Foi uma pessoa digna do maior respeito, por sua integridade moral e dedicação sem limites ao povo simples e trabalhador. Grande amiga do PCdoB, nunca faltou ao apoio à causa socialista, segundo João Amazonas.

Por Osvaldo Bertolino*

Nexhmije Hoxha, viúva de Enver Hoxha, o líder da Revolução e do socialismo na Albânia, faleceu na terça-feira na terça-feira (25), aos 99 anos. Foi uma importante dirigente do Partido do Trabalho, deputada na Assembleia da República e diretora do Instituto dos Estudos Marxistas-Leninistas, além de presidente da Frente Democrática, organização política e social de unidade popular.

Durante governo de caráter neofascista de Sali Berisha, que derrubou o socialismo embalado pelos ventos anticomunistas que varreram o Leste Europeu no final da década de 1980 e início da década de 1990, Nexhmije Hoxha ficou encarcerada por cinco anos. Mesmo sob feroz perseguição, segurou firme a bandeira da Revolução.

Ao comentar os motivos que levaram à derrocada do socialismo, numa entrevista em 2008, ela ressaltou que, mesmo com as dificuldades econômicas decorrentes do cerco ao país, havia uma forte justiça social. “Quando o padrão de vida foi comparado ao Ocidente, podia ser considerado modesto, mas havia um espírito igualitário”, disse ela.

Artigo de João Amazonas no jornal A Classe Operária comenta perseguição política a Nexhmije Hoxha

Livro de memórias

A notícia do seu falecimento foi divulgada por agências de notícias cercada de propaganda anticomunista. A Reuters recuperou trechos de uma entrevista dela sobre a perseguição do regime ditatorial pós-socialismo. “O objetivo do meu julgamento foi político, porque eu era a viúva de Enver Hoxha”, disse ela.

Em comunicado, seu filho Ilir Hoxha expressou sua “tristeza” e disse que sua mãe “dedicou toda a sua vida à libertação da terra natal e à construção de uma nova Albânia, ao progresso e à emancipação da sociedade albanesa”.

Nexhmije Hoxha, que publicou um livro de memórias, disse que Enver Hoxha “sabia como defender seu país de inimigos estrangeiros e locais que ameaçavam a existência da Albânia”. “Do que eu deveria ter vergonha? Por que pedir perdão? Não me arrependo de nada e não há nada pelo qual me sinta culpada. Só respeitávamos as leis em vigor na época”, disse ela à AFP, em 2008.

João Amazonas, com Enver Hoxha

Nascida em 8 de fevereiro de 1921, Nexhmije conheceu Enver em uma reunião clandestina do Partido Comunista da Albânia, em 1941. Casaram-se um ano depois. Em fevereiro de 2016, ela disse que “limpar a lama jogada em Enver era um motivo para viver tanto tempo”.

Integridade moral

João Amazonas, histórico dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) que manteve amizade com Enver e Nexhmije por muito tempo, escreveu no jornal A Classe Operária de 3 de agosto de 1992 que no pós-socialismo lideranças comunistas eram vítimas de “processos indecorosos, sem qualquer fundamento baseado no Direito e sem prazo para julgamento”.

Entre os presos destacava-se “a figura respeitável de Nexhmije Hoxha (…), mulher que desde a juventude combateu, ao lado de Enver, pela libertação da pátria e pela afirmação do sentimento de orgulho nacional do povo albanês”.

João Amazonas, Enver Hoxha e Diógenes Arruda Câmara (histórico dirigente comunista brasileiro)

“É pessoa digna do maior respeito, por sua integridade moral e dedicação sem limites ao povo simples e trabalhador. Grande amiga do nosso Partido e do povo brasileiro, nunca faltou ao apoio à causa socialista que defendemos”, asseverou.

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