‘Irresponsável’, declara a porta-voz russa Zakharova, sobre arroubo de ministra alemã

“A chefe do Ministério da Defesa da República Federal da Alemanha (…) fez algumas declarações absolutamente inadmissíveis sobre conter a Rússia e a possibilidade de usar (…) armas nucleares”, disse Zakharova.

O arroubo de Kramp-Karrenbauer foi prontamente repudiado também na Alemanha, com o líder dos social-democratas no Bundestag (parlamento), Rolf Mützenich, cujo partido venceu as recentes eleições, exigindo que ela “não sobrecarregue a política do novo governo alemão” com tais declarações, que chamou de “irresponsáveis”.

“As recentes conclusões da ministra da Defesa sobre o uso de armas nucleares no conflito com a Rússia são irresponsáveis”, disse Mützenich em entrevista ao Deutsche Presse-Agentur.

“Não está claro para mim se a ministra estava se referindo às armas nucleares armazenadas na Alemanha”, disse ele, sobre a questão óbvia de que são norte-americanas e de uso decidido por Washington, e que sobre isso Kramp-Karrenbauer não decide nada. Ele acrescentou ter pedido a ela “que não sobrecarregue a política do novo governo alemão”.

A declaração da ministra foi feita em resposta a um jornalista da Rádio Deutschlandfunk sobre possíveis cenários da Otan para intimidar a Rússia, incluindo o uso de armas nucleares.

Em Moscou, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, reagiu à provocação, lembrando “como isso já acabou para a Alemanha e a Europa, a ministra da Defesa da Alemanha deve saber muito bem”. Ele acrescentou que, em meio a essas exortações a ‘conter a Rússia’, é a Otan que tem consistentemente deslocado forças para as fronteiras russas.

Segundo ele, a segurança na Europa só pode ser geral, que leve em consideração os interesses de todas as partes. No entanto, assinalou, é a Aliança do Atlântico Norte que não está preparada para um diálogo de igual para igual sobre esta questão.

Após o incidente, a Rússia convocou o adido militar alemão para esclarecer a ameaça. Analistas aventaram a hipótese de que o arroubo de Kramp-Karrenbauer seja um gesto teatral, voltado para cacifá-la como eventual substituta do atual secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg.

Na cúpula de Bruxelas, a Otan fez o anúncio de que desenvolveu um novo ‘plano mestre’ – ou seria um ‘plano infalível’? – contra suposto ‘ataque russo’. O plano em si é secreto, mas as informações disponíveis apontam que se concentra em uma guerra não convencional, incluindo ataques nucleares, guerra cibernética e até mesmo guerra no espaço. Geograficamente, cobre toda a extensão da fronteira da Otan com a Rússia, do Báltico ao Mar Negro. O plano recebeu o pomposo título de ‘Conceito de Dissuasão e Defesa na Área Euro-Atlântica’.

Dr. Strangelove

Parece que estão de volta as lunáticas teses de que é possível vencer uma guerra nuclear, de que tipos como Herman Kahn foram expoentes, o que até mereceu um clássico do cinema, “Dr. Strangelove”, de Stanley Kubrick.

O ‘novo’ conceito militar da Otan foi repudiado pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que apontou que “não há necessidade de diálogo nestas condições”. “Essa aliança não foi criada para a paz, foi concebida, desenhada e criada para o confronto.”

Na semana passada, a Rússia anunciou a decisão de romper os laços formais com a Otan, retirando de Bruxelas seus representantes e fechando o escritório da Otan em Moscou, após expulsão gratuita de representantes russos.

Como assinalou o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, a relação de Moscou com a Otan não pode ser descrita como “catastrófica”, simplesmente porque “inexiste”.

As ameaças da Otan aparecem no momento em que a Rússia já pôs em operação seus mísseis hipersônicos, enquanto os EUA ainda tentam recuperar o tempo perdido assaltando países pobres no Oriente Médio e Ásia.

A mesma reunião da Otan que debateu seu plano para “conter a Rússia”, também ineditamente aprovou uma moção contra a China, afirmando que “suas ambições e seu comportamento assertivo representam uma ameaça sistêmica à ordem internacional”.

A declaração foi prontamente repelida pela embaixada da China na União Europeia, que assinalou que a Otan fabrica uma suposta ameaça chinesa e tenta “criar confrontos”.

A embaixada chamou as acusações de “calúnia contra o desenvolvimento pacífico da China” e de “continuação da mentalidade da Guerra Fria”, convocando a aliança atlântica a observar com “racionalidade” o desenvolvimento chinês.