotado, Mesa já mudou várias vezes de opinião sobre o informe da OEA. A mais recente é que respeitará a decisão.

Em contraposição às vacilações de Mesa – que foi vice-presidente de Sánchez de Losada, responsável pela morte de 67 manifestantes e o ferimento de mais de 500 no Massacre de Outubro de 2003 – Evo citou realizações populares no município de Toco, onde o reconhecimento ao MAS, que lidera, lhe deu o respaldo de 87,46% dos eleitores: “agora querem desconhecer o voto do movimento camponês, indígena, originário”.

 “Seremos respeitosos com as conclusões do informe da OEA e dos países. Esperamos que seja um informe técnico e jurídico, e não político”, declarou o presidente, solicitando aos “embaixadores credenciados por todo o mundo que acompanhem o processo”. “E se encontrarem algum erro, dirão, e posteriormente o Supremo Tribunal Eleitoral esclarecerá”, acrescentou.

 DEMOCRACIA E SOBERANIA

Mobilizados em apoio ao processo democrático, os movimentos sociais anunciaram que estarão nas ruas para fazer valer o voto popular e a soberania nacional.

O secretário de Organização da Central Operária Boliviana (COB), Nicanor Baltazar, garantiu que de Norte a Sul, de Leste a Oeste, os trabalhadores estão unificados contra o retrocesso. “Aqui não virão mais para nos dizer o que temos de fazer, não virão mais com privatização, não virão mais para tentar levar nosso patrimônio, para desnacionalizar nossas riquezas a preço de banana como faziam”, apontou.

A secretária-executiva da Confederação das Mulheres Camponesas e Indígenas Bartolina Sisa, Segundina Flores, denunciou o clima de “pânico, de discriminação e racismo” em que se encontram as mulheres, devido ao preconceito exacerbado demonstrado por setores elitistas, “particularmente contra as de pollera [saia longa utilizada pelas indígenas]”. Flores anunciou que haverá concentrações “somente de mulheres” em defesa de Evo nas cidades de La Paz, Cochabamba, Oruro e Tarija.

Dirigente da Federação de Trabalhadores Camponeses, Demetrio Zeballos, informou que na terça-feira haverá uma mobilização “em defesa do voto rural” e contra os bloqueios urbanos realizados por mercenários, gente movida a dinheiro para tumultuar. “Não estamos fazendo nenhum cerco, mas não descartamos realizar um para garantir que a democracia prevaleça”, esclareceu.