Morre aos 75 anos Vital Nolasco, militante histórico do PCdoB
O líder operário e ex-vereador de São Paulo Vital Nolasco, militante histórico do PCdoB, morreu nesta quarta-feira (19/1), aos 75 anos. Ele estava internado na UTI do Hospital Samaritano, na capital paulista, para tratar uma fibrose pulmonar crônica, mas não resistiu às complicações da doença.
“Venho informar com muita tristeza, infelizmente, a morte do Vital no dia de hoje”, comunicou seu filho, Daniel Nolasco. “Ele lutou bravamente pela vida durante esses 14 dias em que ficou internado. Foi acometido por uma fibrose pulmonar ou de origem idiopática ou oriunda de refluxo gástrico, de forma rápida. Nós, da família, agradecemos a todos os companheiros e companheiras pelos pensamentos positivos e manifestações de força, nesta hora difícil.”
Vital deixa a esposa, Maria Ester Nolasco – com quem viveu por mais de 55 anos –, filhos e netos. O velório será no Palácio do Trabalhador, sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. De lá, o corpo será transportado para o Crematório da Vila Alpina, onde será cremado, conforme desejo do próprio Vital.
A notícia da morte consternou amigos e companheiros de lutas. “O passamento de Vital Nolasco dói. É mais um dos comunistas que entram na galeria dos que sempre serão lembrados como exemplo de vida e luta”, afirma Walter Sorrentino, vice-presidente nacional do PCdoB, que conheceu Vital em 1982. “À sua companheira de toda uma vida, a combativa Ester, seus filhos Patrícia, Daniel e Iara, os genros, noras e netos, ficam os melhores sentimentos para compartilhar a dor da perda e a certeza de que Vital será um ponto luminoso do panteão de nosso partido. Ele nunca será esquecido”, agrega o dirigente.
Em nota, o presidente do PCdoB São Paulo, Wander Geraldo, também lamentou a perda. “Vital foi um desses comunistas que influenciaram gerações pela abnegação, pelo exemplo e pela fidelidade às lutas da classe trabalhadora. A memória de sua trajetória será sempre uma inspiração para aqueles que lutam pela emancipação dos trabalhadores, pelas causas democráticas e patrióticas e pelo socialismo”, registrou Wander, em nome da Comissão Executiva do PCdoB São Paulo.
Mineiro de Belo Horizonte (MG), descendente de escravos e indígenas, Eustáquio Vital Nolasco nasceu em 16 de dezembro de 1946. O pai, Orlando, trabalhava de padeiro e confeiteiro, enquanto a mãe, Diva, era lavadeira. Vital, o segundo dos 11 filhos do casal, precisou ajudar a família desde cedo, ainda mais depois que o pai foi trabalhar em Brasília e a renda da família diminuiu. Um trecho da autobiografia Vital Nolasco – Vale a Pena Lutar, de 2016, retrata as agruras desse período:
“Além de lavar roupa para fora, minha mãe pegava em um matadouro próximo o que se chamava de ‘barrigada’ – descartes dos porcos, como tripas, coração, fígado e pulmão – para fazer chouriço, que eu vendia em um campo de futebol de várzea no bairro, sobretudo nos finais de semana. Certa vez, a bola atingiu a bandeja, e os chouriços se espalharam pela terra.
Vendo a produção perdida, não contive as lágrimas. Penalizado com minha situação, o dono do time Santa Bárbara Futebol Clube – orgulho do bairro –, conhecido como Rato, juntou a rapaziada e fez uma vaquinha para cobrir o prejuízo (…).
Cresci como arrimo de família. Trabalhava também raspando pisos de tacos, preparando-os para serem envernizados. Outro serviço era pegar estercos no pasto, pôr para curtir, embalar em sacos e vender na vizinhança.”
Em busca de “uns trocados”, o pequeno Eustáquio tinha de conciliar trabalho e estudo. Ainda criança, andava dez quilômetros por dia, até uma vila distante, para comprar leite e revendê-lo aos vizinhos. Com 12 anos, trocou o leite por verduras e legumes, os quais ele trazia do Mercado Municipal de Belo Horizonte. A esta altura, comercializava os produtos de dia e estudava à noite.
Seu primeiro contato com o trabalho operário ocorreu em 1959, quando Vital tinha 13 anos e virou ajudante na serralheria de um tio. Como era comum entre os jovens trabalhadores da época, pulava de emprego em emprego. Aos 16 anos, por exemplo, fazia curso técnico em Contabilidade e era office-boy na Ciba do Brasil, uma indústria do ramo químico ligada à multinacional Ciba-Geigy (hoje Novartis). Nunca seguiu, porém, a carreira de contabilista.
Sendo integrante de família católica, descobriu a luta social pelas mãos da Igreja – na adolescência, Vital chegou a ser coroinha na Capela de São Jorge. Pouco antes do golpe de 1964, o padre José Miranda o apresentou à JOC (Juventude Operária Católica). Foi em meio a essa iniciação na militância – e a empregos em fábricas – que Vital tomou contato com o Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem.
“Em 1967, eu trabalhava como representante em uma empresa de máquina de calcular e ganhava salário mínimo. Lá eu conheci uma pessoa que me apresentou na empresa Sottex (Sociedade Técnica Têxtil Ltda.), que reformava máquinas de costura”, contou Vital, em 2018, numa entrevista para o Centro de Memória Sindical. “Aí, sim, fui ser metalúrgico. Entrei em contato com o sindicato entre o fim de 1967 e início de 1968.”
Vital era funcionário da Belgo Mineira e dirigente sindical quando explodiu, em abril de 1968, a greve dos metalúrgicos de Contagem – a primeira e histórica paralisação em pleno regime militar (1964-1985). A categoria – que reivindicava 25% de reajuste salarial – conquistou uma antecipação de 10%. “Foi um sentimento de vitória, apesar de não termos conseguido os 25% de aumento, nem termos derrubado a ditadura, porque aquilo era um sonho. Só pelo fato de a greve ter se expandido e ter confrontado a ditadura foi um movimento e tanto”, avaliou Vital.
Em outubro, veio a segunda greve, mais organizada, com adesão maior. Porém, a repressão também cresceu. O sindicato e seus dirigentes passaram a ser alvos da ditadura. Não houve conquistas – ao contrário, centenas de metalúrgicos foram demitidos, e dezenas de lideranças, presas. O AI-5 (Ato Institucional Número Cinco) – um “golpe dentro do golpe” que endureceu ainda mais o regime autoritário – foi decretado em 13 de dezembro de 1968. A perseguição a políticos, sindicalistas, líderes comunitários e estudantes se intensificou.
“No final de 1968, ou início de 1969, participei de um congresso da JOC em Recife e fui eleito para sua comissão nacional”, declarou Vital em depoimento ao livro Repressão e Direito à Resistência – Os Comunistas na Luta contra a Ditadura (1964-1985). “Eu já era da comissão estadual em Minas. Eles me queriam liberado para atuar na organização, mas não quis porque estava trabalhando, era operário e já participava da luta sindical.”
Na mira do regime em Minas Gerais, Vital se transferiu para São Paulo, onde passou a viver na clandestinidade. Não só a JOC o ajudava – mas também a AP (Ação Popular), outra organização de origem católica, com forte presença no movimento estudantil universitário. “O pessoal da AP me botou em contato com o Aldo Arantes, que me arrumou uma cópia do certificado de reservista”, relatou Vital. “Consegui tirar a carteira profissional e fui trabalhar na metalúrgica Wapsa, depois na Walita, fiz o curso de eletricidade no Senai do Tatuapé e aprendi a profissão de eletricista. Fui, então, trabalhar de eletricista na Philco.”
Esse período coincide com seus primeiros estudos do marxismo-leninismo e culmina com a entrada no PCdoB, já em 1972, em meio ao processo de incorporação da AP ao Partido, finalizado em 1973. É a época, ainda, da Guerrilha do Araguaia (1967-1974), que, sob a liderança do PCdoB, constitui a mais longa e épica das ações da luta armada contra a ditadura. O cerco aos comunistas avança em todo o País.
Em março de 1974, Vital foi preso quando estava na Delegacia do Ministério do Trabalho, em São Paulo, para fazer a homologação de sua demissão da Philco. Uma demissão para o qual ele próprio vinha pressionando a empresa, já ciente de que os órgãos da repressão estavam à sua procura. Levado ao temido DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna), ficou preso por 40 dias e foi barbaramente torturado. “Foram uns 20 dias de tortura. Torturas de todo tipo que se possa imaginar: pau-de-arara, cadeira do dragão, palmatória, choques elétricos, etc.” No Dops (Departamento de Ordem Política e Social), foram mais 20 dias de prisão política.
Mesmo solto e, posteriormente, absolvido pela Justiça Militar, Vital continuou sob a vigilância do regime e teve de se afastar temporariamente das atividades partidárias e sindicais. Envolveu-se com o Movimento contra o Custo de Vida, nascido nas periferias de São Paulo e depois rebatizado de Movimento contra a Carestia. Sua mulher, Esther, era uma das referências dessa campanha na zona sul paulistana. O contato com as lutas populares foi um contraponto à atuação mais cautelosa em outros movimentos. Em depoimento feito em 1989 a Carmen Lúcia Evangelho, Vital detalhou essa adaptação:
“Saí da prisão, fiquei respondendo processo, na Justiça Militar. Atuei no Sindicato dos Químicos, cheguei a falar nas assembleias, mas uma atuação muito tímida. Minha tentativa era legalizar a minha situação, porque estava em São Paulo na semiclandestinidade, quando cheguei de Belo Horizonte. Depois da minha prisão, levantaram toda a minha história. Fiquei na Squibb durante dois anos, até que terminasse o processo na Justiça Militar. Fui absolvido e voltei para a categoria metalúrgica. Nesse período, nunca deixei de acompanhar a movimentação dos metalúrgicos. Fui trabalhar na Rheen, na Chácara Santo Antônio, mas não participei muito, porque houve o massacre da Lapa (em 1976), que mataram companheiros nossos do partido. Ficou uma certa desarticulação na capital. Fiquei atuando, acompanhei as eleições de 1978. Depois fui trabalhar numa fábrica em Itapecerica da Serra, ligado ao Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, como não era conhecido na base, para ver se era capaz de participar. Fiquei até 1980.”
No final de 1977, houve uma força-tarefa para reorganizar as bases do PCdoB em São Paulo. A Vital, coube a missão de organizar o chamado “comitê distrital” do Partido na região fabril de Santo Amaro – o líder operário seria seu primeiro presidente. A força dos comunistas na Zona Sul se confirmou em 1978, nas eleições estudais: o operário ferramenteiro Aurélio Peres, trabalhador da Caloi e militante do PCdoB, elegeu-se deputado federal com expressivas votações na Zona Leste e na região da Freguesia do Ó/Brasilândia, mas tendo a Zona Sul como principal reduto de votos.
Em 1979, a Lei da Anistia reduziu a perseguição política, liberou todos os presos por “crimes de opinião” e permitiu a volta dos exilados. No ano seguinte, o regime permitiu o pluripartidarismo, mas vetou a legalização dos partidos comunistas. Ainda assim, o PCdoB passou a viver uma espécie de semiclandestinidade. Em São Paulo, além de contar com um deputado federal, o Partido filiaria o vereador paulistano Benedito Cintra. Devido à arbitrária condição de ilegalidade dos comunistas, eles exerciam os mandatos, formalmente, pelo MDB (depois PMDB).
Vital liderou a criação e foi o primeiro presidente, em 1980, do Centro de Cultura Operária (CCO). Pouco depois, começou a trabalhar na Metal Leve. “Havia uma orientação do PCdoB para os militantes do movimento sindical entrarem em grandes empresas”, contou Vital na autobiografia. “Voltei a frequentar o sindicato, a falar em assembleias, ter ativismo sindical intenso.”
Em 1981, na eleição ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Vital participou da campanha da Chapa 3, de oposição, encabeçada por Aurélio Peres. A entidade representava a maior base de trabalhadores da América Latina, com mais de 300 mil operários só na capital paulista. Só que, enquanto o sindicalismo se renovava Brasil afora e refletia o declínio da ditadura, os metalúrgicos de São Paulo estavam desde 1965 sob o comando de Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão.
Os críticos o acusavam de “peleguismo”: Joaquinzão evitava as portas de fábricas, o trabalho junto à categoria – mas mantinha relações estreitas com empresários e governos. Naquela eleição, ele lideraria a Chapa 1, de situação. A oposição, no auge, dividiu-se em duas chapas – a 2, vinculada ao PT, e a 3, organizada pelo PCdoB. A fragmentação favoreceu o grupo de Joaquinzão, que se reelegeu.
Na eleição seguinte, três anos depois, um acordo garantiu a participação de lideranças comunistas na diretoria do sindicato. “Eu achava que o Joaquinzão estava desgastado e havia a chance de renovação do sindicato por dentro”, afirmou Vital. Além disso, o sindicato aderiu à campanha das “Diretas Já”, pelo fim da ditadura militar e a redemocratização. A eleição foi apertada, mas deu Chapa 1 – e Vital foi dirigente da entidade de julho de 1984 a junho de 1987. Seu cargo: 2º secretário.
“Joaquinzão era pelego, mas, na época em que fui da diretoria do sindicato, não éramos impedidos de fazer trabalho nas fábricas e organizar os trabalhadores. Hoje, acredito que criamos uma imagem exagerada dele”, ponderou Vital anos depois. Com mais trabalho de base, o número de metalúrgicos sindicalizados passou de 44 mil para 110 mil. Só na Metal Leve, sob a liderança de Vital, a quantidade de sócios do sindicato dobrou – de 750 para 1.500.
Um dos marcos dessa gestão foi a greve geral de 1985, que, diante da hiperinflação, exigia reajustes trimestrais. “Com apenas dois dias de paralisação, a greve unificada obteve uma significativa vitória. Paramos quase 500 mil assalariados metalúrgicos, químicos, marceneiros, comerciários e outros”, lembrou Vital em sua autobiografia. “Conseguimos bons acordos. No final, na noite de 6 de abril de 1985, os operários fizeram a festa.” No mesmo ano, Vital foi um dos fundadores e o primeiro presidente do CES (Centro de Estudos Sindicais).
As correntes que compunham o Sindicato dos Metalúrgicos voltaram a se dividir em três chapas nas eleições de 1987. A Chapa 1 era liderada por Luiz Antônio de Medeiros, sucessor de Joaquinzão na presidência da entidade e expoente do “sindicalismo de resultados”. A chapa 2, apoiada pelo PCdoB, tinha à frente Lúcio Bellentani, nome conhecido na categoria por ter sido preso e torturado em plena fábrica da Volks de São Bernardo do Campo, em 1972. A Chapa 3, cutista, desta vez corria por fora. A divisão, uma vez mais, beneficiou a situação, que manteve a direção do sindicato, apesar de a Chapa 2 ter tido 25 mil votos no segundo turno.
Mas a inconteste projeção de Vital levou o PCdoB a indicá-lo como candidato a vereador na eleição municipal de 1988. Era o primeiro pleito à Câmara Municipal de São Paulo desde que o Partido Comunista do Brasil havia reconquistado, em 1985, a legalidade. Vital, mesmo fora da direção do Sindicato, continuava influente nas bases – ele fora eleito vice-presidente da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) da Metal Leve, no primeiro semestre de 1988, com 1.707 votos.
Já na disputa municipal, a última a prever um só turno, a ser disputado em 15 de novembro daquele ano, o PCdoB se coligou com PT e PCB, apoiando a candidatura da deputada estadual petista Luiza Erundina à Prefeitura de São Paulo. Vital não vislumbrava a própria vitória, já que a prioridade da direção do PCdoB, na eleição à Câmara Municipal, era garantir uma vaga para o jovem Aldo Rebelo, ex-presidente da UNE (1980-1981), além de fundador e primeiro coordenador da UJS (1984-1985).
Porém, com o fenômeno Erundina, eleita prefeita surpreendentemente, a coligação conquistou 18 das 53 cadeiras de vereadores em São Paulo. Com o lema “Vital, um metalúrgico de luta”, o líder operário do PCdoB terminou a votação na segunda suplência. Como dois parlamentares eleitos – Tereza Lajolo e Juarez Soares – viraram secretários municipais, ele assumiu como vereador desde o início da legislatura. Em 1992, foi reeleito, mas o mandato passaria a integrar a oposição, devido à vitória do “filhote da ditadura” Paulo Maluf à prefeitura. A seu lado, passando a compor a bancada do PCdoB, estava a assistente social e líder comunitária Anna Martins, uma amiga e camarada de mais de 20 anos.
Conforme lembra Wander Geraldo, é “graças, sobretudo, ao voto de operários e de outras categorias” que Vital exerce o cargo de vereador por dois mandatos (1989-1996). “Foi de sua autoria a lei que criou o ‘passe livre’ para trabalhadores desempregados. O mandato também realizou uma memorável homenagem ao líder sul-africano Nelson Mandela, que veio especialmente a São Paulo e participou da sessão solene”, registra Wander. Na ocasião, por iniciativa de Vital, Mandela recebeu o título de “cidadão paulistano”.
O vereador do PCdoB também esteve em momentos importantes do Legislativo paulistano, como a construção da Lei Orgânica Municipal, em 1990, no rastro da aprovação da “Constituição Cidadã” de 1988. Presidiu a CEI da Merenda, uma Comissão Especial de Inquérito que investigou desvios de recursos públicos destinados à merenda escolar. Foi relator da CPI das Ossadas de Perus, que denunciou a existência de 1.049 restos mortais de desaparecidos políticos da ditadura no Cemitério Municipal Dom Bosco.
A despeito da atuação parlamentar combativa, Vital não conseguiu o terceiro mandato em 1996, embora tivesse sua maior votação em três eleições à Câmara: 13.553 votos. Assumiu o cargo posteriormente, em algumas ocasiões, com a licença de vereadores eleitos. De todo modo, aos 50 anos, passou a assumir tarefas partidárias de maior relevo. Já era membro do Comitê Central (CC) do Partido desde 1992. Em 1997, assumiu a presidência do PCdoB São Paulo, na qual permaneceu por apenas três meses, porque seria indicado a uma tarefa nacional: comandar a Secretaria de Movimentos Populares e Sociais do CC. Ele ainda concorreu a deputado federal em 1998 – sua última eleição a cargos parlamentares.
Em 2001, Vital participou da comissão de busca dos desaparecidos do Araguaia. O 10º Congresso do PCdoB, no mesmo ano, foi marcado pela transição na presidência – de João Amazonas para Renato Rabelo. A nova direção comunista, liderada por Renato, confiou a Vital o cargo de secretário nacional de Finanças em 2003. Foram dez anos à frente da tesouraria partidária – e uma conquista em especial: a aquisição, em 2008, de uma sede própria para o PCdoB, na região da República, em São Paulo.
Um ano após Vital deixar o secretariado nacional, o Partido lhe fez um merecido tributo, em cerimônia realizada justamente na sede que ele ajudara a viabilizar. A data era 3 de maio de 2014. “Recebi a homenagem mais emocionante da minha, prestada pelo PCdoB, por meus 50 anos de militância política ininterruptos”, disse Vital em sua autobiografia. “Recebi de presente um quadro com a foto da sede nacional do Partido.”
De 2015 a 2021, o líder operário respondeu pela Secretaria de Movimento Sindical do PCdoB São Paulo. Desde 2008, era, ainda, membro do Conselho Curador da Fundação Maurício Grabois. De acordo com Vital, o AVC (Acidente Vascular Cerebral) que ele viria a sofrer na década passada lhe impôs uma certa “perda de energia”. Mas a vontade era de não interromper a militância. Suas memórias foram publicadas em 2016, no livro Vital Nolasco – Vale a Pena Lutar, que teve como subtítulo Minha Vida na Ação Popular (AP) e no Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O texto, narrado em 1ª pessoa, foi organizado pelo jornalista Osvaldo Bertolino e publicado em parceria pela Fundação Maurício Grabois e pela Editoria Anita Garibaldi.
Sobre a reta final da vida, Vital pontuou: “Enquanto eu tiver condições, quero continuar contribuindo com o Partido e ajudá-lo para que a gente possa ter um país livre das injustiças, da opressão, da exploração, um país democrático e progressista, um país socialista”. Mas a crise imposta pela pandemia de Covid-19 obrigou Vital a desacelerar. Em 2021, mais recluso, cumpriu o último de seus 29 anos como membro da direção nacional do Partido. No PCdoB São Paulo, deixou a Secretaria de Movimentos Sociais, permanecendo na Comissão Política.
As palavras finais de sua autobiografia servem como testamento político de uma trajetória militante singular. “Tudo que sou devo, além da minha formação familiar e da experiência de vida, ao PCdoB, que me ensinou o valor do humanismo e da solidariedade. Não tenho nenhum arrependimento”, comentou Vital. “Se pudesse voltar atrás, faria tudo de novo; claro que corrigindo alguns detalhes. Diria que valeu e vale a pena lutar.”