Moscou: “Washington deve deixar cubanos definirem seu destino”
“Fazemos um chamamento a Washington para que tome finalmente uma posição concreta para se livrar da hipocrisia e agendas ocultas na política, e deixar que os cubanos, seu governo e seu povo, tomem conta de si mesmos e determinem o seu destino”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, durante coletiva de imprensa realizada na quinta-feira (15).
A diplomata garantiu que o objetivo de Washington é buscar a realização de uma ‘revolução colorida’ – como são chamados os levantes provocados pelos EUA para derrubar governos que não se submetem – em Cuba, depois que no último domingo, 11 de julho, ocorreram vários protestos de opositores do governo de Miguel Díaz-Canel em diversas localidades do país caribenho.
“A lógica é simples aqui. Têm sido provado inúmeras vezes por Washington um mesmo modo de operação: instigar revoluções coloridas contra regimes indesejáveis. A princípio, são introduzidas sanções contra eles e problemas artificiais são criados ou impostos do exterior, complicando a situação social e econômica. Com base nisso, as tensões aumentam e o sentimento antigovernamental é agitado. Quando uma massa crítica é alcançada, toda a culpa recai sobre o governo nacional. As etiquetas estão ancoradas nele, a sua atividade está desacreditada e, por isso, a situação fica à beira do colapso”, explicou a diplomata russa.
Segundo indicou Zakharova, “têm havido tentativas de usar o mesmo esquema em Cuba. Apesar de todas as medidas tomadas pelas autoridades centrais cubanas para apoiar a economia do país e prestar assistência aos cidadãos, Washington os culpa pela crise atual. Alegam que Havana se recusa a aceitar ajuda dos Estados Unidos, não quer participar dos mecanismos internacionais de distribuição de vacinas e leva a cabo uma política antipopular em geral”.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia também destacou que “o cinismo especial de Washington se reduz ao fato de que, ao longo da história da Cuba revolucionária, manteve deliberadamente uma estratégia de asfixiar o país caribenho, discriminar seu povo e destruir a economia”.
A representante da diplomacia russa destacou que “as declarações dos Estados Unidos nas quais se atribui ao governo cubano toda a culpa pela situação no país levantam as sobrancelhas [em sinal de espanto]”.
“Estamos desconcertados com as declarações oficiais dos Estados Unidos sobre a situação em Cuba em relação aos últimos acontecimentos. Com surpreendente descaramento, os Estados Unidos retratam os acontecimentos em Cuba em todos os níveis, incluindo o anúncio oficial feito na sessão informativa do Departamento de Estado em 13 de julho como consequência dos erros do governo [de Cuba] ”.
“A discriminação de Washington ainda está ativa e é ainda mais severa durante a pandemia global, que requer reconciliação e esforços unidos. Os Estados Unidos estão falando sobre necessidades humanitárias; no entanto, estão aumentando as tensões e o confronto em busca de seus próprios interesses mesquinhos e egoístas”, assinalou.
“Moscou pede a Washington que não interfira nos assuntos internos de Cuba e levante o bloqueio do país devido à difícil situação na Ilha”, declarou María Zakharova. “Há apenas uma coisa que é exigida dos Estados Unidos e seus apoiadores: não interferir nos assuntos de um Estado soberano “, disse.
“E se Washington está realmente preocupado com a situação humanitária em Cuba e quer ajudar os cubanos, devem começar por si mesmos, levantando o bloqueio, ao que se opôs desde o início toda a comunidade mundial”, sublinhou.
Como observou Zakharova, “os estadunidenses estão negligenciando seus próprios atos subversivos e objetivos conjunturais”, destacando acontecimentos a exemplo do assalto ao Capitólio no dia 6 de janeiro.
“As ações de Washington em relação a Cuba representam outro movimento político, um exemplo da política norte-americana bem estabelecida de dois pesos e duas medidas com uso seletivo das normas jurídicas e com uma interpretação tendenciosa e diferenciada diante de fatos semelhantes”, concluiu a porta-voz.