Menem privatizou desde a Aerolineas Argentinas até a estatal do petróleo YPF

Faleceu neste domingo, aos 90 anos, o ex-presidente da Argentina, Carlos Menem, “o homem que nasceu para uma coisa e fez outra”, nas palavras do diretor do jornal Página 12, Luis Bruschtein. Inicialmente militante do peronismo, rapidamente renegou suas raízes, ficando “encarregado de demolir o edifício de justiça social e soberania econômica”.

“Tijolo por tijolo…dedicou-se a desmontar o que ainda havia ficado de pé dos primeiros governos peronistas: privatizou todos os serviços de água, gás e eletricidade, as comunicações, a siderurgia, as ferrovias, as Aerolíneas, desregulamentou a economia. Fez o que nem sequer os governos mais neoliberais do mundo haviam feito: privatizou a petrolífera estatal YPF”, denunciou Bruchstein.

Conforme esclareceu o jornalista, “as empresas do Estado foram privatizadas a preço vil em troca de papéis de uma dívida ilegítima, grande parte contraída pelos governos militares. E este processo se prestou a uma chuva de denúncias por subornos e corrupção”.

Seu chanceler, Guido Di Tella, definiu a política exterior como ‘de relações carnais’ com Washington.

Um acesso de capachismo explícito se verificou quando o então presidente Clinton visitou a Argentina e recebeu as mãos de Menem, que o chamou de “irmão” e “amigo”, as chaves de Buenos Aires. Ao fazer a entrega, o presidente argentino declarou a Clinton: “Pisando nesta terra, estará pi sando em sua terra”.

Clinton retribuiu dizendo que Menem era “um modelo a ser seguido”.

A Argentina firmara um acordo para se tornar “aliada extra-Otan”. Clinton disse que isso era um favor dos Estados Unidos ao país sul-americano: “um reconhecimento à extraordinária contribuição do país na manutenção da paz”.

“Convém ser amigo de um país tão importante como os Estados Unidos”, disse ainda o chanceler Di Tella, o das “relações carnais”.

Em outra genuflexão, Menem buscou a reconciliação com a Inglaterra, descartando a reivindicação da soberania sobre as Ilhas Malvinas.

“E assim deu por prescrito o conteúdo nacional e popular histórico do peronismo, ao que considerou ‘anacrônico e congelado nos anos 45’. Convocou a Domingo Cavallo, que acelerou o processo de quebradeira da pequena e média empresa e afundou os produtores rurais. Privatizou as aposentadorias e criou a fraude da Administradora dos Fundos de Aposentadorias e Pensões (AFJP). Milhões de cidadãos ficariam sem aposentadoria no futuro”, acrescentou Bruchstein.

Resumindo, frisou o diretor do Página 12, “foi uma festa para os ricos”, sempre favorecendo as grandes corporações. “Representou na Argentina a expressão mais clara da onda mundial que havia provocado a globalização neoliberal e proclamava o ‘fim das ideologias’. Essa frase queria dizer que o neoliberalismo não era uma ideologia, mas que expressava as forças naturais e lógicas da economia e arrasava com as ideologias que deturpavam essas ‘leis naturais dos mercados’, como o socialismo, o comunismo e os movimentos nacionais e populares, como o peronismo”, destacou.

Corrupção

A década em que Menem governou também foi conhecida como aquela em que a corrupção mais imperou na Argentina.

Desde suborno achacado de empresas para a liberação de importação instalação de máquinas (o denominado Swiftgate) até o uso planejado da aduana para lavagem de dinheiro do narcotráfico, um escândalo após outro envolviam elementos do governo e parentes de Menem.

O próprio Menem chegou a ser condenado por peculato, em 2015 (especificamente desvio de verbas para beneficiar ministros), a quatro anos e meio de cadeia e, em 2013, por envolvimento de contrabando de armas para a Croácia, a sete anos de prisão. O ex-presidente não chegou a cumprir pena em nenhum dos casos por se beneficiar de foro privilegiado por ser senador.

 

(PL)