Hesio Cordeiro

Um dos idealizadores de um “sistema universal de saúde” no Brasil e um dos principais responsáveis pela criação do SUS, o médico saniarista e professor Hesio de Albuquerque Cordeiro morreu no domingo (8), aos 78 anos, no Rio de Janeiro.

O médico, que morreu em função de uma doença degenerativa, dedicou toda sua vida à defesa da saúde pública e foi o primeiro sanitarista a assumir a presidência do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps).

“Hesio Cordeiro tem sua trajetória entrelaçada à própria história do movimento sanitário do país e dos acontecimentos mais marcantes da saúde, nos últimos 45 anos”, afirma a nota de pesar divulgada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), da qual Hesio Cordeiro foi reitor entre 1992 e 1995.

“A ciência, a saúde pública e a educação brasileiras lamentam a partida de um de seus grandes intelectuais”, diz a nota, que prossegue afirmando que o professor foi “crítico da mercantilização da medicina e das políticas privatizantes”.

Ainda durante a ditadura, Hesio Cordeiro fundou com um grupo de médicos o Instituto de Medicina Social (IMS) da UERJ, que lançaria as bases para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) na Constituição de 1988.

Essas bases foram formuladas em uma carta, de 1976, escrita com os médicos José Luís Fiori e Reinaldo Guimarães, considerada um manifesto em defesa da saúde pública e contrária à gestão da saúde promovida pela ditadura, segundo eles “uma política governamental privatizante, concentradora e anti-popular”.

“Transformem os atos médicos lucrativos em um bem social gratuito à disposição de toda a população”, afirma um trecho do documento, que propunha a criação de um sistema único de saúde sob a responsabilidade do Estado.

Hesio Cordeiro, que era mineiro de Juiz de Fora, também foi consultor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Durante sua estada à frente do Inamps, entre 1985 e 1988, foi responsável pela implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), e uma das principais lideranças nas discussões sobre saúde para a Constituição de 88, principalmente quando coordenou os trabalhos da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, que defendeu a universalização da saúde como dever do Estado.

Hesio Cordeiro foi ainda diretor da Agência Nacional de Saúde de 2007 a 2010 e, em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Grande perda para a saúde pública brasileira. Descanse em paz, Hesio. A melhor homenagem à sua vida é continuar lutando para fortalecer e aperfeiçoar o SUS”, afirmou o vice-diretor da Opas, Jarbas Barbosa.

Para o professor aposentado do IMS/UERJ, Reinaldo Guimarães, “perdemos todos, a universidade, os amigos e principalmente a política de saúde no Brasil. Hora de lamentar. E de inspirar-se em seu exemplo”.

A deputada federal Jandira Feghali, que é médica e foi sua aluna, lamentou a morte de Hesio em seu Twitter: “Precursor do SUS, íntegro, generoso. Grande perda para o nosso campo de afeto e luta. Coração partido. Solidariedade à família, aos nossos amigos e parceiros de defesa da Saúde, da Ciência e da VIDA!”