Moscou adverte Washington pelas ‘sanções desastrosas’ do governo Biden
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia condenou as “fúteis” sanções norte-americanas e alertou para as “consequências desastrosas de tais provocações”.
Em nota, o governo russo advertiu aos Estados Unidos que “na realidade atual não há espaço para ditames unilaterais” e qualificou de “hipócritas” os pedidos da Casa Branca para evitar a escalada das tensões. “Agora é a hora de os EUA mostrarem prudência, abandonando seu curso de confronto”, acrescentou.
As denúncias acontecem depois que o Departamento de Estado expulsou 10 diplomatas da embaixada russa em Washington.
Além da expulsão de diplomatas, o governo de Washington também anunciou sanções contra seis empresas de tecnologia da Rússia sob o pretexto de apoio a atividades de ciberinteligência. Entre as sanções anunciadas também figura a de que o Tesouro estadunidense proibiu às instituições financeiras do país a compra direta de títulos da dívida emitidos pela Rússia após 14 de junho.
Fazendo uso do instrumento da reciprocidade diplomática, o governo russo anunciou a expulsão de 10 funcionários da embaixada dos Estados Unidos em Moscou.
Ao todo são 32 sanções que atuam na contramão do anúncio de uma primeira reunião de cúpula entre Biden e Putin, cuja intenção chegou a ser anunciada pelos dois países. Apesar das drásticas e inoportunas medidas, Biden declarou na sexta-feira (16) que os “Estados Unidos não buscam começar um ciclo de escalada e um conflito com a Rússia”.
O mal alivanhavado pretexto para toda essa saraivada de agressões contra a Rússia, citado por Biden, seria uma represália ao que considera “ações desestabilizadoras internacionais” que atacariam “interesses norte-americanos” .
Em tom a um tempo cínico e provocativo, Biden declarou: “Deixei claro ao presidente Vladimir Putin que poderíamos haver ido mais longe, mas decidi não fazê-lo porque queremos uma relação estável e previsível” e agregou ter feito uma “advertência” a Putin sobre isso em chamada telefônica ao dirigente russo.
Detentor de um histórico de invasões e interferência contra países e governos, Washington agora acusa Moscou, entre outras ingerências, de haver interferido nas eleições presidenciais norte-americanas de 2020, exatamente as que Biden e os democratas venceram.
A Casa Branca também alega que a Rússia violou “princípios bem estabelecidos do direito internacional”, aí incluído o fato do Kremlin ter aceito a decisão majoritária do plebiscito de 2014 na Crimeia, que historicamente esteve conectada à Rússia, solicitando ser integrada à Federação da Rússia depois que Ucrânia caiu nas mãos de um junta nazista e russófoba. Depois de despejar milhares de soldados da Otan em exercícios na Ucrânia e países vizinhos perto das fronteiras russas, Washington acusa agora a Rússia de deslocamento de tropas quando o país decide testar suas forças no sentido de garantir as defesas do país.
À descabida acusação contra estas medidas defensivas dos russos, a milhares de quilômetros do território norte-americano, o governo dos Estados Unidos acrescenta que Moscou estaria interferindo em “países e regiões importantes para a segurança nacional dos Estados Unidos”, e exemplifica com o Afeganistão do qual, aliás, Biden já prometeu e adiou que retiraria as tropas de ocupação.
O Kremlin se sentiu especialmente afrontado pelo fato de Biden ter recorrido à uma prerrogativa presidencial norte-americana de declarar uma “situação de emergência nacional” devido a supostas “ações hostis” da Rússia. Tal medida daria ao presidente carta branca para adotar 136 medidas adicionais sem consultar o Congresso.
O subsecretário Sergei Riabkov, encarregado das relações com os Estados Unidos, convocou o embaixador John Sullivan a “uma conversa” com a porta-voz diplomática russa Maria Zakharova. De acordo com o breve comunicado oficial, divulgado pela chancelaria local, Zakharova rejeitou “as ações inaceitáveis dos Estados Unidos”.
Na quinta-feira, Yuri Ushakov, assessor de política externa do presidente Vladimir Putin, declarou após se encontrar com o embaixador Sullivan, que os Estados Unidos deveriam “se abster de impor sanções à Rússia, enquanto estamos no período de preparação para uma cúpula de nossos presidentes”. O encontro foi proposto por Biden a Putin, “dentro de uns meses e num terceiro país” para definir, frente a frente, em que planos iriam impulsionar a cooperação entre as duas potências.
Diante da postura dos EUA, o Gabinete da Presidência russa disse que agora ficou “impossível” uma reunião a curto prazo. E o presidente de Comitê da Política Internacional da Duma (parlamento russo) disse que até começa a duvidar da possibilidade de que um encontro seja realizado.