Em 1952, a jovem moça nordestina, militante do Partido Comunista Brasileiro, é designada para a segurança pessoal de Prestes. Foi o início de uma luta que durou até a morte de Prestes, em 1990. Faleceu hoje, aos 92 anos, a militante comunista Maria Prestes. Ela foi internada no final de janeiro, em um hospital do Rio, ao ser diagnosticada com covid-19. Ela completou 92 anos na quarta-feira, dia 2 de fevereiro. Maria era viúva do líder comunista Luís Carlos Prestes (1898-1990), com quem conviveu cerca de 40 anos, quase sempre escondidos ou no exílio, e teve sete filhos. Em 1952, a jovem moça nordestina, militante do Partido Comunista Brasileiro, é designada para a segurança pessoal de Prestes. Foi o início de uma relação que durou até a morte de Prestes, em 1990. Maria, que nunca deixou de participar de movimentos políticos, escreveu o livro “O sabor clandestino de Maria Prestes”. É um conjunto de crônicas sobre a década de 1970, quando o casal morava em Moscou, na Rua Gorki, que hoje voltou a se chamar Rua Tverskáya. Também escreveu Meu Companheiro: 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes. Nas palavras da presidenta Dilma Roussef, o livro apresenta “o ponto de vista de uma mulher talentosa e guerreira sobre um período importante da história do Brasil”. A socióloga Ana Prestes é uma das netas que escreveu Minha Valente Avó, uma homenagem à Maria Prestes, que mostra em linguagem infantil a descoberta pela neta da coragem da avó, que foi uma militante pela liberdade. Nas redes sociais, ela descreveu sua memória feliz da avó, neste momento de luto:
Ilustração da memória afetiva de Ana Prestes para o livro Minha Valente Avó
A gente pensa que para todo o sempre, do outro lado da linha do telefone memorizado desde a infância, digitado como se fosse a própria extensão das mãos, vai atender aquela mesma voz. Que por trás da porta do endereço mais amado de toda a vida vai estar aquele abraço único. Que as janelas estarão sempre abertas e ventiladas, que no ambiente haverá música ou som da tv e que as estampas das roupas e das almofadas serão coloridas e sobrepostas. Que o café da tarde será regado a risadas e pão quentinho. E de surpresa vai surgir uma torta da geladeira. Que ela vai gritar que o banho tá demorado e que é pra apagar a luz pois não é sócia da light.
Maria Prestes falece neste 4 de fevereiro, dois dias depois de seu aniversário de 92 anos.
Que o plano pra manhã seguinte será o de partir para a praia sem hora pra voltar. Que no almoço vai estar na mesa o melhor feijão do mundo. Que a sobremesa vai ser uma bacia de mangas que ela vai descascando e picando enquanto conta histórias. Que de tardezinha, depois do chá, vamos deitar na cama da abuela para ver a novela. Que ela vai dormir antes do fim do capítulo e vai acordar antes do amanhecer ouvindo as notícias no radinho de pilha. Que no café da manhã a gente vai ouvir as histórias da infância dela em Pernambuco. E vai rir, e vai chorar e se indignar. Que ela não vai aceitar choro na despedida e vai encher nossa mala de presentes aleatórios. Que um dia, sem motivo, vai chegar em casa uma caixa sortida com ítens que vão da goiabada, a livros e pares de meia. Que nas eleições ela vai fazer campanha, vai torcer e acertar o resultado eleitoral. Que não vai te deixar desistir, que vai te apoiar, que vai te dar bronca e perguntar quais os planos para as próximas férias, os próximos trabalhos e os próximos amores. Que nunca vai haver Rio de Janeiro sem ela. A mais linda abuela. A gente pensa que é pra sempre. Não estamos preparadas para o inverso, reverso e transverso da vida sem ela.Te amamos vó Maria Prestes (por Cezar Xavier)