"Encontrando os desaparecidos de Mariupol", diz a legenda em inglês. À direita, o jornalista Patrick Lancaster ampara moradora

“Que vida pode haver sem uma casa? Todas elas pegaram fogo, as garagens queimaram. Tudo queimou. Nós fomos bombardeados pelo Exército ucraniano”, contou um civil que está escondido em um abrigo antibombas em Mariupol, na região de Donetsk.

O jornalista independente Patrick Lancaster colheu depoimentos de diversas pessoas e famílias em Mariupol. Os relatos mostram que o exército ucraniano não estava permitindo que os civis deixassem a cidade.

Em um abrigo antibombas construído no período soviético estão escondidas dezenas de pessoas. As pessoas contaram que suas casas foram bombardeadas pelos próprios militares da Ucrânia, que estavam atuando a mando do grupo nazista Batalhão Azov.

“Você disse ucranianos?”, se certificou Patrick.

“Ucranianos!”, respondeu o civil. “Isso aconteceu antes mesmo da Rússia aparecer aqui. Se fosse a Rússia, eu diria para você, mas foi a Ucrânia”.

“Como você sabia que eram ucranianos?”, questinou o correspondente de guerra.

“Eles tinham braçadeiras azuis e bandeiras ucranianas”, relatou um homem. Segundo ele, os bombardeios começaram antes que de qualquer tropa da República Popular de Donetsk ou da Rússia serem vistos nos arredores da cidade.

Uma senhora entrevistada por Patrick Lancaster, chamada Olga Vladimirovna, disse que “não entende porque” os militares ucranianos bombardearam a cidade e atiraram em compatriotas.

“Nós não sabemos porquê. Nós sempre nos consideramos ucranianos. Você vê? Nos contaram que o Batalhão Azov conseguiram influência sobre as Forças Armadas da Ucrânia”, disse.

“Eu não sei porque bombardear um território onde cidadãos ucranianos estão e não sei porque as tropas que as tropas que são chamadas para nos proteger estão nos bombardeando”.

O Batalhão Azov é um dos diversos grupos nazistas da Ucrânia que persegue e massacra a população de Donetsk por ser russófona e reivindicar autonomia.

Segundo essa senhora, o Batalhão Azov começou a tomar conta das ações do conjunto das Forças Armadas da Ucrânia com o passar da guerra.

“No começo, eles estavam até conduzindo operações militares entre si. Depois disso, tudo foi controlado pelo Azov. Eles não nos deixaram sair e isso é um fato! Nós não podíamos evacuar daqui”, contou.

Nazistas ucranianos impediram retirada de civis

Essa mesma senhora contou que um grupo de médicos, acompanhados de suas famílias, tentou deixar Mariupol mas os ucranazis não permitiram.

“Nossos médicos tentaram sair, mas os milicianos ucranianos não deram a chance de atravessar o bloqueio” em uma ponte, disse.

“Médicos em oito carros tentaram evacuar junto com suas famílias. No momento em que estavam saindo, eles passaram sobre a ponte [que estava bloqueada pelos ucranianos] e eles disseram ‘voltem, nós não vamos deixar ninguém sair”.

Depois, os médicos tentaram sair por outro lugar da cidade. Os milicianos ucranianos “fizeram a mesma coisa, apontando uma arma para os médicos e dizendo ‘voltem, nenhum de vocês está autorizado a sair’”.

A senhora ainda contou que as ambulâncias que estavam sendo usadas para transportar feridos para os hospitais da cidade foram sequestradas pelos azovistas. O transporte de feridos e suprimentos estava acontecendo somente através de voluntários.