Vassily Nebenzia, embaixador russo na ONU, discursa no Conselho de Segurança em Nova York. (Reuters/Brendan McDermid)

Rússia e China apresentaram ao Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira(16) proposta de alívio das sanções à Coreia Popular (Norte), especialmente as que têm impacto sobre a população civil, com o objetivo de “melhorar a situação humanitária no país”, e que se justifica pelo fato de que Pyongyang “está cumprindo suas obrigações decorrentes das resoluções pertinentes”, conforme a agência Tass.

O alívio está previsto nas próprias resoluções em vigor, bastando a vontade política para colocá-lo em prática. A resolução insta o CS a permitir a exportação, transferência e venda de uma variedade de itens necessários à população civil, inclusive máquinas e veículos de uso não-militar. Também argumenta que o projeto ferroviário intercoreano deve ser isento de sanções, juntamente com os materiais dos trilhos utilizados para sua construção.

Pela proposta, a eliminação desse tipo de sanções seria gradual e em reconhecimento ao respeito, pelos norte-coreanos, do compromisso de sustar os testes nucleares e a sua disposição em chegar à desnuclearização completa da península coreana.

O projeto elogia as negociações entre os EUA e a Coreia Popular e os esforços que as partes fizeram até agora para aliviar a tensão militar na península coreana, com Washington e Seul estendendo indefinidamente a suspensão de manobras militares de larga escala, ao mesmo tempo em que Pyongyang tem mantido sua moratória de testes nucleares e de mísseis de longo alcance.

O projeto sugere, como próximo passo para garantir que não ocorra nenhum conflito militar, que Washington e Pyongyang avancem para a adoção de um tratado formal de paz.

Além dessas negociações, a resolução assinala que seria bem-vinda a retomada das conversações multilaterais no nordeste asiático, a seis partes, ou formato semelhante, que já ocorreram anteriormente. Fórum que conta com a presença de Seul e Pyongyang, da Rússia, China, Japão e EUA.

No período anterior, Moscou e Pequim haviam pavimentado o caminho para a abertura das negociações na península coreana, ao propor a política de troca da suspensão dos testes nucleares e de mísseis de parte de Pyongyang, pela suspensão das manobras militares conjuntas dos EUA-Seul.

A Coreia Popular fez sua parte, com Kim Jong Un se encontrando em duas cúpulas com Trump (Cingapura e Hanói) e mais um breve encontro na zona desmilitarizada entre o norte e o sul – além de um encontro de diplomatas em Estocolmo -, mas a política que vem predominando em Washington de dobrar os coreanos pela fome e impor uma desnuclearização unilateral, que não acabou com a demissão de John Bolton e seu modelo “líbio” de desarme, fizeram com que o prazo dado em abril pelo líder coreano – até o final do ano – esteja se esgotando sem qualquer perspectiva no momento de superação do impasse.

Na semana passada, Pequim havia conclamado que era “imperativo” aliviar as sanções, antes que ocorra uma drástica virada na situação na península coreana, após declaração de Pyongyang aos EUA de que não havia o que discutir em função de que os EUA não estão dispostos a conceder nada, “vem de mãos vazias”, e a negociação até aqui só serviu para uso doméstico e eleitoral nos EUA.

Embora o projeto russo-chinês ainda não tenha sido colocado em debate, Washington já rejeitou qualquer possibilidade de alívio das sanções, com uma fonte do Departamento de Estado dos EUA descrevendo à Reuters a proposta como “prematura” (a guerra acabou em 1953 …).

A mesma autoridade não se conteve e acusou Pyongyang de “ameaçar conduzir uma escalada de provocações” e de se recusar a se reunir para discutir a desnuclearização”. Provavelmente devia estar se referindo a que a volta de Trump ao termo “rocket man” foi prontamente respondida com “a volta do senil à senilidade”.

A pretensão de impor unilateralmente o desarmamento norte-coreano, por um governo que sequer respeita acordos assinados pelo antecessor e de que também são parte outros quatro membros do CS e a Alemanha e a União Europeia, sem nada conceder, além de ser contraproducente com um povo orgulhoso como o coreano e de história milenar, está em completa contradição com a declaração de Cingapura Kim-Trump.

Cuja essência era abrir um caminho de construção de confiança mútua, passo a passo, para superação de um passado de hostilidade, a caminho de um tratado de paz definitivo e da desnuclearização da península, não só do norte, em paralelo à reconciliação intercoreana e reunificação. Como advertiu um diplomata norte-coreano, depende inteiramente de Washington que “presente de Natal” os EUA vão receber.